Estávamos esperando para fazer esse post sobre Budapeste somente depois de nossa segunda viagem à Hungria, justamente HOJE, dia 7 de maio de 2020. Passagens compradas ainda no ano passado, roteiro pronto, a saudade e a ansiedade juntinhas… Entretanto, como o cenário para viagens está bastante caótico e não sabemos para quando poderemos reagendar, revolvemos contar já o que vimos e aprendemos por lá da primeira vez. Afinal, viajar na memória é o que podemos fazer agora.
“Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me disse que somos feitos de histórias.” (Eduardo Galeano)
Budapeste foi fundada pelos romanos no ano 100 d.C. com o nome de Aquincum (água é o que não falta!), mas foi invadida pelos hunos no século 5 e depois passou por várias mãos até a metade do século XV, quando a Hungria se tornou uma das regiões mais importantes da Europa, sob o comando de Matias Corvino.
A Budapeste de hoje é uma cidade grande (1,7 milhões de habitantes) que foi formada em 1873 pela junção de duas, divididas pelo rio Danúbio, Buda e Peste. Buda, a parte mais alta é também a mais antiga (datando do século I antes de Cristo) e é onde fica o Castelo e onde morava a nobreza húngara. Já Peste é o lado mais plano e também mais moderno da cidade – e quando dizemos moderno, queremos dizer que começou a ser povoado depois de Cristo. Em Peste é que fica o famoso Parlamento.
Fomos para lá a partir de Bratislava, de trem. A viagem dura pouco mais de 3 horas (saímos as 9:55 e chegamos as 12:35) e é bem tranquila. Já na chegada nos vimos em um dos pontos turísticos da cidade, a estação central de trens – Budapest-Keleti.
A estação é muito antiga, de 1884, mas bem conservada e famosa por seus vitrais. Nela chegam trens de todo o país e também de outras localidades como Áustria, Alemanha, República Tcheca, Transilvânia, Zagreb e Belgrado. Budapest-Keleti fica em Peste (na Kerepesi útca 2-4) em Józsefváros, no distrito VIII. Ela tem ligação direta com o metrô, o que facilita bastante.
Onde e quanto ficar?
As principais atrações de Budapeste estão espalhadas por ambos os lados da cidade, quase que igualmente. Entretanto, como em qualquer cidade que se desenvolveu sob uma monarquia, o lado “nobre” da cidade é sempre onde fica o Castelo, assim, como era de se imaginar, Buda é o lado mais caro e Peste é o mais barato para se encontrar uma boa acomodação. Da mesma forma, como a maior parte das atrações se concentra ao longo ou bem próximas ao rio Danúbio, quanto mais perto do rio você quiser ficar, mais vai pagar.
A cidade tem 23 distritos (bairros), kerület em húngaro, e eles são numerados. Os que tem numeração baixa são os mais centrais e já os com números maiores são na periferia. Entretanto não vale se hospedar em Buda (nos distritos I, II ou III), pois embora o Castelo esteja lá, é a área mais residencial da cidade, sem muito apelo pra visitantes. O centro turístico é relativamente pequeno e os distritos mais atrativos são o V (Belváros e Lipótváros), VI (Terézváros) e VII (Erzsébetváros).
Por isso resolvemos ficar em Peste, em Erzsébetváros, o antigo bairro judeu da cidade, a um km do rio e uma quadra da Grande Sinagoga Dohány. Confesso que quatro noites (três dias inteiros) não foram o suficiente para conhecermos tudo… faltou aquele tempinho para perambular por museus sem pressa ou nos perder por ruelas sem lenço e sem documento, como gostamos de fazer. Entretanto, aproveitamos bastante. Por isso nossa recomendação é que você fique pelo menos 4-5 dias na cidade.
Maverick City Lodge
O Maverick fica na rua Kazinczy, 24, onde há vários restaurantes e além de ficar perto da Grande Sinagoga Dohány ele também fica a 4 quadras da rua Andrassy, por onde passam os metrôs. Ou seja, não podia ser melhor. O quarto era bem pequeno, mas bom, novinho e muito limpo. O wi-fi é grátis e a conexão boa. O lobby tem uma sala de estar bem bacana, com TV, puffs, sofá e business centre e a decoração é muito bonita. O café da manhã é no restaurante contíguo e pago à parte (é um pouco caro, 5 euros por pessoa, assim optamos por ele somente uma vez, mas foi gostoso – não é buffet e sim um menu com opções de combos). Um dos pontos fracos, entretanto, é que há uma faculdade quase em frente e à noite há bastante barulho na rua. Como é um hostel mais frequentado pelo público jovem, também há barulho nos corredores e quartos próximos. Fora isso, é muito gostoso, moderno, com funcionários jovens e simpáticos.
Já instalados e com o mapinha na mão, saímos para bater perna. Demos uma volta pelo bairro para um primeiro reconhecimento e já gostamos! Nas redondezas ficam vários dos chamados “ruin pubs” – bares abertos em prédios em ruínas. Esses bares se concentram justamente no 7º distrito – o antigo bairro judeu – em edifícios abandonados depois da Segunda Guerra Mundial, o local ideal para o desenvolvimento da cena underground da cidade.
Eles não tem placas, nem letreiros de neon, música alta e muito menos filas na porta. Por fora são apenas edifícios antigos com fachadas decadentes, entretanto quando a gente entra dá de cara com um ambiente artístico, vibrante e muito colorido – ideal para relaxar, tomar uma cerveja e bater papo. O conceito é super legal e o ambiente alternativo e amigável, inclusive para o público LGBTQIA+, mas não é muito barato. Tudo começou com o Szimpla Kert, que originalmente era uma fábrica de fogões. Ele fica na própria rua Kazinsczy (a do nosso hostel). Fomos lá para conferir. Abre logo a tarde e nos recomendaram visitar cedo porque depois 21h fica lotado.
Dohany Sinagoga e Memorial do Holocausto
A Sinagoga da rua Dohany em Peste não é somente a mais impressionante do país, mas a maior da Europa e a 2ª maior do mundo, abrigando 3 mil pessoas sentadas e 2 mil em pé. Por isso ela é também conhecida como “A Grande Sinagoga”. A arquitetura mourisca é linda e ela está incrivelmente conservada (completou 160 anos no ano passado). Uma curiosidade é que ela foi a primeira sinagoga da história a ser construída em estilo mourisco e depois dela, várias outras seguiram o estilo.
No mesmo edifício fica o Museu Judeu Húngaro e no pátio externo fica o memorial Carl Lutz, o embaixador suíço que salvou 62 mil judeus do holocausto. Junto à uma bonita escultura está a citação do Talmud “Aquele que salva um homem, salva o mundo inteiro”.
A comida húngara
O prato mais tradicional da cozinha húngara é o goulash (ou gulyás). Ele é um ensopado de carne de gado picada, frita bem douradinha com bacon, juntando-se então muita cebola, alho e páprica, um pouco de farinha de trigo e cozida lentamente, por horas. O prato é servido com creme azedo e pão e já era nosso conhecido no Brasil. Tivemos a oportunidade de prová-lo várias vezes durante a viagem e adoramos. A páprica húngara é realmente única! Além do goulash, os húngaros comem bastante cozidos com carne de porco ou frango e embutidos como linguiças defumadas. Também come-se muito pão. Saladas e alimentos crus não são muito populares mas os pratos sempre vem com verduras. A bebida tradicional é a pálinka, uma água ardente destilada de frutas, originária da região dos Cárpatos e produzida também na Romênia.
Gettó Gulyás
Budapeste é uma cidade cara e havíamos notado os altos preços quando fomos ao Gettó Gulyás (Wesselenyi útca, 18) para nosso primeiro jantar. Já havíamos passado por ele algumas vezes, pois ficava próximo de nosso hostel. A atmosfera parecia animada, o restaurante estava movimentado e resolvemos entrar. Fomos surpreendidos com a qualidade dos pratos e com o preço, bem justo para a quantidade de comida. Escolhemos o frango ensopado ao molho de páprica com spaetzle e o goulash de carne. Para beber, uma taça de vinho rosé, uma de cabernet tinto e uma água mineral. Um casal de italianos, que chegou depois de nós, sem saber falar inglês e muito menos húngaro, olhou para nossos pratos e quando o garçom os veio atender apontaram com o dedo sem cerimônia, tão apetitosos estavam! Não pedimos sobremesa, mas tomamos duas doses de licor Baileys. Tudo saiu 7.760 florins, ou seja, cerca de 95 reais. Realmente uma de nossas melhores refeições em Budapeste!
Budapeste de cabo a rabo
Na manhã seguinte, às 9:00, estávamos na rua Bajcsy-zsilinszky, próximo à entrada do metrô, esperando o ônibus vermelho da City Sightseeing Budapest. Compramos o bilhete de 48 horas que sai 45 euros por pessoa – um pouco caro, mas aproveitamos bem os dois dias, que estavam lindos e ainda fizemos o passeio de barco de uma hora, no final da tarde, a que os bilhetes também davam direito.
Valeu a pena porque Budapeste é grande e as atrações não são tão perto umas das outras. Não se pode apenas andar a pé. Não temos nada a reclamar dos ônibus em si, exceto a frequência – os da empresa Big Bus (o ônibus marrom) e o Giraffe (também vermelho) passavam com o dobro da frequência e nas mesmas paradas. Uma coisa boa foi que não estavam lotados e pudemos andar na parte de cima e fazer muitas fotos em ambos os dias. Já conhecendo bem a cidade, no outro dia andamos de metrô mesmo. Recomendamos para quem visita pela primeira vez.
Como já começamos nosso tour em Erzsébetváros a nossa primeira parada foi a nº 2, na Erzsébet Tér, uma praça no centro de Peste que leva o nome da imperatriz mais famosa e amada do país, mais conhecida como Sissi e de lá seguimos para Bélvaros e Lipótváros (o “centro” da cidade). A área em volta é muito bonita. Na região também fica a Deak Ferenc tér, o lugar onde tudo acontece. A praça é um ponto de encontro para caminhadas, piqueniques, festas. No verão é muito movimentada com sorveterias, bares, terraços e restaurantes. É também o ponto onde todas as linhas de metrô se encontram.
A parada seguinte, a nº 3, é a rua mais chic da cidade – a Andrássy útca (útca = rua). Ela é uma espécie de Champs-Élysées de Budapeste. Ao longo dos seus 2 km ficam lindos prédios em estilo neorenascentista, marca registrada do império austro-húngaro. Andar por ali admirando as incríveis fachadas do século XIX é delicioso. Esses edifícios pomposos, onde antigamente moravam os endinheirados da cidade, hoje abrigam lojas de grife e redes varejistas internacionais. As marcas mais caras e famosas da moda como Armani e Gucci instalaram-se lá, o que certamente banaliza e torna comercial o valor da arte. Um ponto a favor, entretanto, é o ótimo estado de conservação dos prédios.
Parar em frente para tirar fotos delas é obrigatório! São realmente edifícios lindos, com suas Cariátides e Atlas sustentando os pórticos das entradas. Para olhos sensíveis, tornam-se invisíveis e banais as bolsas, sapatos, ternos e vestidos… Museu a céu aberto… e gratuito!
A 4ª parada do tour é a Magyar Allami Operaház, a Ópera Nacional Húngara (também na Andrassy útca). Construída por ordem do imperador no final do século XIX, ela era chamada antigamente de Ópera Real. O edifício, em estilo neorenascentista, conserva suas características há 130 anos e realmente chama atenção de quem passa por ele.
Mas é por dentro que ela impressiona. A visita é guiada e paga (5 euros por pessoa) e não dá direito a fotos (se quiser tirá-las é preciso pagar outra taxa de 2 euros por máquina/celular, em separado). É possível também ver um pequeno concerto, no final da visita guiada, mas também é pago à parte (2,50 euros por pessoa).
Assim, se como nós você já visitou a Ópera Garnier, em Paris, ou a Scala de Milão, pode apenas apreciar o hall de entrada e as escadarias, onde as fotos são permitidas. Na entrada há várias estátuas, entre elas a do grande compositor húngaro, Liszt. Nós passamos por ela com o ônibus turístico e resolvemos voltar e entrar no dia seguinte. Os filmes O Fantasma da Ópera e Operação Red Sparrow foram rodados ali.
O ônibus segue pelo bairro de Terézváros até a Liszt Ferenc Tér – a praça (tér) que tem uma estátua do compositor. Liszt é um dos grandes orgulhos húngaros, pois ele se tornou um dos maiores músicos clássicos da história. Essa é a 5ª parada. Não descemos nela e fomos direto para a 6ª, a Praça dos Heróis (Hősök tere), no final da avenida Andrássy, perto do parque da cidade. A praça é muito ampla e o maior atrativo é o monumento do Milênio, construído em 1896 para celebrar os mil anos da Hungria. Foi nessa parada que descemos para ir ao Castelo de Vajdahunyad no dia seguinte.
As paradas 7 e 8 são o New York Café, considerado o café mais bonito do mundo e o Eastern Hotel Hungaria, em Erzsébetváros, mas o mais famoso é o da parada 9, o Hotel Astoria, inaugurado em 1914 e ainda em funcionamento. Ele possui 138 quartos e foi cenário do filme “Being Julia”, com Annette Bening e Jeremy Irons, dirigido pelo húngaro István Szabó. Na sequência o ônibus deixa Peste e atravessa a Ponte István Széchenyi para o outro lado do rio Danúbio, para Buda.
A István Széchenyi, conhecida também como Chain Bridge, é a primeira ponte permanente de pedra a ligar Peste a Buda e foi inaugurada em 1849. Pode-se atravessá-la a pé (tem 375 metros). Dela também se tem uma vista linda do rio para fotos. Nós a atravessamos com o Tour Bus na ida, e a pé na volta. Antigamente quem vinha de Peste tinha que dar a volta no morro do Castelo de Buda para seguir em frente, entretanto em 1856 foi inaugurado um túnel de acesso direto.
Finalmente chegamos à parada 10 do tour, o Funicular que leva ao topo do morro e ao Castelo de Buda. Quando chegamos à Szent György tér, a praça em frente ao Buda Hill Funicular, já havia uma fila imensa para comprar o bilhete e não havia funcionários da empresa organizando para que as pessoas não “furassem”. Esperamos bastante, mas conseguimos comprar os tickets. Cada carrinho comporta um número adequado de pessoas. Por sorte conseguimos embarcar no carrinho da frente e tivemos uma ótima vista da subida! O bilhete de subida e descida custa 1.800 florins por pessoa – cerca de 22 reais. De lá de cima vai-se ao Castelo, à Igreja de São Matias e ao Bastião dos Pescadores, à pé.
Castelo de Buda
Chegamos finalmente ao Castelo, que estava muito movimentado, sendo um dia ensolarado. Ele é realmente imenso, um complexo com ruelas de paralelepípedos que conta com jardins, escadarias, pórticos imponentes e diferentes edifícios que abrigam atualmente o Museu Nacional, a Biblioteca Nacional e também a Galeria Nacional de Arte. Cada entrada é paga em separado (além do ticket da entrada principal). O portal de entrada é imponente e há também uma fonte muito bonita antes de se entrar para a ala dos apartamentos reais.
Quando fomos havia também um stand de arco e flecha que por 5 euros dava direito a três tiros. O Ede se divertiu muito com a brincadeira e, algumas tentativas e 10 euros depois, conseguiu até acertar alguns! O Castelo ainda tem terraços fantásticos de onde se tem uma vista privilegiada de Budapeste com a Erzsébet híd e o Parlamento ao fundo. De lá fomos a pé à Igreja de São Matias e ao Bastião dos Pescadores. Trata-se de um programa para um dia inteiro – não tenha pressa!
Curiosidade: O Castelo de Buda é cenário frequente de filmes e séries famosas. Lá foram filmados Drácula de Bram Stoker, Os Borgias, Inferno, Missão Impossível – Protocolo Fantasma, Hellboy 2, Pilares da Terra, Hércules, Inferno Vermelho, entre outros.
Igreja de São Matthias
De longe a gente já enxerga a alta torre branca da linda igreja de São Matthias (Mátyás-Templom Torony) na Szentharomsag tér. A original, da qual não restou nada, teria sido erguida em 1015 por São Estêvão, que foi rei da Hungria, mas foi totalmente destruída pelos mongóis. A construção atual é do final do século XIII e teve várias restaurações e modificações ao longo do tempo. Durante a Segunda Guerra Mundial ela também foi bastante danificada pelos alemães e pelos soviéticos, mas foi totalmente recuperada pelo governo húngaro. Os trabalhos de restauração duraram décadas e só terminaram em 2013. Tendo sido cenário de várias coroações, inclusive a do último rei húngaro, ela é realmente imponente, toda branca e com um telhado maravilhoso e muito colorido. Um ícone de Budapeste!
Bastião dos Pescadores (Halaszbastya)
O Bastião dos Pescadores (Szentháromság tér) foi construído no século XIX para servir de Torre de Vigia, continua servindo seu propósito até hoje! Só que em vez de guardas, são centenas de turistas todos os dias! A vista de Peste a partir de suas torres é lindíssima. Uma delas é paga, a outra não. A diferença de vista entre ambas é mínima, portanto não é vantagem pagar. Após termos andado a manhã inteira pelo Castelo de Buda e visitado a magnífica Igreja de São Matias, estávamos cansados e com fome, assim, ali mesmo, paramos para almoçar no Café do Terraço. Comemos penne com molho parmesão e uma salada Ceasar e tomamos coca-cola e cerveja, tudo saiu por 8.859 florins – achei bem caro, mas, dada a localização, valeu a pena, pois nos rendeu ótimas fotos.
Monte Géllert
Passamos ainda pelo monte Géllert e em frente aos famosos Banhos Turcos de Budapeste. Não descemos porque queríamos aproveitar para conhecer o máximo da cidade, mas certamente vale a pena experimentar para relaxar em um deles se você tiver bastante tempo na cidade. Não são baratos, mas são muito lindos! Só as fachadas já impressionam! O mais famoso é o Termas Géllert, um complexo de piscinas e banhos construído em 1912. Ele foi destruído durante a 2ª Guerra e reconstruído no mesmo local. Na verdade, desde o século XII já há registros de banhos instalados ali, pois considerava-se que as águas termais de Géllert eram milagrosas e até mesmo um hospital funcionou lá durante a idade média.
De volta à Peste com o hop on & off bus descemos na parada nº 4 (Ópera) e seguimos a Andrassy útca para visitar a Szent Istvan Bazilika e passear à pé pelos arredores.
Szent Istvan
A Basílica de Santo Estêvão, na Szent Istvan tér 1, domina o cenário devido ao seu tamanho e imponência. Quando entramos a sensação é de termos encolhido, tamanha a grandeza e a beleza. O altar é maravilhoso e imenso, todo em mármore rosa, branco e detalhes dourados. Há lindas capelas e a cúpula é realmente magnífica. Os vitrais são outra atração.
As relíquias do santo estão lá também. Santo Estêvão morreu apedrejado por defender a fé cristã e foi o primeiro mártir de toda a história católica. Seus restos mortais foram encontrados no ano 415, próximo a Jerusalém. A festa de Santo Estêvão é celebrada sempre no dia seguinte ao Natal, 26 de dezembro e ele é cultuado por ambas as igrejas católica romana e ortodoxa.
Ferenciek tere – Bélvaros
Demos ainda uma boa volta à pé pela Ferenciek tere, a praça de São Francisco, bem no centro de Peste (a região chamada Bélvaros). Além de ser o local de uma importante estação na linha M3 do metrô, é um grande entroncamento de lindas avenidas e ruas de pedestres como a Váci útca, uma rua de compras com muitos edifícios bonitos e clássicos que abrigam lojas como a Zara, H&M, Mango, Lacoste, Hugo Boss, e outras, além de restaurantes chiques. Arquitetura fantástica, para passar horas clicando e admirando!
Na Ferenciek tere também fica a Belvárosi Ferences Templom (Igreja de São Francisco, que dá nome à praça – Ferenciek = Francisco), de 1743. Entramos para descansar um pouco e para conhecer. Não é luxuosa, mas é muito bonita por dentro.
Caminhando pela Váci útca no fim do dia sentimos um cheirinho gostoso vindo de uma banquinha. Fomos conferir! Deliciosas tiras de pão doce assado na brasa, passado na manteiga e no açúcar – isso é o famoso Kürtőskalács que se encontra em vários lugares de Budapeste, pois dizem ser originário da Hungria, embora o tenhamos visto bastante na Romênia e também na República Tcheca.
Alguns locais inventam moda e o servem com sorvete dentro ou com coberturas diferentes, mas nada se iguala ao original. É uma delícia! Ainda mais quentinho! O nome é um pouco difícil de pronunciar (algo como “kurtosh kálaks”), mas pode-e pedir somente um “kurtosh”. Compramos os nossos e saímos comendo…
Buddha Bar Hotel
O Buddha Bar é uma franquia que inclui bar, restaurante e hotel 5 estrelas. Foi criado pelo empresário franco-romeno Raymond Vișan e pelo DJ e designer de interiores Claude Challe. Ele começou em Paris em 1996 e logo abriu em outras cidades como Budapeste, Praga, Londres, Marrakesh, Beirut, Cairo, Dubai, Kiev, Moscou, São Petesburgo, além das ilhas Mykonos e Santorini na Grécia e outras. O lugar tornou-se um hit entre os turistas estrangeiros ricos e yuppies que visitavam a cidade.
O bar ficou conhecido mundialmente por ter popularizado o estilo “lounge music” com coletâneas muito ecléticas – as preferidas dos DJs avant-garde. Em 1999 um álbum que compila essas coletâneas foi lançado e em 2001 ele ficou entre os top 10 da Revista Billboard. Algumas músicas exclusivas também faziam parte dos álbuns como “Buddha Bar Nature”, “Buddha Bar Ocean” , “Amor Amor” e “Amanaska“ compostas por Arno Elias.
Claro que, não sendo ricos e muito menos yuppies, não nos hospedamos e nem jantamos lá… mas a gente já ficou feliz em passar em frente, tirar umas fotos e conhecer um dos locais que inspirou a longe music.
Astor Food Room
Passamos pelo Astor Food Room várias vezes e estava sempre bem movimentado. Resolvemos entrar para jantar um pouco mais cedo, enquanto ainda havia muitos lugares. Pedimos o pato rosé e um goulash. Para acompanhar duas taças de vinho tinto. O pato estava gostoso, mas um pouco duro e embora o prato tradicionalmente venha com a carne bem pouco cozida (rosé = rosado, ou seja, não é bem passado), deveria ser macio. Os acompanhamentos e o molho de frutas vermelhas estavam bons. O Ede se deu bem, pois pediu um goulash bem gostoso, embora já tivesse comido melhores e certamente bem mais baratos. O ambiente é bastante agradável e os garçons são rapazes bonitos e eficientes, mas não particularmente atenciosos. Ele é bem decorado e bacana por dentro, bem localizado (fica na Károly krt. 1), próximo ao hotel Astor, mas pode-se comer bem melhor em pequenos bistrôs no bairro judeu.
Parlamento (Orszagház)
No dia seguinte pegamos novamente o Hop on & Off (afinal havíamos comprado o bilhete para 48hs) e descemos próximo ao Parlamento, na Kossuth Lajos tér 1-3 (parada nº 14). Com 96 metros de altura o Parlamento reina na paisagem de Budapeste. Inclusive, nenhum edifício na Hungria pode ter mais de 96 m (o número é uma referência à formação do Reino Húngaro no ano de 896). Seja visto a partir do Castelo de Buda, do passeio de barco pelo Danúbio ou ao visitá-lo, a imagem é sempre majestosa, durante o dia ou à noite. Inaugurado em 1896, o Országház é o maior edifício da Hungria e o segundo maior parlamento da Europa, com 700 salas.
Os jardins também são lindos e quando fomos estavam floridos com lavanda. Optamos por não visita-lo por dentro porque queríamos aproveitar o lindo dia de sol para passear de barco pelo Danúbio, mas certamente vale fazê-lo se você tiver tempo. Depois de passear bastante pela esplanada do Parlamento e tirar fotos de todos os ângulos possíveis e imagináveis fomos andando pela orla do rio Danúbio, pela Id. Antall Jozsef rakpart, em direção à Ponte Széchenyi Lánchíd.
Memorial “Sapatos às Margens do Danúbio”
Muita gente quando visita não tem a menor ideia do que o memorial representa, pois não se informa antes de viajar. Uma pena. Sim são apenas pequenos sapatos de ferro, mas eles homenageiam as vítimas (muitas de origem judaica) que foram executadas e tiveram os corpos jogados no rio Danúbio durante a II Guerra Mundial, principalmente os que foram fuzilados coletivamente no inverno de 1944. O rio Danúbio era conhecido em Budapeste naquela época como “o Cemitério Judeu”. Não poderia ser uma homenagem mais singela e significativa. Quando visitamos havia várias flores e também algumas velas deixadas por pessoas para as quais os 60 sapatos realmente representam vidas. Achamos muito comovente. O memorial conhecido somente como “Sapatos às margens do Danúbio” fica na Id. Antall Jozsef rakpart , na margem direita do rio, entre as praças Roosevelt tér e Kossuth tér.
A Hungria foi ocupada pela Alemanha Nazista em 19 de março de 1944. Entre 15 de maio e 9 de julho mais de 434.000 judeus húngaros foram transportados em 147 trens pelas forças nazistas, a maioria para Auschwitz, onde cerca de 80% foram mortos logo após a chegada.
Passando a Ponte Széchenyi Lánchíd e chegando próximo do embarcadouro há vários restaurantes bacanas e já estávamos com bastante fome e bem cansados de caminhar desde o Orszagház e percorrer o Danube Promenade de cabo a rabo…. foi uma boa pernada! Assim nem escolhemos muito… o que queríamos era comer bem e uma linda vista do Danúbio para relaxar sem pressa.
Dunacorso Étterem
Almoçamos no restaurante Dunacorso (Vigadó tér 3), pois achamos o ambiente bem agradável, com mesas ao ar livre. Descobrimos depois que o lugar é muito tradicional, pois abriga restaurantes desde 1870. Este, em específico, pertence a mesma família há 40 anos. Como já esperávamos, os preços eram um pouco altos, por conta da localização privilegiada, mas a comida estava muito boa e o serviço foi rápido e eficiente. Comemos um frango com molho de páprica, acompanhado de spaetlze e um filet de peixe com aspargos, que veio com uma espécie de tortilla de batatas. O primeiro prato era bem servido, já o segundo não era generoso. Pedimos também uma taça de vinho da casa para cada um e uma garrafa de água mineral. Os pratos custaram 3.490 e 4.690 florins e o que encareceu bem a conta foi o vinho (1290 florins cada taça). Dica: se gostar, peça cerveja!
Hop non & off Boat Ride
A vantagem de termos comprado o ticket de 48 horas do ônibus de turismo foi que ele dava direito a um passeio de barco pelo Danúbio. Assim, depois de almoçar tranquilamente no Dunacorso fomos ao embarcadouro procurar o nosso barco. Ele não era luxuoso, mas bem espaçoso e uma guia com um microfone ia explicando os principais pontos ao longo do percurso. Como o dia estava ensolarado conseguimos tirar lindas fotos! O passeio é rápido – cerca de 50 minutos apenas, mas vale a pena. O melhor ângulo para se fotografar o Parlamento é justamente de dentro do barco. A parada para descer e pegar o barco é número 13 , na Március 15 Tér, dock º 10 (abaixo da Ponte Elisabeth).
Danube Promenade
Um dos passeios mais agradáveis que fizemos em Budapeste foi andar pelo calçadão ao longo do rio Danúbio (Dunakorzó, em húngaro), apreciando o Castelo de Buda do outro lado e tirando fotos das lindas estátuas de bronze que encontramos ao longo do trajeto.
Kiskirálylány (a Princesinha)
A estátua em bronze de Kiskirálylány é uma obra do premiado artista Lásló Marton que se inspirou em sua filha mais velha, Évike, para realizar a obra. A menina costumava brincar de “Princesa” no bairro de Tabán, logo abaixo do Castelo de Buda, usando um roupão de banho como manto e uma coroa feita de jornal. A estátua original está na Galeria Nacional Húngara e uma cópia é essa que hoje está nas margens do rio Danúbio (do lado de Peste – de onde se pode ver o Castelo de Buda), sentada sobre as grades dos trilhos de trem. A estátua é linda e as fotos são muito concorridas!
Kutyás lány (Menina com o cão)
Na Vigadó Tér, à beira do rio, há ainda a estátua em bronze da menina brincando com seu cão. Ela fica bem em meio à praça e é uma obra do escultor húngaro Raffay Dávid instalada em 2007.
Ignác Roskovics
Outra estátua legal é a de um homem com um cavalete de pintura. Ignác Roskovics, um famoso pintor húngaro. Na verdade, ele nasceu em Bratislava, mas passou a maior parte de sua vida em Budapeste. A obra é do escultor ucraniano, Mihajlo Kolodko. Ela está posicionada de forma que a gente tem a impressão de que ele está pintando quem passa à beira rio.
Dica: Verão, calor danado, andando muito… para sair um pouco do sorvete a gente se esbaldava nos morangos! Gordos, doces e saudáveis, vendidos em banquinhas pela cidade e bem baratinhos…
As floriculturas também estavam lindas! Viajar na primavera ou no verão faz toda a diferença!
Bite Bakery Café
Após andar para cima e para baixo, bateu aquela vontade de tomar um café gostoso no fim do dia e não hesitamos em entrar no Café Bite, na Terez Kurut, 62, em frente à Estação de Trens. Ele nos pareceu simpático e muito aconchegante. O atendimento foi ótimo e a nossa garçonete falava muito bem inglês e era uma simpatia, logo puxando uma conversa animada conosco. Tomamos dois lattes grandes e comemos dois rolinhos de canela, também grandes e deliciosos. Tudo saiu por 1.420 florins e o Café Bite ainda tinha wi-fi grátis. Adoramos!
Goamama
Último dia na cidade, andando pelo nosso bairro (Erzsébetváros) encontramos o Goamama, um pequeno e simpático Café na Király útca, que nos chamou a atenção pela decoração e pelo menu. Revolvemos entrar e tomar nosso café da manhã lá. Ótima escolha! O lugar é muito descolado e também tem peças lindas de louças e objetos de muito bom gosto para vender.
Depois do café, como já não tínhamos mais transporte “grátis” no hop on & off bus (que valia só para 48 horas), resolvemos pegar o metrô para ir até a estação da Praça dos Heróis (Hősök tere), a que nos daria acesso ao Castelo de Vajdahunyad. A experiência foi inusitada, mas deu tudo certo! Os bilhetes são comprados em máquinas em frente às estações e embora os menus sejam em húngaro há tradução para o inglês. As estações são muito antigas, mas bem limpas.
Outra maneira de se locomover pela cidade é com o bonde, que passa por vários dos pontos principais de Peste. Não os testamos, mas os vimos passar com frequência, o que é bom. Além de que são muito charmosos!
Passamos nosso quarto e último dia em Budapeste passeando pelo Varosliget, o parque central da cidade, que é maravilhoso e onde fica mais um lindo castelo, o Vajdahunyad. É um passeio demorado e por isso muitas vezes fica de fora dos roteiros turísticos mais populares. Entretanto, sugerimos fazê-lo se você tiver tempo e pegar dias de sol, como foi o nosso caso. Um programa barato e muito relaxante, principalmente depois da correria para ver as atrações mais importantes. Ele foi tão especial que mereceu um post só para si, confira: Castelo de Vajdahunyad
Kazimir
O Kazimir ficava muito perto de nosso hostel (Kazinczy u. 34) e passávamos sempre por ele. Em nossa última noite em Budapeste resolvemos comer lá, logo no começo da noite, para poder fazer uma última caminhada depois e dizer adeus à cidade. Tendo almoçado tarde, não estávamos com muita fome, assim, pedimos o queijo grelhado com salada, que estava realmente delicioso (é uma fatia grossa de queijo coalho grelhado e temperado) e também um espetinho misto (com carne de porco, linguiça, bacon e pimentões), também muito gostoso. Para beber, uma taça de vinho da casa e uma coca cola. O menu traz as opções também em inglês, o que facilita muito. Tudo saiu por 6.555 florins, cerca de 80 reais. Adoramos!
Nossa última noite na cidade, depois do jantar, um passeio à noite pelas ruas da cidade e sua linda arquitetura para nos despedir.
A noção de luxo é muito subjetiva e depende dos valores de cada um. Se no mundo capitalista de hoje, muita gente associa luxo a joias, roupas de marca e casas com mais cômodos do que realmente necessitamos, para nós, luxo é poder admirar livremente belezas como essa!
E com lindas memórias históricas, gastronômicas e afetivas, deixamos a Hungria no dia seguinte, esperando voltar… E ainda voltaremos!!!
Veja também:
Sarajevo – a Jerusalém da Europa
Sarajevo e a Guerra Civil Iugoslava