O Castelo de Bran é conhecido como o Castelo de Drácula em memória do príncipe romeno Vlad Țepeș, que inspirou o livro do escritor irlandês Bram Stoker. Hoje uma das atrações mais populares da Romênia, ele foi construído no século XIII no alto de uma colina solitária, por isso se destaca na paisagem e alimenta as lendas de lobos uivantes e morcegos batendo as asas ao luar.
“Eu li que todas as superstições do mundo concentram-se aos pés dos Cárpatos, como se ali fosse o centro de um turbilhão imaginativo; se for assim minha estada poderá ser muito interessante” (Drácula, Bram Stoker – 1897)
Como chegar
Em nosso quarto dia na Romênia estávamos planejando ir de trem para Sinaia no dia seguinte, visitar o Castelo de Peleș, voltar e ainda pegar um ônibus para Bran. Conversando com o Ionut, um romeno muito legal que conhecemos no Rope Street Museum em Brașov, ele nos convenceu de que o inverso seria melhor, pois a visita a Bran é bem rápida e o ideal é chegar cedo para evitar as grandes filas. Papo vai, papo vem, descobrimos que ele falava um pouco de português, pois por alguns anos trabalhou em cruzeiros e sempre que os navios aportavam no Rio de Janeiro aproveitava para descer. De volta à Romênia, ele hoje trabalha no museu e com turismo. No fim das contas perguntamos se não faria o passeio conosco no dia seguinte e ele topou! Saiu um pouco mais caro do que se fôssemos por conta? Sim. Valeu a pena? Sim!
A cidade de Bran fica a somente 24 km de Brașov, portanto, se você quiser ir por conta, como era nosso plano inicial, sugerimos ir até Auto Gara 2 (estação de ônibus). Ela fica um pouco fora do centro da cidade, mas você pode chegar lá pegando o ônibus número 41 na Livada Poștei (a parada central de ônibus metropolitanos). O ticket você compra nos quiosques do outro lado da rua e custa 5 lei (ida e volta). Uma vez na Auto Gara 2 é só esperar o ônibus que diz Castelul Bran e pagar a passagem direto para o motorista. Ela custa 8 lei por trecho (ida/volta). Os ônibus saem de hora em hora e na chegada param a cerca de 700 metros do Castelo.
A dica aqui é chegar ao Castelo de Bran assim que abre, pois a fila para comprar o ingresso é imensa, principalmente no verão, quando fomos. Deixe para tirar fotos da parte externa na saída! A entrada custa 40 lei por pessoa (leve em dinheiro e já a quantia certa, para agilizar). Se quiser, pode comprar os ingressos com antecedência pelo site (mesmo assim terá que enfrentar uma filinha para validar o código de barras do voucher na entrada e você não poderá se atrasar!). Os horários de funcionamento também variam conforme a estação, portanto é bom conferir.
Dica: quando terminar o tour, se o dia estiver bonito e tiver tempo, aproveite para passear pela parte externa do Castelo. Muita gente compra um lanche e faz um piquenique nos jardins!
O filho do dragão
Se, como nós, você leu o livro e viu os filmes uma dezena de vezes irá se perguntar: mas quem foi Drácula? Ele existiu mesmo? Mito, lenda, ou há um fundo de verdade? As respostas a essas perguntas a gente aprendeu na visita e compartilha aqui!
“Não deixarei que você penetre o desconhecido sozinho” (Drácula, 1897)
O príncipe Vlad Țepeș (Vlad III) nasceu em 1431, em Sighișoara, e governou a Valáquia (grande parte da atual Romênia). Segundo filho de Vlad II, ele aprendeu a ler e escrever e estudou línguas, além do manejo de armas, algo muito importante para um membro da nobreza. Nessa época, a Romênia estava dividida entre o mundo cristão e o império otomano (turco muçulmano). O pai de Vlad Țepeș era membro de uma sociedade cristã romana chamada Ordem do Dragão, criada por nobres da região para defender o território da invasão dos turcos. Por isso Vlad II era chamado de Dracul (dragão) e seu filho, Vlad Țepeș, passou a ser chamado Draculea (filho do dragão).
Em 1442 o menino Vlad Țepeș foi levado pelos turcos como refém a fim de garantir a lealdade de seu pai. Entretanto, em 1447 a Valáquia foi invadida e tanto seu pai como o irmão mais velho, Mircea, foram mortos. Ele então voltou para casa em 1448, como o príncipe Vlad III, para governar o território sob ordens turcas. Mas não demorou muito para que ele se rebelasse e vingasse a morte de sua família. Țepeș ficou conhecido pela barbárie com que tratava seus inimigos e diz-se que costumava empalar as vítimas. Entretanto, diferente do que a maioria pensa, na Romênia Draculea é tido como um herói cristão que lutou para proteger sua terra e seu povo e há até mesmo uma história de amor impossível entre ele e uma moça de Brașov chamada Katharina.
Draculea morreu no rigoroso inverno da Romênia, em dezembro de 1476. Painéis explicativos logo no início do tour pelo Castelo contam essa história e há também escudos, armaduras e roupas da época que se assemelham às que se encontram em gravuras e documentos históricos.
A crença que Drácula era um “morto-vivo” pode ter vindo de uma de suas muitas batalhas, em que ele teria levado um forte golpe na cabeça que o deixou em coma. Depois de ver o seu líder cair seus homens teriam batido em retirada levando consigo seu corpo. Porém, antes da fuga, Vlad Țepeș acordou do coma como se nada tivesse acontecido e logo depois de recobrar os sentidos, retornou à luta levando o exército à vitória em uma de suas batalhas mais sangrentas.
Às vezes o mundo não precisa de um outro herói. Às vezes o que ele precisa é de um monstro. (Drácula, Bram Stoker – 1897)
Assustador? Que nada!
Aí a gente chega pronto para mergulhar nas lendas da Transilvânia, mas, apesar do exterior gótico, por dentro o Castelo de Bran não tem nada de assustador. As paredes são brancas e há bastante luz natural. Apesar de todos buscarem pelo mito de Drácula, na vida real os fatos estão longe da ficção. Bran é uma fortaleza incrível e, com certeza, intrigantemente bonito. Mas, nenhum vampiro jamais pôs os pés lá!
Entretanto, ao longo de mais de mil anos ele já hospedou vários cavaleiros, reis, soldados e príncipes romenos, inclusive Vlad Țepeș, que teria pernoitado ali durante uma de suas campanhas contra os turcos (embora não haja registros disso). A residente mais famosa mesmo foi a rainha Maria da Romênia, que reformou o castelo e a utilizou como residência real no começo do século 20. Maria era exatamente o oposto do que o Drácula representa. Para todos ela foi “uma grande rainha que espalhava suas bênçãos onde quer que fosse, ganhando assim os corações e mentes de todo o país”. É assim que ela é descrita no documento que a nomeia proprietária do Castelo de Bran. O mobiliário que vemos no Castelo hoje ainda é o dela.
“Deixe-me avisá-lo, meu jovem amigo, não, deixe-me seriamente adverti-lo de que se deixar seus aposentos você não dormirá, de forma alguma, em nenhuma outra parte do castelo. Ele é velho e tem muitas memórias…” (Drácula, 1897)
O Castelo parece grande, mas por dentro a sensação que a gente teve é de que ele é impressionantemente pequeno. São vários cômodos de tamanho médio ligados por corredores e escadarias super estreitos, o que o transforma em um grande labirinto. (Nisso o livro de Bram Stoker acertou em cheio, pois sozinhos por lá ficaríamos tão perdidos quanto o pobre Jonathan Harker!)
“Ainda assim, a não ser que meus sentidos me enganem, os séculos tiveram e têm poderes próprios que a mera ‘modernidade’ não pode matar” (Drácula, 1897)
As paredes de meu castelo estão trincadas, as sombras são muitas e o vento sopra frio pelas frestas dos parapeitos e caixilhos. Eu amo a penumbra e as sombras, e prefiro ficar sozinho com meus pensamentos quando posso” (Drácula, 1897)
Como fomos no verão o clima foi amenizado pelo tempo claro e pelas dezenas de turistas que, como nós, circulava de um lado para outro. Tiramos algumas fotos, mas se você é daqueles que fica procurando o melhor ângulo, vai se frustrar, pois a visita é bem corrida. O pátio interno é uma atração à parte. Também é pequeno, mas é muito interessante, pois é totalmente circundado pelas paredes do castelo.
“ Lembre-se , meu amigo, de que o conhecimento é mais forte que a memória e não devemos confiar no mais fraco” (Drácula, 1897)
E, depois de Bran, fomos para Sinaia, para visitar o Castelo de Peleș
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