Uma das coisas que mais gostamos é conhecer as lendas que envolvem nossos destinos e, sempre que possível, aproveitamos para fazer os famosos “ghost tours”. Nosso primeiro foi em York, na Inglaterra, e nos divertimos demais. Aliás, recomendamos muito! Chama-se The Ghost Hunt of York e acontece todos dos dias saindo da rua Shambles (a mais antiga e icônica da cidade). Além das famosas histórias de fantasmas, o guia, Andy Dextrous, é muito engraçado e é um dos mais antigos guias de ghost tour do país.

Depois que pegamos gosto pela coisa, fizemos o passeio também em Nottingham e em Edimburgo, onde recomendamos o Underground Ghost Tour e a visita ao Mary King’s Close. No nível da rua, Edimburgo é uma cidade tranquila e bonita – mas os túneis abaixo contam uma história completamente diferente. Nesse passeio a pé ouvimos histórias assustadoras de assassinato e vingança, mergulhamos em cavernas subterrâneas normalmente fechadas para o público e aprendemos sobre o passado sombrio e horripilante da cidade.






Frankenstein
Em 1815 Mary Wollstonecraft Godwin (mais conhecida pelo nome de casada, Mary Shelley), viajou pela Alemanha, ao longo do rio Rhine, e essa viagem a inspirou quando mais tarde, aos 19 anos, ela escreveu a primeira obra de ficção científica da história.
Nós também fizemos essa rota pelo Rhine e até nos hospedamos uma noite em um castelo – não o de Frankenstein, que realmente existe e foi construído por volta de 1250 – mas no Liebenstein Burg, em Kamp-Bornhofen, a cerca de uma hora dali. O castelo não era mal assombrado, mas confesso que não consegui dormir muito bem por conta de uma cópia de um Rembrandt pendurado na parede do quarto. Sabe quando você pode jurar que os olhos no retrato se mexem e seguem seus movimentos? Então! Depois de um tempo com a mulher me olhando, o Ede finalmente retirou o quadro da parede e o colocou dentro do guarda-roupas! Mas isso foi o mais próximo do terror que chegamos por lá…









Frankenstein ou o Prometeu Moderno é uma obra prima do terror gótico e conta a história de Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que, obcecado com a ideia de acabar com a morte, constrói um “homem” em seu laboratório e consegue trazê-lo à vida. Mas, como Prometeu na mitologia grega, que concebeu o homem a partir do barro e roubou o fogo do Olimpo para dar à humanidade, Frankenstein foi longe demais “ao brincar de Deus” – e as consequências foram terríveis.



Mary Shelley escreveu a história entre 1816 e 1817 e a obra foi publicada em 1818, mas o livro continua atual mesmo depois de dois séculos! Tanto que várias adaptações foram feitas para o cinema. A mais fiel delas, em termos de narrativa, é Frankenstein de Mary Shelley, filme de 1994, de Francis Ford Coppola, com Kenneth Branagh, Robert de Niro e Helena Bohan-Carter. Entretanto, a história inspirou também outras produções bem interessantes como as séries Penny Dreadful e as Crônicas de Frankenstein.








Mas foi em Praga que a gente realmente entrou no clima, tanto que fizemos dois tours fantasma na mesma cidade! Um deles foi o Ghosts and Legends Tour by Haunted Prague, mas o que mais gostamos mesmo foi o McGee´s Ghosts and Legends Tour pois nele conhecemos uma das estórias de terror mais famosas da Europa, a do Golem de Josefov.


O bairro fica entre a margem direita do rio Vlatava e a Praça da Cidade Velha em Staré Město. Não se tem registros exatos de quando os judeus se estabeleceram na cidade, mas sabe-se que por volta de 1300 já ocupavam a margem do rio. Durante séculos eles foram vítimas de leis discriminatórias e perseguições. Em Josefov estão as ruínas do antigo gueto e a grande atração é o complexo que compreende a Synagoga Klausen e o antiquíssimo Cemitério Judeu.




O Golem
Diz a lenda que o bom e sábio Rabino Loew defendeu seu povo e o bairro judeu de ataques e ameaças durante muitos anos, mas sabia que não viveria para sempre. Haveria uma maneira de continuar a proteger os judeus, mesmo após sua morte? Por anos ele estudou as antigas escrituras sagradas até que em 1588 encontrou o que procurava. Loew criou então um homem de força descomunal, feito de barro – um golem – e o trouxe à vida dando sete voltas em torno dele, enquanto recitava encantamentos. Antes de terminada a sétima volta, colocou na boca do golem o shem sagrado – um pedaço de papiro contendo símbolos secretos. O “novo homem” foi então batizado de Josef e começou a trabalhar para a sinagoga e a comunidade durante o dia, enquanto patrulhava as ruas do gueto à noite, obedecendo sempre ao Rabino. E assim foi por muito tempo. Só havia uma coisa que Loew jamais poderia esquecer: nas sextas-feiras à noite, antes das orações, ele tinha que tirar o shem sagrado da boca de Josef para que ele pudesse descansar no Sabbath. Se não fizesse isso o golem poderia ficar forte demais e sair do controle.



Certo dia, a filha do Rabino ficou doente e naquela sexta-feira, consternado e preocupado, esqueceu-se do ritual e foi para a Sinagoga. Josef então enlouqueceu e quebrou a casa toda, além de sair para a rua e destruir portas, janelas e jardins. Depois desse episódio Loew levou Josef para o sótão, recitou os encantamentos ao contrário e retirou o shem sagrado de sua boca – tirando-lhe a vida. Séculos depois um discípulo se apoderou dos escritos do Rabino e conseguiu reviver o golem, que ficou imediatamente violento, e, mesmo tendo o shem retirado de sua boca, acabou por matar o rapaz ao virar uma enorme estátua de barro e cair sobre ele. Essa lenda foi muito explorada no cinema e na TV.
Os crimes de Limehouse – Limehouse, Londres,1880. O Inspetor Kildare (Bill Nighy), da Scotland Yard, é chamado a conduzir a investigação de uma onda de assassinatos que muitos acreditam ser obra de uma criatura sobrenatural – o Golem!


Ripper Street – Na 4ª temporada da série da BBC, a investigação do brutal assassinato de um rabino e rumores de que o Golem está atacando em Whitechapel levam o inspetor de polícia Edmund Reid (Matthew Mcfayden) a mergulhar na lenda judaica para desvendar o mistério.
E, ano passado, fomos para a Transilvânia, para conhecer o Castelo do Conde Drácula.

O príncipe Vlad Țepeș (Vlad III) nasceu em 1431, em Sighișoara, e governou a Valáquia (grande parte da atual Romênia). O pai de Vlad Țepeș era membro de uma sociedade cristã romana chamada Ordem do Dragão, criada por nobres da região para defender o território da invasão dos turcos. Por isso Vlad II era chamado de Dracul (dragão) e seu filho, Vlad Țepeș, passou a ser chamado Draculea (filho do dragão).



Em 1442 o menino Vlad Țepeș foi levado pelos turcos como refém a fim de garantir a lealdade de seu pai. Entretanto, em 1447 a Valáquia foi invadida e tanto seu pai como o irmão mais velho, Mircea, foram mortos. Ele então voltou para casa em 1448, como o príncipe Vlad III, para governar o território sob ordens turcas. Mas não demorou muito para que ele se rebelasse e vingasse a morte de sua família. Țepeș ficou conhecido pela barbárie com que tratava seus inimigos e diz-se que costumava empalar as vítimas. Draculea morreu no rigoroso inverno da Romênia, em dezembro de 1476. Painéis explicativos logo no início do tour pelo Castelo contam essa história e há também escudos, armaduras e roupas da época que se assemelham às que se encontram em gravuras e documentos históricos.



A crença que Drácula era um “morto-vivo” pode ter vindo de uma de suas muitas batalhas, em que ele teria levado um forte golpe na cabeça que o deixou em coma. Depois de ver o seu líder cair seus homens teriam batido em retirada levando consigo seu corpo. Porém, antes da fuga, Vlad Țepeș acordou do coma como se nada tivesse acontecido e logo depois de recobrar os sentidos, retornou à luta levando o exército à vitória em uma de suas batalhas mais sangrentas.
Drácula é, sem dúvida, a maior estrela de cinema do mundo sobrenatural e já apareceu em centenas de produções, entretanto, na minha opinião, nada supera o filme de 1992 Drácula, de Bran Stoker, que é muito fiel ao livro e usa a mesma narrativa epistolar, além de trazer o genial Gary Oldman como Vlad Țepeș e Winona Ryder, Anthony Hopkins e Keanu Reeves. Mas a produção de 2014, com Luke Evans, Drácula – a história nunca contada, também é interessante, pois aborda bastante os eventos que levaram o príncipe Vlad Țepeș a virar um vampiro. Ambos valem a pena ver de novo!


Outra lenda de terror da Transilvânia que foi adaptada para a telinha é a da Condessa de Sangue. A trama é baseada história real de Erzsébet Báthory (07Ago1560 – 21Ago1614) a condessa húngara que ficou conhecida como uma das primeiras assassinas em série de que se tem notícia. Ela foi condenada por crimes hediondos e cruéis vinculados a sua obsessão pela beleza, dentre eles matar garotas virgens para banhar-se em seu sangue, e teria feito pelo menos 650 vítimas ao longo dos anos. Como era nobre, de uma tradicional linhagem da região da Transilvânia, em vez de enfrentar a forca, foi aprisionada em seu próprio castelo e emparedada em um espaço restrito a poucos cômodos, onde permaneceu em isolamento até sua morte, quatro anos depois. Quando foi presa a polícia encontrou no local vários corpos mutilados, além de meninas aprisionadas, algumas ainda vivas. Diz-se que, além da rainha má de Branca de Neve, do conto dos Irmãos Grimm de 1812, a história também teria inspirado Bram Stoker em Drácula (que foi publicado em 1897).
Em Elizabeth Bathory: Mirror, Mirror (da série Lore, episódio 2 da 2ª temporada) a história começa em 1609, com a chegada ao castelo de Čachtice (hoje Eslováquia) de Lady Margit, uma jovem nobre que foi convidada a passar uma temporada ali como dama de compania da Condessa Elizabeth Bathory (Maimie McCoy). Conhecida por sua imensa beleza e pelas conquistas de seu falecido marido nas sanguinárias guerras contra os turcos, tanto sua beleza quanto a duradoura juventude guardam um segredo macabro e Margit é apenas mais uma das incontáveis vítimas da Condessa de Sangue. Essa produção é muito legal porque é menos contos de fadas e mais histórica.
Aguardando ansiosos por mais viagens e aventuras de arrepiar, desejamos a todos um Feliz Dia das Bruxas!

