Santa Cruz de la Sierra e Samaipata

Agora que a Bolívia recuperou sua democracia com a vitória de Luis Arce do Movimiento al Socialismo, no primeiro turno, bateu uma nostalgia de Santa Cruz de la Sierra e lembrei que ainda não havia escrito sobre ela.

“Siempre en la lucha oprimidos y opresores!
De un lado, la fortuna y el poder, Del otro, la miseria y sus horrores;
Y todo iniquidad… Hoy como ayer.”
(Adela Zamudio, poeta boliviana)

Visitamos a Bolívia rapidamente em nossa última viagem pela América do Sul. Havíamos passado o Carnaval na Quebrada de Humahuaca, no norte da Argentina, e de lá até Santa Cruz de la Sierra era um trajeto curto. Fomos sem expectativas, mas tivemos algumas surpresas agradáveis. Uma delas foi o próprio voo. Havíamos feito um voo de duas horas (bem carinho) para Buenos Aires, com a Aerolíneas Argentinas e não serviram nem um copo d’água (isso mesmo, nem um mísero copo d’água pra matar a sede dos passageiros)! Dias depois, meio ressabiados, voamos mais duas horas com a Boliviana de Aviación (BOA) e recebemos um ótimo lanche com sucos/refrigerante e até uma sobremesa.

Há diversos hotéis e hostels em Santa Cruz, de diferentes preços e níveis de conforto. O ideal é ficar próximo da região central que é muito segura. Assim que chegamos fomos direto ao Hotel LP, que havíamos reservado com antecedência, pelo Decolar. Ele fica na Av. Ejército Nacional, 290 y Juan Garay – prox. à Plaza Blacut. Escolhemos o LP pela localização, pois queríamos ficar próximos ao Centro Histórico, mas não exatamente nas imediações da Plaza 24 de Septiembre. Descobrimos que ele era um pouco mais longe do que imaginávamos (15-20 min do Centro à pé), mas a qualidade compensou. O quarto era agradável, bem iluminado, e o atendimento da recepção foi muito caloroso. A recepcionista nos ajudou com informações, mapa, sugestões e também com a contratação do passeio à Samaipata. O café da manhã era excelente e o preço muito justo (a mesma qualidade custa o dobro ou mesmo quase o triplo aqui no Brasil). O wifi também era ótimo. Ao caminhar pelas redondezas percebemos que o bairro é muito bom e seguro. Embora ao lado do Estádio Tahuichi, o campo do Blooming (o time de futebol da cidade), não era barulhento. Num domingo havia jogo, mas tão logo ele acabou, a rua foi ficando silenciosa e às 23:00 já estava quieto. Gostamos muito do LP e recomendamos.

Plaza 24 de Septiembre

O Centro Histórico de Santa Cruz é em si um museu. Os edifícios caiados dos séculos XVIII e XIX, muito bem conservados, remetem aos tempos coloniais com seus “balcones” e janelões.

Catedral Metropolitana

A Catedral de Santa Cruz, também chamada de Basílica de San Lorenzo é a grande atração da Plaza 24 de Septiembre. A igreja foi construída em 1770 e por dentro o que chama a atenção é o teto em madeira. Não é muito adornada, mas a nave é grande e muito clara, o que dá uma sensação de paz. Subimos os 126 degraus até o mirador, mas a visão não é assim tão boa porque as árvores cobrem muito a praça e o campanário é protegido por tela. Paga-se para ir até lá.

Casa de la Cultura

A Casa de la Cultura Raúl Otero Reiche foi aberta em 1960 e funciona em um edifício colonial de 1937. Ela é administrada pela prefeitura de Santa Cruz e tem mostras relativas à arte contemporânea e também etnofolclórica, além de ser responsável pela administração da biblioteca municipal. Quando fomos estava tendo uma exposição da artista Mariel Kuncar. Adoramos seus quadros! São imagens muito coloridas e alegres – como o povo boliviano! A Casa de la Cultura abre de segunda à sexta, em horário comercial e fica na Calle Libertad, 65, de frente para a Plaza 24 de Septiempre.

Museo Historico Regional

Logo em frente aos Correios, na Calle Junín 151, fica o edifício do começo do século XX que abriga o arquivo histórico e a biblioteca especializada que compõem o Museo Historico Regional de Santa Cruz. Ele foi crido em 1996 para conservar, desenvolver e difundir o conhecimento regional por meio de pesquisa, publicações e exposições. Nós o visitamos rapidamente e nos impressionamos bastante com o grande painel pintado no pátio interno. Maravilhoso!

Heladería Picolo

Santa Cruz é realmente quente e, após uma volta de uma hora pelo centro histórico, um sorvete era tudo o que queríamos. Encontramos a Heladeria Picolo, na Calle Ayacucho esq. Calle España, por acaso e íamos apenas comprar os sorvetes e sair tomando pela rua, mas o calor era tanto que entramos e nos sentamos a uma das mesas. O local é arejado e amplo. Experimentamos o sorvete de melancia, que nunca havíamos provado. Foi um bom pit stop!

Manzana Uno Espacio de Arte

A Manzana Uno (manzana = quadra) é um conjunto de edifícios na Calle Independéncia, bem no meio do centro histórico de Santa Cruz. Ela abriga uma galeria de artes e espaços para a realização de oficinas e exposições temáticas (carnaval, teatro, infantis, folclore, história, fotografia, jornalismo, etc.) Nós a visitamos rapidamente durante a tarde, mas o local fica aberto até as 21:00.

A cantora boliviana Gladis Moreno cantou Santa Cruz em suas canções e tornou-se um ícone da cidade e do país. Tanto que foi homenageada na Manzana Uno com uma linda estátua em tamanho natural. Só faltou a trilha sonora: “Cuando me vaya ay amorcito, he de partir llorando… Viva Santa Cruz!“

Restaurante El Aljibe

Havíamos lido sobre o El Aljibe no TripAdvisor e sabíamos que era um restaurante típico. Fomos então para jantar e gostamos bastante. A casa de 1880 ainda conserva em seu interior uma cisterna para coletar água da chuva, daí o nome “El Aljibe” (A Cisterna). A casa pertenceu à cantora Gladis Moreno e permanece cheia de seus pertences. De nossa mesa víamos sua penteadeira… Quadros e discos adornam as paredes. Realmente é como fazer sua refeição dentro de um Museu.

A proposta do restaurante é servir pratos em extinção e as receitas são dos séculos 19 e 20. O menu é tão tradicional que ele é gravado em uma tábua! Comi o Rapi, um dos pratos mais representativos de Santa Cruz e uma das especialidades do El Aljibe. Ele é feito com o matambre, que não é uma carne mole, mas da maneira como é preparado fica muito macio, pois cozinha por 4 horas. O molho leva cominho, aipo, cebola e urucum, que também dá cor ao prato. Provamos também o Pastel de Gallina e para sobremesa um Flan de Leche. Uma comida verdadeiramente camba! O El Aljibe fica na calle Potosi, esq. Nuflo de Chavez.

Restaurante Michelangelo

Estávamos buscando outro restaurante quando percebemos que ele ficava muito longe do centro da cidade, assim descobrimos o Michelangelo pelo TripAdvisor. Ele fica na Chuquisaca 502, esq. Monsenor Salvatierra. Por fora é muito discreto, um casarão colonial com fachada simples. Por dentro possui dois ambientes, salão interno e mesas no jardim, e é até mais sofisticado do que imaginávamos. Os garçons foram muito simpáticos, ainda mais quando descobriram que, embora brasileiros, falávamos espanhol. Para aplacar o calor, tomamos um aperol geladinho. Pedimos então a salada ceasar e o gnocci ao molho Michelangelo. Pensa num molho delicioso! Se não fosse falta de educação, lamberíamos o prato! Como sobremesa comemos o trio de cheesecake (uma sobremesa é suficiente para dois). Os preços são parecidos com os do Brasil. Gostamos tanto que voltamos ao Michelangelo para repetir o gnocci em nossa última noite em Santa Cruz.

Factory Grill & Bar

O Factory ficava em nosso caminho para o hotel LP, na Av. Velarde 300, assim, paramos para almoçar lá. Estava bastante movimentado, mas ainda havia mesas vagas. Do tipo Americano, o restaurante tem carnes à parrilla e sanduíches com seus acompanhamentos, batatas fritas, saladas… além de aperitivos, como tacos, asinhas de frango fritas, anéis de cebola e até camarões. O menu é mesmo bem variado e só as fotos já dão água na boca. Pedi o Rib Eye Steak que veio suculento e no ponto – uma delícia! Já o Ede optou por Salmão Grelhado com verduras e batatas bravas. Para beber, drinks geladinhos à base de rum, limão e hortelã. Já estávamos satisfeitos, mas ao ver o “bolo de morango no pote” no cardápio, não aguentamos e pedimos um para provar. Pensa em uma sobremesa deliciosa! Doce no ponto certo, com muuuito morango e muuuito creme geladinho! O restaurante não é barato, mas a qualidade e quantidade realmente compensam. Além de tudo o ambiente é agradável – telões distribuídos pelo salão passam jogos o tempo todo, o que faz com que os clientes se sintam bem à vontade.

Fuerte de Samaipata (Patrimônio UNESCO)

Samaipata significa “Descanso nas Montanhas” e o local realmente fica no alto da montanha, aos pés da Cordilheira dos Andes. O local reúne ruínas pré-incaicas e incaicas e é considerado o Machu Picchu da Bolívia e Patrimônio da Humanidade.

Fomos até lá com um passeio contratado no hotel LP. A viagem leva duas horas e meia de carro, pois trata-se de uma grande subida, afinal fica a 2 mil metros de altitude. O passeio não saiu muito barato, mas valeu a pena. A visita toda dura cerca de 2 horas e a entrada custa 50 bolivianos (27 reais) por pessoa (para estrangeiros). Lá contratamos também o serviço do guia local, que quando menino trabalhou nas escavações que descobriram Samaipata nos anos 70 (outros 50 bolivianos, bem merecidos!).

Segundo a UNESCO “a enorme pedra talhada (foto acima) dominando a cidade, é um testemunho único de tradições e crenças pré-hispânicas, sem nenhum paralelo em qualquer lugar das Américas”. O sítio arqueológico, chamado “Forte” de Samaipata é um complexo cerimonial e administrativo de grande valor universal que data do período pré-hispânico. Quem deu o nome de “forte” ao local foram os espanhóis, por sua localização estratégica, entretanto o complexo nunca teve função bélica e sim religiosa. O setor cerimonial, o epicentro do complexo, é formado de uma imensa pedra monolítica de 220m de comprimento por 65m de largura, toda esculpida com figuras de animais (serpentes e jaguares) e formas geométricas, além de sulcos e canais, cheios de significados mágicos. De cima do mirante principal tem-se uma vista única de toda a “Roca Tallada” (que dizem ser a maior pedra talhada do mundo). Já o setor administrativo é formado de uma série de construções que correspondem a diferentes culturas de origem inca, como o templo de las cinco hornacitas (retábulos) e casas coloniais similares às encontradas em Machu Picchu.

No parque há uma pequena lanchonete, mas não há muitas opções, pois isso a sugestão é levar um lanche e água mineral, além de boné/chapéu e um casaco, pois mesmo no verão, devido à altitude, venta bastante e faz frio logo cedo e no final do dia. Adoramos conhecer o lugar e sua história!

Na Bolívia é tudo muito simples, o que não significa que não é um excelente destino, afinal, como diz o sábio Pepe Mujica:

No soy pobre, soy sobrio, liviano de equipaje, vivir con lo justo para que las cosas no me roben la libertad”

Saudades e vontade de voltar!

Publicado por Adelijasluk

Adeli é formada em Letras e pós graduada em Recursos Humanos, fala quatro línguas e adora conhecer outras culturas. Curiosa e teimosa, nas horas vagas planeja itinerários próprios para as viagens anuais com o marido. Edevaldo é funcionário público e cursou geografia e informática. Paciente, nas horas vagas estuda maneiras sensatas de viabilizar os itinerários da esposa. Viajam por conta própria e juntos já conheceram 208 cidades em 33 países.

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