Passar um Carnaval diferente, longe da agitação e da sanha comercial, é o que temos feito nos últimos anos e já há algum tempo pensávamos em conhecer a Quebrada de Humahuaca, no norte da Argentina – por dois motivos: suas lindas paisagens e a tradição do carnaval quebradeño.
Lá em cima no mapa da Argentina, já próximo ao Chile, estava a última cidade com um aeroporto: San Salvador de Jujuy. Assim o jeito era ir até Buenos Aires e pegar outro voo para Jujuy e depois seguir de carro para nosso destino, a cidade de San Francisco de Tilcara, que seria nossa base. Ela fica a 84 quilômetros da capital da província, e faz parte do roteiro da Quebrada de Humahuaca. Chegamos na sexta-feira, véspera de Carnaval, o que foi uma ótima ideia, pois a estrada para lá fica super congestionada no sábado e você corre o risco de ficar horas literalmente parado dentro do carro!
Hotel Antigua
O Hotel Antigua apareceu em algumas das buscas que fizemos pela internet e após ler as avaliações do Trip Advisor e ver algumas das fotos tanto de viajantes, quanto do próprio hotel, resolvemos reservá-lo. Gostamos da resposta recebida por e-mail, muito cordial e com muitas informações sobre passeios. O preço acabou saindo um pouco mais alto que o imaginado, $1930 (pesos) p/noite, mas valeu a pena. Tilcara foi um bom QG para explorarmos a região. Tomás, o rapaz que nos respondia os e-mails e esclarecia as dúvidas, foi muito solícito e nos ajudou a agendar passeios de carro com uma guia de confiança, a Sra. Verónica, com a qual conhecemos Salinas Grandes, Maimará, Purmamarca, Uquia e Humahuaca, além disso ela nos levou e apanhou em Jujuy no Domingo de Carnaval quando fomos ver o show da Banda Los Tekis e também nos pegou no aeroporto de Jujuy na chegada e nos levou para o de Salta, na volta.
O hotel era bem rústico, mas muito agradável, bem decorado e espaçoso. Gostamos muito de nosso quarto, que ficava no segundo piso, de frente para a rua e tinha até uma sacada. Na primeira noite fomos recepcionados com música típica ao vivo, empanadas e sangria, o que nos deixou muito à vontade e nos possibilitou conversar e conhecer os outros hóspedes. O café em si poderia ser melhorado, mas a vista do salão de café da manhã é um dos pontos altos. A localização é muito boa, pois o hotel fica na Calle de la Sorpresa 484, a poucas ruas do centro da cidade.
Restaurante El Pátio
O El Pátio foi onde fizemos nossa primeira refeição em Tilcara. Chegamos às 14:00 e, por volta de 15:00, fomos procurar um lugar para almoçar. O restaurante felizmente estava aberto e tinha uma mesa livre no pátio interno. Achamos a decoração bonitinha e resolvemos ficar por ali. Foi uma ótima opção. O menu tem comidas típicas como as humitas ou tamales (as nossas “pamonhas” de milho), além de empanadas e outros. Optamos por um blinis de humita e uma pechuga a la plancha (peito de frango grelhado). A comida estava boa, tanto que resolvemos voltar na terça-feira para comer as empanadas, que também estavam deliciosas. A nossa garçonete ainda nos ajudou com a impressão de nossos cartões de embarque para o dia seguinte, pois a única lan house de Tilcara estava fechada e em nosso hotel estavam sem impressora. Foi muito solícita e simpática. O El Pátio fica na calle Gral Juan Lavalle, 352. Adoramos!
Giro pela Cidade
Assim, depois de instalados e de ter almoçado, percorremos Tilcara à pé. A cidade é minúscula, tem pouco mais de 5.000 habitantes, e pode-se ver tudo em poucos minutos. A pequenina Iglesia Nuestra Señora de Rosario é uma das atrações. Diz a lenda que a Seleção Argentina de Futebol foi a Tilcara treinar para a Copa do Mundo de 1986 porque a altitude era parecida com a da Cidade do México, onde iriam jogar a final. Lá, todos os jogadores, incluindo Maradona, rezaram para a santa, prometendo voltar a Tilcara caso ganhassem. Ganharam e não voltaram. Por isso a seleção nunca mais ganhou outra Copa!
O centrinho foi se enchendo de gente nos restaurantes e comércios em volta da praça principal da cidade. Uma feirinha do tipo hippie vendia roupas, chapéus e artesanatos. Aqui e ali já se viam crianças jogando espuma e pó colorido em quem passava (uma tradição de Carnaval). Gostamos também de ver os grafites pelos muros da cidade. Quando fomos a campanha #nenhumaamenos estampava vários deles.
Museo Arqueológico Dr. Eduardo Casanova
O Museu Arqueológico é pequeno, mas nem por isso pouco importante, pois tem o papel fundamental de resgate da memória e valorização da cultura local. “Entre todos por la memoria del Pueblo”. Nós o visitamos na tarde de terça-feira de Carnaval (estava aberto normalmente, por conta dos turistas). Ele traz um pouco da história e da cultura dos povos quebradeños. As peças do museu foram todas encontradas na região. Ele contém uma valiosa coleção de cerca de 5 mil peças pré-hispânicas, muitas do período inca. Há inclusive uma réplica de construção pré-histórica em que foram encontradas tumbas, silos e fogões e que ainda está sendo escavada. Após o Museu, que fica na Calle Dr Manuel Belgrano 445, pode-se visitar o Pucará (ruínas de uma fortaleza inca), para completar o circuito.
À tarde aproveitamos o Sábado de Carnaval para assistir o famoso “Desentierro” e ver os desfiles das comparsas pela cidade. Contamos como foi essa experiência no post O “desenterro” do Carnaval.
Restaurante El Nuevo Progreso
Passamos em frente ao centenário edifício do El Nuevo Progreso (de 1917) na Praça e, à primeira vista, não percebemos que se tratava de um restaurante. Da segunda vez, entretanto, olhamos mais de perto e ao ler a placa que dizia “Cocina y Arte”, resolvemos voltar à noite para jantar. E não poderíamos ter feito melhor escolha! Fomos os primeiros a chegar pois, embora fosse Carnaval, o local não estava movimentado. Por dentro, chamam a atenção os grandes e coloridos quadros espalhados pelas paredes do grande salão de pé direito alto. Mesas rústicas e um balcão de bar/mercearia completam o ambiente. No cardápio pratos bem elaborados. Como estava friozinho optamos pela sopa de abóbora e uma quiche e, para sobremesa, uma panqueca de doce de leite. O atendimento foi muito cordial e conversando com a garçonete descobrimos que ela havia morado no Brasil por algum tempo. Na hora da conta uma surpresa agradável – não necessariamente o preço, que foi até meio alto, mas como ela nos foi apresentada: cada prato foi desenhado e colorido em um pedaço de papel mata borrão – achamos muito espirituoso! Gostamos muito e no dia seguinte voltamos para mais uma sopinha. O Nuevo Progresso fica na Calle Gral Juan Lavalle, 351.
Maimará e Purmamarca
Em nosso segundo dia, logo cedo, a Sra Verónica, nossa guia, nos apanhou no Antigua e fomos visitar Maimará. O vilarejo é famoso por uma formação geológica conhecida como A Paleta do Pintor, devido às várias camadas coloridas de rocha que a compõem. Quando chegamos o dia, que estava bonito logo pela manhã, já começava a nublar. Assim, nossa parada foi rápida, infelizmente. Entretanto, o caminho é lindo, uma verdadeira viagem a outro mundo!
A montanha multicolorida conhecida como Cerro de los Siete Colores, em Purmamarca, é, sem dúvidas, uma das principais atrações do lado norte da Argentina e é considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. O lugar é realmente impressionante e a cidadezinha, que tem menos de mil habitantes, fica justamente ao pé das coloridas formações rochosas. O nome Purmamarca significa “Cidade da Terra Virgem” em quéchua e no passado foi uma das paradas do Caminho Inca. O melhor lugar para fotografar fica a 400m da entrada da cidade. A partir de Purmamarca pode-se percorrer também o Paso de Los Colorados, um caminho que passa na base no morro e leva até outras falésias coloridas
Composta por vários tons de laranja , verde e violeta, o cerro é fruto de um desenvolvimento geológico que reúne movimentos tectônicos, sedimentos marinhos e fluviais, construído ao longo de 600 milhões de anos. Para vê-lo do melhor ângulo é preciso subir a uma plataforma emparedada, cujo acesso é controlado por locais que cobram ingresso para deixar os turistas passarem. Tem gente que reclama de pagar, mas o local é pobre e as pessoas vivem do turismo, então é até mesquinho não querer pagar uns trocados para subir ao miradouro. Como era Carnaval havia bastante gente e o local estava bem disputado. O melhor horário para fotos é pela manhã quando o sol bate nas pedras e as cores ficam bem visíveis. Realmente é uma obra-prima da natureza.
Restaurante A la Payla
Comemos no A La Payla na terça-feira de Carnaval. Estava tudo cheio e ficamos felizes em encontrar uma mesa. O restaurante na Calle Bernardino Rivadavia, 425 é bem simples. O serviço foi rápido. Estava muito calor e comemos uma salada completa com quinoa e uma milanesa de llama. O que valeu foi a cerveja geladinha. Estávamos mesmo precisando!
Uquia e o Trópico de Capricórnio
Seguindo ainda mais para o norte, fizemos uma breve parada em Uquía para visitar a igreja do século XVII, que abriga as pinturas de nove “Arcangeles Arcabuceros”. Ao lado da igreja havia algumas barraquinhas de artesanato e compramos um lindo jogo de xadrez quêchua. No caminho passamos ainda pelo marco do Trópico de Capricórnio, a linha imaginária que delimita a zona tropical sul do globo.
Humahuaca
Chegamos em Humahuaca minutos antes do meio dia. Fomos direto para a praça central para visitar a histórica igreja de Santo Antônio, de 1630, e conseguimos ver o santo de madeira aparecer a janela do campanário. Como era carnaval, a cidade estava bem movimentada mas os restaurantes que estavam abertos já não estavam servindo comida. Dona Verónica, entretanto, conversou como dono de um deles e conseguimos comer um franguinho frito. Depois passamos algum tempo admirando o Monumento da Independência e passeando pela cidade antes de voltar.
Restaurante La Picadita
De volta à Tilcara, fomos ao La Picadita na Calle Dr Manuel Belgrano, 672, para jantar. Chegamos um pouco cedo e ainda estava fechado. O rapaz que nos atendeu pediu que esperássemos uns 10 minutos pois já iam abrir. Estava garoando e estávamos quase indo embora quando ele abriu as portas e então pudemos entrar. Uma vez lá dentro fomos atendidos rapidamente. Gostamos do lugar – decoração bacana. Pedimos uma provoleta completa com calabresa e ovos, que veio acompanhada de pão. Tomamos um aperol e um cuba libre. Os preços são normais. Em resumo, é um bom lugar.
Fomos também mais para o sul de Tilcara, Maimará e Purmamarca, chegando a 4.170 metros de altitude e conhecemos um salar. Contamos como foi no post Tumbaya e Salinas Grandes.
E não deixe de conferir a curiosidades da folia de Carnaval Quebradeño no post do desenterro!
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