O Equador é um país caro para nós, brasileiros, pois adotaram o dólar como moeda. Entretanto é possível conhecer um pouco, comer razoavelmente bem e ficar em um hostel legal por um bom preço.
Estivemos em Quito como parte de nossa última viagem pela América Latina, antes da pandemia. Como já havíamos passado pelo norte da Argentina, Bolívia e Peru, nos restavam poucos dias de férias e não tivemos tempo de ir a Guayaquil, mas conseguimos passear bastante pela capital e até dar uma esticadinha até San António, ao norte da província de Pichincha, para visitar a Mitad del Mundo e o Vulcão Pululahua.
Onde ficar?
O melhor bairro para se hospedar em Quito é o La Mariscal, nas imediações da Plaza Foch. É um lugar seguro, cheio de hotéis, hostels, cafés, bares e restaurantes. É também o bairro mais caro, mas, como aqui no Brasil, é melhor não arriscar a segurança por conta de uns poucos dólares. O acesso ao Centro Histórico é bem tranquilo e fomos de metrô, sem problemas (é longe para ir a pé, cerca de 2,5 km). A tarifa é U$0,45 por pessoa, por trecho e o metrô, embora tenha poucas linhas, é eficiente.



Hostel Cayman
Ficamos quatro noites no Cayman e pegamos um quarto com duas camas de solteiro (que era o que havia disponível), mas ele dava para o jardim, era silencioso e gostamos bastante. Não é preciso pagar nada adiantado, paga-se tudo no check out e nossa hospedagem saiu por 224 dólares (50 por noite mais 12% de impostos). O café da manhã era bom, embora não abundante, com café/leite/pão e 2 opções de frutas e ainda ovos mexidos feitos na hora se pedíssemos. Tivemos um pequeno problema com a água quente no chuveiro no primeiro dia e novamente no segundo e depois de reclamarmos, foi finalmente resolvido. O atendimento, entretanto, foi muito cordial e os recepcionistas eram rapazes muito atenciosos. O casarão é muito bacana, antigo, mas reformado e bem preservado e a administração é familiar. Também tinha um bom wi-fi. A localização valeu muito, pois ele fica em La Mariscal, na calle Reina Victoria, pertinho da Plaza Foch.
Centro Histórico
A parte colonial de Quito conserva bastante os traços arquitetônicos de antigamente. Por isso, desde 1978, a cidade é considerada patrimônio mundial da humanidade pela UNESCO. No centro histórico estão os monastérios de San Francisco e o de Santo Domingo, a magnífica igreja e o colégio dos jesuítas da Compañía de Jesús (de 1605), além do Palácio Carondelet, a sede do Governo, museus e galerias como o Centro Cultural Metropolitano, teatros e restaurantes. As ruas e casario já são, em si, uma grande atração. Quem não curte história não saberá apreciar, já para quem, como nós, é vidrado em conhecer locais ancestrais, é um prato cheio! Lembra um pouco as cidades históricas de Minas Gerais e por isso nos identificamos muito. Adoramos!
Iglesia de la Compañía de Jesús
A arte religiosa não pode ficar de fora de uma visita a Quito. A construção da Igreja da Compañía de Jesús (também conhecida como “La Compañía”) data dos primeiros anos da colonização espanhola e da chegada da ordem jesuíta ao Equador. A fachada foi toda esculpida em pedra vulcânica. Para mim, foi a igreja mais impressionante da cidade e uma das mais lindas que já vi. A nave central é toda decorada com folhas de ouro, gesso dourado e esculturas de madeira, em estilo barroco. Estima-se que tenha em seu interior de 50 a 54 quilos de ouro. A entrada custa 5 dólares para estrangeiros. Lindíssima!
Imagem: Carlos Calderón
Plaza Grande
Na zona colonial destaca-se a Plaza Grande, também chamada Plaza da Independência, onde se encontra o Palácio de Carondelet, sede da Presidência da República e o Palácio da Prefeitura. É o ponto de partida para se começar a conhecer o centro histórico. Lá também está a Catedral Metropolitana e é onde se pode pegar o Quito Tour Bus para fazer o passeio turístico pela cidade.


Museo del Palacio de Carondelet (Presidéncia de la República)
Na visita guiada do Palácio do Governo pudemos conhecer a história da República do Equador nos últimos 200 anos. O Palácio Carondolet recebe em média 500 turistas por dia e desde que foi aberto ao público já recebeu mais de um milhão e quatrocentos mil visitantes. A entrada é gratuita, mas é preciso esperar que se forme um grupo e cada grupo então segue o guia por um roteiro predeterminado. Logo na entrada um mosaico gigantesco e muito colorido conta a história da descoberta do Rio Amazonas pelos espanhóis e da riqueza da flora e fauna da região. Um dos salões exibe os quadros com os retratos de todos os presidentes. Quando visitamos também havia uma exposição sobre Alonso de Illescas, líder quilombola africano e a pessoa mais poderosa na região de Esmeraldas, no noroeste do Equador, no século XVI. Muito bacana a visita!









La Purisima
O restaurante La Purisima, na Calle Espejo y Guayaquil é descolado, com ambiente agradável e atendimento cordial. Comi uma salada russa, que veio com queijo frito ($5,05) e o Ede optou pelo seco de costilla, um prato com costela de boi ao molho ($11,92). Estava gostoso, mas demorou um pouco para virem os pratos. Tomamos sucos de amora geladinhos ($2,60) cada um, que compensaram a espera, pois estava bem calor. Ganhamos também, como cortesia, uns biscoitinhos de milho (tortillas moradas y blancas) e um molho picante. O total da conta foi $25,51, com impostos.
Catedral Primada de Quito
No coração do centro histórico, na Plaza de la Independéncia, fica a Catedral de Quito, que também é um museu, e é considerada uma das mais antigas da América Latina. Um dos símbolos religiosos de maior importância para a comunidade católica do Equador, sua construção iniciou em 1535, erguida em tijolos e madeira de lei. Em 1545 foi declarada catedral, entretanto, em 1562 a primeira igreja foi demolida para ser reconstruída em pedra, mas a obra só terminou em 1806. Foi a primeira igreja a ter influências indígenas em sua construção. Dentro, várias obras de arte, pinturas e esculturas de importantes artistas da época colonial. Ela também contém um conjunto histórico da vida cotidiana, política, religiosa e artística de várias gerações. Vale a visita!
Centro Cultural Metropolitano
Uma das principais construções do centro histórico, ao lado do Palácio do Governo, o edifício do Centro Cultural Metropolitano tem sido parte essencial da vida da cidade desde sua fundação. O prédio do século XVII foi construído junto com a famosa igreja de La Compañía de Jesús, sendo uma das dependências da ordem jesuíta, que o utilizou como seminário e mais tarde para a criação da Universidade do Equador, que funcionou lá até 1967. Assim, o prédio sempre teve finalidade educativa e por lá passaram vários personagens importantes da história e da política equatoriana.
Também foi sede da Imprensa Oficial, onde se imprimiu o primeiro jornal da cidade, e da Biblioteca Pública de Quito – função que ainda mantém. Após uma grande restauração, em 2000 tornou-se também Centro Cultural Metropolitano. Visitamos uma exposição chamada Des(Marcados) sobre Indianismo e Identidade Cultural Latinoamericana, com várias pinturas dos consagrados artistas Camilo Egas, Eduardo Kingman, Piedad Paredes Alvarez e Germania Paz y Miño. Adoramos! Fica aberto das 09:00 às 17:00 e a entrada é gratuita. Aproveitamos também para ir ao banheiro (com boa estrutura e limpo).
El Sagrario
A igreja do El Sagrario foi um dos mais importantes símbolos arquitetônicos de Quito na época colonial. Ela fica junto à Catedral, na rua García Moreno com a Espejo, em frente ao Centro Cultural Metropolitano. Sua estrutura é do século XVII e possui um lindo conjunto de esculturas, decorações e detalhes em estilo renascentista. Em 1694 o arquiteto José Jaime Ortiz assinou o contrato para a construção da igreja, que foi incluído no primeiro livro de cadastro dos fundadores da Vila de Quito. A fachada foi terminada em 1706 e a construção, em estilo italiano, terminou em 1715. Já os retábulos foram feitos em 1731 e 1747, tudo com o financiamento da fraternidade do Sagrado Sacramento. O interior da igreja demonstra a riqueza do barroco quiteño. Lindas colunas sustentam a abóbada com a cúpula decorada com afrescos de cenas bíblicas e arcanjos. O retábulo do altar maior é banhado a ouro e dentro pode-se observar a imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração.
Uma curiosidade é que esta é uma das poucas igrejas no mundo que realiza a cerimônia do “arraste de caudas” na Semana Santa, um ritual de séculos em que os padres vestem uma capa negra com uma cauda de até 5 metros de comprimento e fazem uma procissão para a purificação dos pecados. O Sagrario fica aberto de segunda à sexta das 7:30 às 17:00 e Sábados e Domingos pela manhã, até as 13:00. A entrada é gratuita. Adoramos conhecer!



Restaurante San Ignacio
Depois de visitar o Sagrario e o Centro Cultural Metropolitano começamos a procurar um restaurante nas imediações e achamos o San Ignacio na Calle García Moreno. Com uma fachada que não chama muito a atenção, o restaurante de comida tradicional equatoriana foi uma ótima surpresa pois os preços são bem razoáveis e a comida gostosa. As opções variam de ceviche, a locro (ensopado) de marisco, seco de chivo (cabrito) ou até mesmo o bife, peito de frango e saladas. Optamos pelo churrasco (uma espécie de bife a lo pobre) e pela suprema de pollo. Os preços são em média 10 dólares por prato. Tomamos dois sucos de maracujá e tudo saiu por 25 dólares.
Convento de San Augustín – Museu de San Miguel de Santiago
A melhor visita guiada que fizemos em Quito foi no Convento de San Augustín. Ela custa $2,00 e vale a pena porque é realmente muito bacana. Construído pela ordem Augustina entre 1580 e 1669 a igreja em estilo gótico, com 37 metros, e o convento adjacente (hoje museu) são um testemunho histórico da cidade. A sala capitular foi inclusive o lugar onde a independência do Equador foi assinada em 16 de agosto de 1809 (a mesa e a cadeira usadas para a assinatura estão lá). Além do magnífico retábulo barroco folheado a ouro 24 quilates, o convento possui uma coleção inestimável de 44 painéis pintados em madeira retratando a vida de San Augustin. Eles ficam expostos nos corredores externos do convento, expostos à ação do tempo (como antigamente) e passam por restauração a cada década. Especialistas italianos vem a Quito especialmente para isso. A igreja e o convento ficam na esquina da Calle Chile e Calle Guayaquil.
Quito Tour Bus
Fomos procurar o Quito Tour Bus logo no dia seguinte ao que chegamos na cidade. Fomos à Plaza Grande pela manhã e buscamos alguma placa indicativa. Não a achamos rapidamente, mas pedimos informações e descobrimos a loja num dos prédios da praça, no lado oposto do Palácio de Carondelet. Fomos muito bem atendidos e compramos dois passeios, o Citytour de Quito (que fizemos nesse mesmo dia e custou 15 dólares por pessoa) e o passeio até a Mitad del Mundo, passando pelo Vulcão Pululahua, que fizemos no dia seguinte (30 dólares por pessoa, com ingresso incluso). Gostamos de ambos e correu tudo bem. Como haveria uma corrida de rua, passando pela Plaza Grande, acabamos pegando o ônibus para o citytour quase em frente à Igreja de San Francisco, mas deu tudo certo e conseguimos viajar no andar de cima e tirar muitas fotos. Já para o passeio até a Metade do Mundo pegamos o ônibus pertinho de nosso hotel, no bairro Mariscal, em frente ao restaurante Mama Clorinda. A viagem começa ao meio dia e o retorno é às 19:00. Vale a pena!
Panecillo
A 3000 metros do nível do mar fica o principal mirador da cidade de Quito. Subimos ao morro do Panecillo com o ônibus turístico que pegamos na praça Foch, o Quito Tour Bus. Fomos na parte de cima, apreciando o passeio até lá, que é a parada de número 8. Chegando lá no alto a vista da cidade é realmente muito legal e a estátua da Virgem é impressionante. O lugar é muito frequentado por famílias, além dos turistas. Tivemos sorte e pegamos um dia de sol, com algumas nuvens, mas nada que atrapalhasse a paisagem. Não há muito o que fazer por lá além de apreciar a vista e tirar fotos, mas sempre se encontra um ou outro ambulante vendendo lanches, refrigerante e artesanato. Gostamos muito do passeio.



La Virgen de Quito
A principal atração do mirador no alto do morro do Panecillo é a estátua da Virgem de Quito. Diz a lenda que uma mulher muito pobre estava desesperada por haver perdido suas vacas e quando chegou à beira do precipício, no alto do morro, avistou uma mulher. A aparição então se aproximou dela e lhe deu uma espiga de milho e um tijolo de ouro. A estátua foi construída pelo artista espanhol Augustín de la Herrán Matorras. Dentro de estrutura há um museu que se pode visitar para conhecer a historia da construção da obra, composta de 7.000 peças de alumínio.
La Petite Mariscal
Fomos ao La Petite Mariscal, logo em nosso primeiro almoço em Quito, por indicação do nosso recepcionista no Hotel Cayman. Ele fica na Rua Diego de Almagro, muito perto. Estávamos com fome e já passava das 15:00. Achamos o ambiente bem agradável e fomos bem atendidos. Escolhi o spaghetti bolognesa ($10,90) e o Ede o enrolado de peito frango ao molho branco, com batatas fritas ($9,90). Um pouco caro se pensarmos que os pratos não eram sofisticados, mas estavam gostosos e comemos bem. Descobrimos depois que esse era o padrão de preços para o bairro.





La Plaza Foch
Para quem gosta de diversão com muita música e opções de fast food como hamburguer, cachorro quente, shawarmas, cervejas artesanais e cafés, o melhor bairro é o La Mariscal. Na Plaza Foch, que fica entra a Reina Victoria e a Mariscal Foch, a diversão vai até altas horas. O agito começa por volta das 15:00 mas a “pachanga” ou seja, o “fervo” é por volta das 21:00. Os lugares mais badalados são o Q Restaurant, o Azuca Latin Bistro e o Azuca Beach, e o Coffee Tree. Também tem casas noturnas como a The Bote, a Lavoe, o No Bar, a Ambrossia, o Bungalow e o Café Democrático.

República del Cacao
Fomos à famosa República del Cacao por curiosidade e por termos ouvido falar muito bem e lido várias avaliações positivas. O que não esperávamos era que fosse tão caro! Provamos dois dos doces e tomamos dois cafés e fim e papo! A loja é muito bonita e há algumas mesas para os clientes se sentarem, mas estava vazia! Éramos os únicos clientes lá. Quando fizemos o pedido as atendentes pareceram decepcionadas por não comprarmos mais coisas, tentaram ainda nos convencer a trazer alguns tabletes e pacotes de vários tipos – todos caríssimos. Para brasileiros, como temos chocolates de ótima qualidade, não vale a pena pagar em dólar. Já os europeus devem se encantar.
Sweet & Coffee
Ainda na Plaza Foch fomos tomar um café quentinho e comer um doce no Sweet & Coffee. Parte de uma rede, com várias lojas pela cidade, o café é bem frequentado, o ambiente é gostoso e os preços são muito justos. Sentados ali, tomamos um café de boa qualidade, comemos cupcakes e curtimos nossa última noite em Quito antes de voltar ao Brasil. Recomendamos!
Vulcão Pululahua
A Reserva Geobotânica Pululahua é uma área protegida ao redor do vulcão Pululahua, 17 km ao norte do Quito, na província de Pichincha. Pululahua significa nuvem de água em quechua, a língua indígena. Paramos lá como parte de nosso passeio até a Mitad del Mundo, que fizemos com o Quito Tour Bus. Ao chegar fomos direto até o Mirante do Vulcão, que fica a 2.840 metros de altitude. Dali pode-se ver as bordas da cratera de 5 km e lá embaixo, dentro do vulcão, as casas e plantações das pessoas que vivem ali. Isso mesmo! Cerca de 50 pessoas vivem dentro da cratera e lá trabalham na agricultura e criam animais. O acesso à superfície é feito por uma escadaria rústica e, segundo nosso guia, a caminhada dura uma hora, por isso os moradores não sobem e descem com frequência. O vulcão é ainda considerado dormente, mas não extinto, mesmo sua última erupção tendo acontecido há 2.300 anos. Tivemos sorte porque as nuvens dissiparam-se um pouco após chegarmos e pudemos ter uma boa visão da cratera, mas normalmente a névoa cobre o local o dia inteiro. Muito legal!
Mitad del Mundo
Na latitude 0º 0´0”, a famosa Mitad del Mundo é um espaço onde convergem diversas manifestações culturais, astronômicas, folclóricas e ancestrais do país. Mesmo sabendo que a Linha do Equador não passa exatamente onde indica a faixa (e sim a 300 metros dali, o que os índios já sabiam séculos antes da chegada da expedição geodésica francesa) é um ótimo passeio. O parque temático conta com 19 atrações e uma das brincadeiras que mais atraem os turistas é a de “colocar o ovo em pé”, ação que fica mais fácil no local, com latitude 0. Outra curiosidade é que lá a gente fica com um peso menor. Isso mesmo! Isso porque a velocidade de giro do planeta ali é diferente, o que faz com que o peso diminua cerca de 0,5%. Na sala de experimentos há uma balança para a gente tirar a prova (nunca emagreci tão rápido!).
Além de tirar fotos no monumento à Latitude Zero (com um pé no hemisfério norte e outro no hemisfério sul) e visitar o Planetário, no Pavilhão Colonial há uma miniatura do Centro Histórico de Quito com todas as igrejas, edifícios republicanos, monastérios e conventos. Há também réplicas de ocas indígenas e uma exibição sobre o beneficiamento do cacau, como era feito pelos índios. Lanchonetes servem lanches/almoço e pode-se descansar um pouco à sombra. Entretanto, o grande barato do passeio é sem dúvida carimbar seu passaporte! Fomos com o Quito Bus Tour (30 dólares por pessoa) e o ingresso para o parque já estava incluído. Adoramos a visita e adoramos Quito!
Veja também:
Santa Cruz de La Sierra e Samaipata
Post muito interessante, rico em informações! Gostei!
Parabéns ao casal!
CurtirCurtir