Colonia del Sacramento

En un mundo de plástico y ruído, quiero ser de barro e de silêncio. (Galeano)

A frase do escritor uruguaio Eduardo Galeano resume bem o que tanto turistas como locais vão procurar em Colonia del Sacramento – um oásis de tranquilidade e simplicidade. A cidadezinha colonial nos dá a impressão de que o tempo parou. Rica em cultura, é o passeio ideal para quem passa alguns dias na capital, pois fica a apenas duas horas de Montevidéu.

1516 (2)

Em nossa primeira viagem ao Uruguai marcamos o passeio para lá no Hotel Balmoral. A van saiu do hotel às 08:00 da manhã e no caminho paramos também na Nueva Helvetica (uma pequena Colônia Suíça) para conhecer. Da segunda vez, já mais experientes e a com a família, compramos as passagens Montevidéu-Colonia direto no site da COT e, no dia do passeio, pegamos o ônibus às 09:30 no terminal Tres Cruces (a rodoviária). Os bilhetes, para quatro pessoas, saíram por 1.560 pesos (cerca de R$193,00), por trecho (ida/volta). E em nossa terceira visita, fomos novamente com a COT.

20211108_151146

Muita História

Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, Colonia del Sacramento é um pequeno vilarejo, com um farol, a igrejinha del Santíssimo Sacramento (de 1680), ruazinhas de paralelepípedos como a Calle de los Suspiros, vários restaurantes e pousadas.

Desde o Tradado de Tordesilhas de 1494 essa área era objeto de disputa entre as coroas portuguesa e espanhola. A vila fundada em 1680 era um assentamento português desde o início o século XVI, mas ficou estabelecida do lado espanhol da fronteira com o Brasil. Já as Missões Jesuítas no Rio Grande do Sul foram estabelecidas por padres espanhóis em território que pertencia a Portugal. A história diz que os reis de Espanha e Portugal teriam feito um acordo para “trocar” Colonia del Sacramento pelas Missões, mas os índios se recusaram a deixar os territórios que ocupavam há quase dois séculos, o que levou a um enorme massacre dos guaranis e o fim das missões do lado brasileiro (hoje, quem vai à região encontra somente as ruínas). Assim, em 1778 Colonia passou a pertencer definitivamente à Espanha.

Portón de Campo

Monumento histórico, erguido em 1745 por ordem do governador português Vasconcellos, o Portón de Campo é um portão de pedra junto à ponte levadiça de madeira que ligava o antigo forte ao atual bairro histórico. Antigamente era a única entrada por terra da cidade murada de Colonia e havia um fosso de vários metros circundando a muralha. A outra entrada era somente pelo Mar del Plata. Aproveitamos e tomamos um sorvete de dulce de leche na sorveteria logo em frente antes de ir adiante na exploração da cidade. Passear por ali é muito agradável.

Atravessando o Portón del Campo você chega à Plaza Mayor, já seguindo a muralha para a esquerda vai encontrar o Bastión de San Miguel e ao entrar na Calle de San Pedro verá um lindo painel de azulejos em homenagem a São Miguel.

Plaza Mayor

A Plaza Mayor de Colonia data da fundação da cidade e fica entre a famosa Calle dos Suspiros e o Farol. Aborrizada e bem cuidada, no meio estão as ruínas da Casa de Los Gobernadores, um casarão português do qual sobrou a fundação de pedra. Através dela pode-se observar que a estrutura tinha quatro plantas com vários quartos e um pátio interno. Por ser um sítio arqueológico, não se pode circular no interior, mas o local tem placas explicativas. Vale a pena olhar com calma.

Igreja del Santíssimo Sacramento

A ação do tempo foi deteriorando sua estrutura e ela teve que passar por várias reformas, inclusive por conta de um incêndio que destruiu toda a cobertura que era de madeira. Hoje, caiada, quem olha por fora não vê a construção de pedra, mas por dentro é possível observar um espaço que foi descoberto deixando a pedra bruta à mostra, além de uma de suas grandes colunas. Sua simplicidade a faz muito acolhedora.

Calle de Portugal

Descer a Calle de Portugal (ela dá de frente com a Igreja Matriz) é uma delícia. Faça com calma, apreciando as construções portuguesas e as floradas de bougainvilliers e até mesmo carros antigos transformados em floreiras.

IMG_5154
Calle del Colegio

Outra ruazinha gostosa é a Calle del Colegio. Já imaginou estudar num colégio que existe desde 1717? Ele foi o primeiro centro de ensino do Uruguai e é um dos vários Patrimônios da Humanidade existentes em Colonia.

Calle de los Suspiros

A Calle de los Suspiros é a ruela mais famosa da área histórica de Colonia. Ela fica ao lado da Plaza Mayor e sobreviveu intacta por centenas de anos, algumas das construções coloniais são dos séculos XVII e XVIII. Há várias com as casinhas rés-do-chão em pedra e com telhado de madeira, alguns antigos edifícios com reboco de barro e fachadas pintadas de amarelo ou vermelho, várias árvores e o pavimento é todo de paralelepípedos. Pode-se ver farol e orla em frente.

IMG_4856

Não há muitos registros, mas a rua costumava chamar-se Ansina e acabou mudando de nome para Calle de los Suspiros. Diz a lenda que por ela passavam os prisioneiros condenados à morte. Eles eram levados para a parte mais baixa da orla e lá eram amarrados para morrerem afogados quando a maré subia. Portanto, ali davam seus últimos suspiros.

Outra lenda conta que no local havia vários prostíbulos na época colonial e os marinheiros iam para lá tão logo pisavam em terra firme. Quando passavam pela rua, suspiravam pelas moças – daí o nome.

Dica: Não deixe de visitar os museus da cidade! Visitamos alguns e escrevemos sobre eles no post Museus de Colônia Sacramento

Calle de las Misiones do los Tapes

Outra ruazinha antiquíssima é a Calle de las Misiones de los Tapes. O nome deriva da missão jesuítica criada ali para a evangelização dos índios Tapes, uma tribo aparentada com os guaranis. Desça por ela a partir da Plaza Mayor, esquina com o Museu Municipal, e vá apreciando a viagem no tempo!

IMG_7598

O Farol

O farol data da época da disputa entre espanhóis e portugueses pelo território e, depois de inúmeros naufrágios, foi construído para direcionar os barcos que chegavam à cidade. Utilizado por muitos anos, ele foi testemunha de várias batalhas navais. O atual farol é de 1855 e fica ao lado das ruínas do Convento de São Francisco. Pode-se subir até o alto para contemplar a linda vista do Mar del Plata e da cidade velha – até a porta da citadela. O farol fica aberto todos os dias durante o dia e só fecha ao entardecer. No verão há fila para subir, por conta do grande número de turistas. A entrada custa 36 pesos uruguaios (cerca R$4,50) por pessoa.

IMG_6919

Rambla, Punta de San Pedro e Magalhães

O Bastión de San Pedro de Alcantara fica no Paseo de San Gabriel. Seguindo a Rua Paseo de São Pedro ou descendo a Plaza Mayor em direção ao rio. É uma ponta da cidade com uma linda vista para o Rio da Prata. Há também um mirante e uma placa em homenagem aos fundadores da cidade, sob enorme bandeira do Uruguai.

A expedição de Fernão de Magalhães, o navegador português, foi a primeira a circunavegar a terra. Preterido em seu país, ele ganhou o apoio do Rei da Espanha para a viagem e partiu de Cádiz em 1519 com 240 homens. Logo ao entrar no Mar del Plata (chamado Mar de Solís) observaram na área índios canibais e viram também uma elevação, que chamaram Montevidi. A expedição era composta de 5 navios (San António, Trinidad, Concepción e Santiago) e permaneceu em frente à “Siete Islas” de la Enseada de San Gabriel (hoje Colonia) de 16 a 20 de janeiro de 1520. (Você pode ver essa aventura na série ‘Sem Limites”).

Seguindo a rambla vai encontrar uma placa marcando o local onde os marinheiros teriam erguido uma cruz.

IMG_5115

Dica: depois de tanto caminhar você certamente estará com fome. Dá uma olhada no nosso post Comer e beber em Colônia e veja alguns lugares legais.

Onde ficar?

Das três vezes que visitamos a cidade nos hospedamos em duas. Abaixo contamos nossas experiências.

Posada La Juanita

Nós não dormimos na cidade na primeira viagem porque já tínhamos todas as noites marcadas em Montevidéu (só conseguimos pegar o pôr do sol). Já desta vez decidimos pernoitar pelo menos uma noite em Colonia e não nos arrependemos!

Escolhemos a Posada La Juanita, na Calle del Comercio, na cidade velha, justamente por isso: é velha! A casa é do século XVII, toda de pedra, mas por dentro… uma belezinha, toda decorada em estilo vintage. A hostess, Eva, também foi muito bacana conosco e o café da manhã é bom. Nos apaixonamos pelo lugar. Fizemos as reservas pelo Booking.com e os dois quartos saíram por 136 dólares.

Posada La Manuel Lobo

A poucos passos da Igreja Matriz na Cidade Velha de Colônia Sacramento, em nossa terceira visita a Colonia escolhemos a La Manuel Lobo, justamente pela localização. Nossa surpresa ao chegar foi saber que os donos são os mesmos da La Juanita. Fomos recebidos pela Carolina, uma menina fantástica! Atenciosa, simpática e que conversou muito conosco e nos deu muitas dicas. Foi como ficar três noites na casa de uma amiga. Muito descontraído e relaxante. Além disso o lugar é um charme, muito tranquilo, limpíssimo e bem decorado. Nosso quarto era amplo e gostoso, o banheiro grande e a água abundante. O café da manhã tinha muita coisa gostosa, suco de laranja natural e fresco, doces artesanais… enfim. Tudo de bom! Adoramos e recomendamos muito para casais e famílias. Não tem erro!

IMG_5043

“Antes de iluminar mi celosía tu bajo sol bienaventura tus quintas (…) Ciudad que se oye como un verso. Calles con luz de patio  (Borges)

Uma das coisas mais bacanas de Colonia são as arandelas com lâmpadas de luz amarelada que iluminam as ruas. Esse charme colonial está em cada esquina e, à noite, a pouca luz que geram dá ao vilarejo um ar de mistério.

IMG_E5251

E assim deixamos a tranquilidade de Colonia na manhã seguinte… já com vontade de voltar. Se você gostou, arruma as malas!

20211106_163342

Veja também:

Comer e beber em Colonia

Museus de Colonia del Sacramento

Turistando a velha Montevidéu

Tango em Montevidéu sim Senhor!

Comer bem em Montevidéu

Feira de Tristán Narvaja

Punta Carretas, Rambla e Farol

Punta del Este

Casapueblo e Vilaró

Publicado por Adelijasluk

Adeli é formada em Letras e pós graduada em Recursos Humanos, fala quatro línguas e adora conhecer outras culturas. Curiosa e teimosa, nas horas vagas planeja itinerários próprios para as viagens anuais com o marido. Edevaldo é funcionário público e cursou geografia e informática. Paciente, nas horas vagas estuda maneiras sensatas de viabilizar os itinerários da esposa. Viajam por conta própria e juntos já conheceram 208 cidades em 33 países.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: