Na Quebrada de Humahuaca o Carnaval só começa com o “Desentierro del Carnaval”. A tradição é que todo ano, na quarta-feira de cinzas, um boneco representando o “diabinho” do Carnaval é enterrado, literalmente! Fazem um buraco na terra, nos morros que circundam as cidades, e lá enfiam o “diablito” para que ele descanse até o ano seguinte. Por isso o Carnaval só começa com o desenterro! Todo mundo se reúne próximo dos morros para assistir a cerimônia e aí a festa começa. Dos “mojones” descem então os foliões vestidos com suas fantasias de diabo, muito coloridos, com seus chifres e rabinhos, gritando, dançando e agitando o povo, ao som de “Solta-me Carnaval”.
“Fiesta de la quebrada humahuaqueña para cantar… Erke, charango y bombo, carnavalito para bailar” (El Humahuaqueño)
Assistimos ao desenterro em Tilcara. Não sabíamos bem onde ele aconteceria, mas não foi difícil descobrir, pois no Sábado por volta das 14:00 fomos seguindo o povaréu se embrenhando pelos senderos até descobrir onde a bagunça iria começar. Um palco já montado no meio da clareira nos indicou o lugar. Aos poucos o morro em volta foi enchendo de gente. Nos acomodamos no barranco e lá ficamos para acompanhar a brincadeira.
“Carnaval del Norte va bajando Salta y Jujuy… suenan las cajas, cantan bagualas… se hace que el diablo va a bailar… que la alegria se vuelva vida porque llego el Carnaval” (Los Tekis)
Sol de rachar… descobrimos também porque os chapeuzinhos de feltro colorido eram tão populares. A dica é: muito protetor solar, roupas de tecido bem levinho, óculos de sol e tênis (os morros são áridos e cheios de pedrinhas).
Notamos também que o pessoal levava grandes garrafas térmicas para cima e para baixo e ficamos curiosos para saber o que tanto bebiam. O engraçado é que, mesmo com um calor dos infernos (com diabo e tudo), o povo parece não se importar e, ao contrário daqui, bebem vinho e não cerveja!
“Estos carnavales… ¿Quién inventaría? Él que los inventara, borracho estaría…” (Tumay Tumay)
Uma das agradáveis surpresas foi a apresentação no pequeno palco da musicista Micaela Chauque, que já tínhamos ouvido na pracinha de Tilcara no dia anterior.
Desfile de Comparsas
Assim como já tínhamos visto no Uruguai, por lá também tem desfile! As tradicionais “comparsas” – os nossos bloquinhos – desfilam por toda a Quebrada de Humahuaca no sábado, domingo e na segunda de Carnaval. Elas são várias e normalmente familiares e antigas, como a Comparsa Pecha Pechas, os Caprichosos de Tilcara, os Pocos Pero Locos, a Flor de Cardón Huichaira, os Paseanderos de Juella , los Gosairas, entre outras. Em Tilcara elas normalmente se reúnem no cerro para o desenterro e por lá ficam, fazendo festa.
“Comparsa No Somos Nada… Comparsa No Somos Nada… La alegría del Carnaval…” (Los Tekis)






Carnaval sem Samba?
Isso mesmo! Na Quebrada a música tradicional de Carnaval é muito particular e as festas de tradição andina, herança dos incas, muito animadas e coloridas. Os instrumentos são o erke (uma espécie de corneta super longa), o charango (uma violinha do tamanho de um bandolim) e o bombo (o nosso bumbo). A flauta típica dos Andes também é usada e seu som doce é uma delícia! Já entramos no clima antes mesmo de ir, ouvindo muito uma das bandas mais queridas da região e de toda a Argentina – LOS TEKIS. E foi justamente atrás do show do Los Tekis que enfrentamos a estrada para ir à Jujuy na noite do Sábado de Carnaval. Já havíamos comprado nossos ingressos antecipadamente pela internet, aqui no Brasil mesmo, pois o negócio é bem concorrido.
Combinamos o transfer com a dona Verónica, que nos levou de Tilcara até a Cidade Cultural (o pavilhão de shows da cidade), que fica na Ruta 9, no bairro de Alto Padilha. Começava às 22:00 e eu queria chegar às 20:00, mas mesmo saindo às 19:00, só chegamos às 21:00, tamanho o engarrafamento na estrada. Uma vez lá, combinamos de ela nos apanhar de volta à 01:00 da manhã para voltar ao hotel em Tilcara. O que não sabíamos era que, como era de se prever, eles seriam os últimos a tocar. Assim, vimos um sem número de outras bandas antes! Chuva que Deus mandava, mas pelo menos estávamos no galpão coberto e conseguimos nos divertir. Sem dúvida foi uma experiência diferente.
“No llorés, Carnaval, que no ha terminado… Linda flor, no llorés… No somos nada está acá ¡Salud!” (Los Tekis)
A vida enriquece quem se arrisca a abrir novas portas e certamente deixamos a Quebrada de Humahuaca muito mais ricos, mas não antes de visitar uma montanha e um salar! Confira no post Tumbaya e Salinas Grandes.
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Obrigada querida! 29 países já… esse ano iríamos para outros 4, mas a pandemia não deixou. Assim, o recurso é escrever nossas memórias! Um abraço
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