Às margens do rio Danúbio, a pequena Bratislava tem apenas 367 km² e ainda é um destino pouco turístico, principalmente para brasileiros. Os próprios eslovacos brincam com a fama da cidade e nas barraquinhas da feira a gente encontra até camisetas com a frase “Where the fuck is Bratislava?” (Onde diabos fica Bratislava? – numa tradução mais bem educada).
Para nós a cidade foi uma grata surpresa e contamos um pouco aqui no Blog sobre nosso passeio por lá. Chegamos às 05:00 da manhã vindos de Cracóvia (viajamos de trem noturno com a Polrail), o que nos poupou tempo para aproveitar desde o primeiro dia.
O centro histórico é muito bem conservado, tem uma arquitetura linda e é bem seguro. As mais famosas estátuas da cidade ficam lá. Além do Castelo no alto do morro, o Palácio Primacial e o Portão de São Miguel se destacam na paisagem. Durante o dia a cidade enche com as excursões que vem de Viena (que fica a apenas 1 hora de distância), mas Bratislava merece umas 3-4 noites por si só. À noite, tudo fica mais tranquilo e o ideal é sair para jantar cedo. Staré Mešto tem vários bons restaurantes e bares e passear pelas ruas é muito gostoso. Nós nos sentimos muito tranquilos em caminhar, mesmo pelos becos e ruelas menores e mais escuros. A Cidade Velha é a nossa melhor memória de Bratislava.
Ibis Bratislava Centrum
O hotel é padrão Ibis, ou seja, sem luxo, entretanto está muito perto de Staré Mešto, na Zamocka ulica, 38 (ulica = rua). Era só cruzar a pista do bonde, andar alguns metros e, à direita, descer uma escadaria e já estávamos praticamente no Portão de São Miguel. Ele também fica bastante próximo do Castelo de Bratislava. Os funcionários falam bem inglês e são eficientes (não particularmente simpáticos – o que, como já comentamos aqui no Blog, é uma característica eslava – mas bem educados). Os quartos são pequenos e a cama de casal também, mas, para quem vai ficar poucas noites, não incomoda. O preço vale muito a pena, uma vez que a Eslováquia adotou o euro como moeda, ou seja, a cidade não é muito barata para brasileiros. Conseguimos ainda utilizar pontos da Accor e dos 251,30 euros tivemos que pagar apenas 13,60. Negócio da China!
Nessa escadaria, que dá acesso à Staré Mesto (a Klariská ulica), uma loja de roupas e presentes nos chamou a atenção – a Twigi. Ela fica do lado direito (de quem desce) e tem muita coisa legal. A vitrine traz a colorida arte naïve eslovaca. Adoramos!
Hlavné Námestie e Stara Radnica
Caminhando pela Klariská logo chegamos na passagem que dá acesso à Hlavné Námestie (námestie = praça), que fica entre a rua Radnicna e a Rybárska Brána e é o coração da Cidade Velha. Ampla e rodeada por edifícios medievais, neoclássicos e barrocos, nela ficam a antiga Prefeitura com sua Torre (a chamada Stara Radnica), o Palácio Primacial (onde está a famosa estátua de São Jorge e o Dragão), além de lojas de souvenirs tradicionais eslovacos (itens de qualidade e muito bonitos) e restaurantes.
Há também uma linda fonte que fica toda iluminada à noite. É uma delícia perambular por ela e o fizemos várias vezes durante nossos três dias na cidade.
O Soldado Enamorado
A estátua de Napoleónov vojak (o Soldado de Napoleão) fica na Hlavné Námestie, debruçado sobre um banco, onde se pode sentar e tirar fotos. Napoleão e seu exército estiveram em Bratislava em 1805 e diz a lenda que um soldado se apaixonou por uma garota local e acabou ficando na cidade, tornando-se produtor de espumante. Ele se chamava Hubert – que é também o nome da marca mais conhecida de espumantes da Eslováquia. Logo do outro lado, há outra estátua de um soldado em pé em sua cabine – em frente a uma loja de souvenir.
Palácio Primacial
Antigamente, o Palácio Primacial era onde vivia e despachava o Primaz – o arcebispo da cidade – que acumulava as funções cívica e religiosa. Hoje ele ainda é a sede da Prefeitura e um dos prédios neoclássicos mais bonitos de Bratislava. Ele foi construído no século XVII e no pátio interno – logo na entrada, fica uma linda escultura de São Jorge Guerreiro matando o dragão. Muita gente só tira fotos da estátua e não chega a visitar o Palácio por dentro, mas vale a pena fazê-lo, pois ele também é a sede do Museu Municipal. A vista da torre é também muito legal e rende ótimas fotos da praça Hlavné e dos prédios coloridos do centro velho, mesmo através dos vidros das janelas.
Ao longo dos séculos, Bratislava foi povoada por celtas, romanos, alemães, húngaros e judeus e eles foram responsáveis pela surpreendente diversidade cultural e arquitetônica da cidade. Uma joia!
O Mestské Muzeum (Museu Municipal) traz a história da cidade de Bratislava desde a idade média, a arte, o comércio, as cerimônias de coroação, estilo de vida da nobreza, arte sacra e cultura. Também há documentos históricos que dão conta da fundação da cidade. Ao entrar no prédio encontra-se um pátio com duas entradas. A entrada principal do museu é à esquerda, do lado oposto há um hall com exposições temporárias. Quando fomos havia no subsolo uma exposição sobre Tortura, com equipamentos e explicações sobre os diferentes métodos usados na idade média. Havia inclusive uma Iron Maiden. Assustador! A entrada custa 5 euros por pessoa.
Passear pelo pátio interno do Palácio também é muito gostoso. Adoramos a visita!
Slovak House
Almoçamos no Slovak House em nosso primeiro dia em Bratislava. Como estávamos hospedados bem próximo dali, foi o primeiro restaurante de comida típica que encontramos e nos pareceu muito animado. Realmente, localizado na principal rua de Staré Mešto (Michálska ulica, 2), com mesas ao ar livre e bem movimentado, costuma estar bem cheio. Pedimos um strogonoff com uma massinha (tipo o spaetzle alemão) e um peixe empanado, ambos muito gostosos. Para acompanhar cerveja, pois o dia estava quente! O serviço é um pouco demorado, portanto não tenha pressa. Tampouco é muito barato e é importante também conhecer um pouco a comida tradicional antes de pedir. Quem pede o que não sabe o que é acaba se desapontando. Não foi o nosso caso pois adoramos comida eslava e o cardápio em inglês ajudou muito! O total da conta foi 52,90 euros – os 10% do serviço já vêm incluído. Bem salgadinho, mas dentro do padrão do miolo da Cidade Velha. Barriga cheia… hora de começar as andanças!
O famoso Sr Čumil
Nenhuma viagem a Bratislava está completa sem uma foto ao lado do inusitado Sr Čumil. Apelidado de Čumil “the Peeper” (o Observador), dizem que ele está descansando após limpar o bueiro ou olhando por baixo das saias das mulheres. A estátua do artista Viktor Hulík é de 1997 e é muito fácil de encontrar. Fica pertinho da Rua Michalská, na Rybárska Brána nº 2 e do outro lado da rua há uma sorveteria artesanal. Há sempre muita gente em torno da estátua e você pode ter até que ficar na fila para tirar uma foto, mas vale a brincadeira!
Arthur Ice Cream
Aí, como qualquer bom Curitibano, não podemos ver uma fila que já vamos entrando, né?! Como essa estava grande a gente pensou “deve ser um sorvete de outro mundo”. Resumo da ópera: uma excelente fila, animada, bem organizada… o sorvete? Nada excepcional, mas para um dia quente foi uma ótima pedida, ainda mais por ser natural – sem adição de açúcar. (Eles também tem sorvetes veganos e sem glúten). A sorveteria Arthur fica na Ventúrska 7, pertinho da Rybárska.
O Feliz Sr Schone
Também na Rybárska Brána há outra estátua interessante – a de Shone Naci – o Feliz Sr Shone. Não tem quem passe por ela sem querer tirar uma foto. Ela é a única estátua prateada de Staré Mešto (as demais são em bronze) e é também a única de alguém que realmente existiu. Seu nome era Ignac Lamar e ele viveu em Pressburg (antigo nome de Bratislava) na virada do século 19/20. A diversão está em encaixar a cabeça no chapéu para a foto. Não consegui fazer direito por ser baixinha, mesmo assim adorei!
Portão de São Miguel – Michalská Brána
A Michalská ulica é uma das ruas mais importantes da Cidade Velha pois nela está um dos símbolos de Bratislava, o Michalská Brána (Portão de São Miguel), com sua torre do século 14. Por ter quase 700 anos é de se admirar que esteja em pé! É importante considerar que a cidade é viva e não um museu. Assim como pelo Portão de São Floriano em Cracóvia, pessoas vão e vêm, passando por ele todos os dias, turistas e locais… exatamente como faziam antigamente, e é um privilégio também poder fazer isso! Bem no meio do portão, no piso, está o marco zero da cidade, que mostra a distância de Bratislava em relação a 29 capitais no mundo. À noite a rua e a torre ficam iluminadas e a atmosfera medieval é ainda mais marcante.
A Lenda da Dama Negra
Diz a lenda que a torre do Portão de São Miguel é assombrada por uma Dama Negra há séculos e que quem passar por ali à noite poderá encontrar a alma penada. Seu nome era Úrsula e, segundo o folclore, ela e sua amiga Ágata se apaixonaram pelo mesmo homem. Com raiva por ele ter escolhido Ágata, Úrsula a acusou de bruxaria e a amiga acabou morta na fogueira da Inquisição. Consumida pela culpa, sua alma está condenada a vagar eternamente, sem encontrar a paz… Ainda bem que não demos de cara com ela!
Lendas à parte, cerca de 400 mulheres inocentes foram queimadas vivas na cidade pela Inquisição. A primeira a morrer foi Agáta Tóthová-Barabášová, em 1602 . Ela ficou conhecida como a primeira bruxa de Bratislava.
Rua Baštová e a Casa do Carrasco
Na rua Baštová (que é super estreita – praticamente uma passagem que dá acesso ao Portão de São Miguel) ficava a casa do Carrasco de Bratislava. A curiosidade do lugar é que na idade média o carrasco não era somente o responsável pelas execuções em praça pública, como estamos acostumados a ver nos filmes, mas era uma espécie de vigilante sanitário, pago pela prefeitura. Seu trabalho consistia também no controle de doenças e pragas na cidade. O último carrasco foi Augustín Spindler, que executou pessoas até 1849. Hoje no local há um bar underground, o U Kata.
Rua Sedlárska
Ali perto da Michalská há outra rua muito gostosa e cheia de restaurantes e bares, a Sedlárska ulica.
A pérola da rua é um antigo café em estilo parisiense, o Konditorei Kormuth. Tomar um café e comer um doce lá faz com que qualquer um sinta-se membro da nobreza austro-húngara, pois além de histórico ele é simplesmente lindo por dentro! A vitrine é uma atração à parte – os bonecos que “trabalham” na confeitaria tem movimentos e todo mundo para em frente para ver a brincadeira!
Outra atração da Sedlárska ulica (nº 368/5) é a Bon Manufaktur, uma loja de doces que é puro encanto! Só a vitrine faz a gente voltar a ser criança e há inclusive workshops em que os clientes podem fazer seu próprio pirulito e ainda ganhar um diploma de doceiro! Não tivemos tempo de participar, mas achamos a ideia muito legal!
Obchod v Muzeu – Um exemplo
O Obchod v Muzeu é também conhecido como The Oldest Shop in Bratislava, ou seja, a loja mais antiga da cidade. E é exatamente isso – uma loja que, por amor à história e empenho em preservá-la, vem mantendo há gerações objetos e mobiliário antigo, oferecendo aos clientes uma experiência de volta ao tempo, além de produtos como chocolates, biscoitos e souvenirs. Aliás, ali se vende o famoso “rozky”, um biscoito recheado com um doce de sementes de papoula, muito gostoso e tradicional na Eslováquia. Realmente um exemplo a ser seguido por outros comerciantes que possuem estabelecimentos em locais históricos e cuja visitação deveria ser incentivada pelas agências e autoridades de turismo. O museu fica na rua Biela 6, pertinho da Hlavné Námestie. Compramos ali os nossas roskys pra sair comendo durante a tarde (cada pacotinho saiu por 4,50 euros).
Ventúrska Ulica e Palácio Pálffy
O Pálffy é um palácio de estilo barroco na rua Ventúrska construído pelo conde Leopold Pálffy em 1747. Ele é famoso porque em 1762, quando tinha apenas 6 anos de idade, Wolfgang Amadeus Mozart tocou um concerto ali. Uma placa logo na entrada conta essa história. De 1993 até 2012 o prédio também foi a sede da embaixada da Áustria. A rua Ventúrska também é muito gostosa para passear e tem vários restaurantes agradáveis e bem decorados.
Café Bratislava
Passamos pelo Café Bratislava na Rybárska Brána, 206/9 e o achamos simpático. Paramos para um lanche no fim da tarde e embora o restaurante estivesse quase vazio a garçonete demorou quase 20 minutos para vir à mesa tirar o pedido. Pedimos um café e um waffle cada um. Os cafés eram grandes e vieram bem quentes e gostosos, mas os waffles, embora bem bons, demoraram muito e só chegaram quando o café estava quase no fim. Para pagar foi outro parto, pois a garçonete demorou pelo menos mais uns 15 min só para trazer a conta. Pressa definitivamente não está no dicionário dos eslovacos!
Hviezdoslavovo Námestie
Outra praça de Staré Mešto que tem estátuas interessantes é a Hviezdoslavovo. Além da do poeta eslovaco que dá nome à praça, a alguns metros de distância está a de Hans Christian Andersen, que embora fosse dinamarquês, visitou Bratislava e se encantou, dando-lhe inclusive o apelido de “cidade dos contos de fadas”. De origem muito humilde (filho de um sapateira e uma lavadeira), perdeu o pai aos 11 anos e mesmo assim conseguiu estudar e encontrar a fama como escritor infantil. O Patinho Feio, A Pequena Sereia, A Roupa Nova do Rei e O Soldadinho de Chumbo são suas estórias mais conhecidas, mas ele escreveu centenas de contos.
U Zlatého Bažanta
Fomos ao U Zlatého Bažanta para jantar, pois nos pareceu um bom lugar e não muito caro, além de ser bem localizado (na Dunajská 2304/4) e com mesas ao ar livre. Estava pouco movimentado e o serviço foi rápido. Pedi um prato com carne, uma espécie de filet à cavalo (com ovos e bacon) e o Ede preferiu o frango empanado recheado com queijo e presunto, além de uma salada para acompanhar. Ambos pratos já vinham com uma pequena salada, mas o garçom não nos avisou. Pedimos também duas taças de vinho da casa. No geral estava gostoso e estávamos realmente com fome – no final o preço foi um pouco salgado – 48,50 euros. Dica: opte pela cerveja!
Curiosidade: Você vai notar que vários endereços da cidade possuem dois números. Por exemplo Rybárska Brána, 206/9. Ocorre que antigamente as casas e edifícios eram numerados por sua ancestralidade e não pela localização – por exemplo, a casa 9 foi a 9ª construção da Rybárska Brána. Isso era um verdadeiro pesadelo para os carteiros! Entretanto, quando a Imperatriz Maria Teresa autorizou a mudança na numeração, fez questão que os edifícios antigos mantivessem ambos os números – o novo e o antigo.
Mais uma voltinha pela cidade à noite, olhando as lindas vitrines e lá se foram nossos primeiros dois dias na Eslováquia! Mas a aventura ainda não acabou!
No próximo post exploramos o Castelo de Bratislava e arredores e também a famosa Igreja Azul. Acompanhe!
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