Terceiro e último dia em Bratislava, logo após o café da manhã, resolvemos subir a pé do hotel Ibis Centrum até o Castelo, que não fica muito longe. Foi uma boa ideia pois chegamos logo que ele abriu (às 09:00) e evitamos as dezenas de ônibus turísticos que começam a chegar a partir das 10 da manhã.
Bratislava Hrad
O Castelo de Bratislava pode não impressionar, pois não é o que sempre imaginamos quando pensamos em um castelo. Entretanto, ele é a sede do Museu Histórico da Eslováquia e apenas o trabalho de arqueologia realizado para recuperá-lo já vale muito a visita. Diferentemente do que parece para quem só o vê por fora, do pátio frontal, ele não é pequeno.
Sabe-se que o local onde ele está já era habitado desde a Idade da Pedra e o primeiro registro escrito sobre o castelo é do ano 907 da era cristã. Ele foi remodelado pelo rei Sigismundo de Luxemburgo ainda no século XIII, em estilo gótico. Depois pertenceu à dinastia dos Habsburgos (da Hungria e Áustria) e foi todo reformado em estilo barroco à mando de Maria Teresa de Habsburgo (1740-1780) e virou uma luxuosa residência real. Em 1811 pegou fogo e permaneceu abandonado até 1953, quando começou a ser restaurado.
Dentro há uma exposição sobre a ocupação romana (com moedas e até uma estátua em bronze do imperador Cesar Augusto em tamanho natural), além de uma galeria de quadros com várias pinturas, como a da própria Imperatriz Maria Teresa. Entretanto, o que mais gostei foi a žena v čepci ou “Woman in Cap” (de 1809) que retrata uma simpática velhinha usando uma típica touca branca. Também nos divertimos colocado a cabeça num dos painéis para tirar fotos.
A entrada custa 8 euros por pessoa e o castelo fecha nas segundas. Você pode checar todas as informações aqui.
Café Nervosa
O Café Nervosa é muito perto do Ibis Bratislava (na Zamocká ulica, 30) e resolvemos almoçar lá na volta da visita ao Castelo, pois já era tarde e estávamos cansados e com fome. Foi uma boa surpresa pois, já acostumados com os preços de Staré Mešto, nem acreditamos quando pagamos somente 14 euros por uma pizza, um prato do dia (um ensopado de carne e legumes com arroz) um refrigerante e um suco de laranja. A comida estava gostosa e o atendimento foi bem rápido. O Ede se esbaldou, afinal seu prato favorito é o prato cheio! O Nervosa também tem sanduíches e pratos vegetarianos.
Depois do almoço, descemos em direção às Muralhas que ainda circundam parte da Cidade Velha.
Muralhas de Staré Mešto
Em 1291 o rei Andrej III concedeu a Bratislava um privilégio, elevando-a de povoado a cidade real, com administração independente e outros direitos, incluindo a fortificação, que teve início logo em seguida e terminou no século XIV. Das muralhas originais restam ainda 200 metros e das quatro torres resta apenas o Portal de São Miguel (o Michalská Brána – sobre o qual já falamos no post Onde diabos fica Bratislava?). Com o crescimento da cidade as muralhas foram derrubadas no século XVIII.
A história das muralhas acompanha também a história dos judeus em Bratislava, pois o mesmo privilégio concedido pelo Rei Andrej III lhes permitiu direitos de cidadãos. Em 1526 com a ameaça de uma invasão muçulmana eles fugiram, fixando-se próximo a Heiburg e Devín (a alguns quilômetros de Bratislava). Entretanto, quando o perigo passou, foram proibidos de voltar a viver dentro da cidade. Os judeus só tiveram permissão de voltar em 1848, por isso começaram a se estabelecer fora das muralhas, logo abaixo do Castelo. A partir de 1599 tornaram-se protegidos de Nicholas Palffy, o conde de Pressburg (antigo nome de Bratislava) e governador de 1551 a 1600. Mesmo assim, para poder viver na área que pertencia ao Castelo, os judeus tinham que pagar um imposto de proteção e um outro imposto de “tolerância”. (Que coisa, heim?)
Pode-se percorrer as muralhas caminhando e há várias placas informativas sobre a história da cidade e também dos judeus, em eslovaco e inglês. Muito bacana para quem se interessa em conhecer realmente os lugares que visita e quer mais que uma selfie bonita. Logo abaixo da colina do Castelo a gente já vê a torre da Catedral de São Martin e no final do caminho pelas Muralhas já dá de cara com ela.
Dom svateho Martina
A Dom svateho Martina (Catedral de São Martin), pode ser vista de vários pontos da cidade, com sua coroa dourada de 300 quilos no topo, lembrando que ela foi palco de 19 coroações reais da Eslováquia. Consagrada em 1452, a igreja de estilo gótico sofreu várias reformas e posteriormente ganhou um estilo barroco. Por dentro ela é muito bonita e tem lindas peças de arte sacra.
A Imperatriz Maria Teresa foi coroada lá no século XVIII. As coroações eram eventos que duravam vários dias e agitavam a cidade com muitos visitantes, festas e torneios. A construção está muito bem preservada e vale a pena a visitar a Catedral e imaginar como era isso tudo.
Maria Teresa era muito querida em Bratislava e há menções a ela por todo lado, pois foi responsável por várias melhorias na cidade e por colocá-la em uma posição de destaque no império austro-húngaro. Em 2017 foi lançada até uma moeda comemorativa em sua homenagem.
Franz Liszt
Em 1820, com apenas nove anos de idade o compositor húngaro Franz Liszt (1811 – 1886) tocou no edifício onde hoje fica a Biblioteca da Universidade de Bratislava deixando o público atônito com seu dom. Ao longo dos anos ele se tornou um visitante frequente da cidade e há várias placas em sua honra, assim como um busto na praça Rudnayov, nos fundos da Catedral de São Martin, em frente à Farmácia Salvator.
Farmácia Salvator
A Farmácia Salvator é um edifício neorenascentista e antiga farmácia na Rua Panská, 35, em Staré Mešto. Ela foi construída pelo farmacêutico Rudolf Adler em 1904 e hoje é um monumento cultural tombado. A linda escultura de Cristo Salvador na fachada é do artista Alojz Rigele. Várias de suas obras estão espalhadas por Bratislava (na Galeria Nacional e no Museu da Cidade), além de outras 50 cidades na Eslováquia, Áustria e Hungria.
Prešporáčik Tour
Mesmo depois de percorrer Staré Mešto a pé, resolvemos pegar o trenzinho turístico Prešporáčik e dar mais uma volta pela cidade nos embrenhando por suas ruazinhas estreitas. Foi bem divertido, pois o trenzinho é aberto e num dia quente é um passeio legal. Como crianças, já estávamos cansados, mas não queríamos parar de brincar! Com os fones de ouvido pudemos ouvir a história de vários dos locais. O mini-tour dura cerca de uma hora (com parada de 15 minutos no Castelo) e custou 10 euros por pessoa. A gente comprou a passagem na Hlavné Námestie.
Slovenské Národné Divadlo
Caminhando pela Rybárska Brána em direção à Hviezdoslavovo Námestie nos deparamos com o incrível edifício histórico do Slovenské Národné Divadlo, o Teatro Nacional Eslovaco. Ele fica na Gorkého ulica nº 2 e é realmente magnífico. O edifício em estilo renascentista é de 1886 e tem um grande duomo prateado que brilha ao sol. Logo em frente há também uma linda fonte ao redor da qual o pessoal para para descansar e se refrescar. O teatro traz montagens de peças, ópera, ballet, tanto nacionais quanto estrangeiras.
Blaue Kirche
Outra igreja imperdível em Bratislava é a famosa Igreja de Santa Isabel, mas conhecida como Blaue Kirche, a Igreja Azul. Tivemos uma certa dificuldade em achar, mesmo com o mapa, pois ela fica um pouco longe do centro velho, na Bezručova ulica nº2. Fomos a pé, um trajeto de 20 minutos a partir da praça Hlavné Namestié. Entretanto valeu a caminhada. A Blaue Kirche parece um bolo de aniversário de tão linda! O reboco parece feito de pasta americana, delicadamente espalhado, como que com uma espátula, cheio de enfeites e detalhes. Uma joia! Infelizmente não estava aberta, assim pudemos somente admirar por fora. Rende dezenas de fotos, de todos os ângulos! Vale a pena tirar um tempinho para ir vê-la.
Slovenske Národné Muzeum
Depois de 3 dias em Bratislava e de ter percorrido a cidade velha de cabo a rabo, resolvemos entrar no Museu Nacional Eslovaco para dar uma olhada, uma vez que por fora o edifício era muito bonito. A exposição que vimos foi a “Giganty”, sobre animais pré-históricos como Mamutes e Dentes de Sabre. A entrada nos custou 6 euros por pessoa e, embora seja mais para crianças, foi muito legal ver os grandes animais em cenários montados para eles. Só tínhamos visto animais assim no National History de Londres. Valeu a diversão!
Fizemos ainda mais um passeio a pé pelas redondezas para admirar a arquitetura eslovaca e nos despedir de Bratislava, afinal no dia seguinte já partiríamos para Budapeste.
Šafárikovo Námestie
A praça Šafárikovo é bem agradável e ali pertinho fica uma linda fonte cuja história é muito interessante. Na mitologia eslava um Vodník é uma criatura das águas que atrai as pessoas para onde vive e as afoga. Diz a lenda que um desses monstros, chamado Zeleniak, vive dentro da fonte com a estátua de crianças brincando com patos. Conta-se que três meninos da redondeza costumavam levar seus patos ao rio Danúbio para alimentá-los e que ali conheceram Zeleniak, que os encantou e os levou para o fundo do rio. Lá, um dos garotos ouviu a fórmula mágica que abria uma caverna cheia de ouro. Ele quis contar o segredo aos seus amigos, mas assim que abriu a boca, virou pedra!
Univerzita Komenského
Fim do dia, ainda passando pela Šafárikovo Námestie, demos de cara com o imponente edifício da Universidade Comenius (Komenského), fundada em 1919, logo após a criação da Tchecoslováquia. Ela leva o nome de Jan Amos Comenius, professor e filósofo tcheco do século XVII e é a maior universidade da Eslováquia, com a maioria de suas faculdades em Bratislava.
Dica: se estiver apertado para fazer xixi, entre numa Universidade pública! Na Europa, normalmente os banheiros são limpos e você não precisa consumir ou pagar nada. Foi o que eu fiz!
Para fechar com chave de ouro
Já tínhamos ouvido falar do Prazdroj antes da viagem e fomos procurá-lo para jantar em nossa última noite em Bratislava. O restaurante fica na Mostova ulica nº 8 e é também uma cervejaria, com um ambiente rústico e descontraído. Bem frequentado por locais, casais e famílias, foi uma ótima pedida para fugir do burburinho dos locais mais turísticos. Na parede, uma foto do presidente da Eslováquia, Andrej Kiska, que sentou-se à mesma mesa que nós. Pedimos goulash, que veio com o pãozinho cozido para acompanhar e estava delicioso e um filé de frango com risoto, muito bom também. Para beber cerveja escura e um aperol spritz. O serviço foi bom e o preço justo para a qualidade e quantidade – estávamos mesmo com fome!
E assim terminou nosso passeio por Bratislava. Amamos a cidade, sua beleza, limpeza, organização e história e recomendamos muito uma visita!
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