Além da Bósnia, fomos também à Sérvia, pela proximidade e facilidade de conexão aérea. Embora Belgrado, a capital, não seja um grande centro turístico, é uma cidade agradável e ficamos quatro noites por lá.
Bombardeada durante a Guerra dos Bálcãs no início dos anos 90, hoje Belgrado está “bombando” e foi considerada a nova capital cool da Europa pelo New York Times devido a sua agitada vida noturna. Não somos muito de balada, mas curtimos bastante andar por ela à noite, principalmente porque, assim como em Zagreb e outras cidades do Leste Europeu, nos sentimos muito seguros.
Quanto ficar
A cidade é muito cultural e às vezes é difícil calcular o tempo que vamos gastar dentro de um museu, por exemplo. Nós costumamos ficar bastante. Também adoramos bater perna e nos embrenhar pelas ruas com um mapinha na mão, por isso resolvemos ficar 3 dias inteiros e sem dúvida foi o suficiente para visitar os principais lugares com calma. Ah… é fundamental ter um mapa para andar pela cidade. Pode ser de papel, no celular, o que achar melhor, pois as atrações não são concentradas em uma mesma área.
Chegada, grana e hospedagem
Fomos para lá a partir de Bucareste com a Air Serbia e chegamos às 19:00. Achamos melhor não arriscar o metrô à noite e resolvemos pegar um táxi no Aeroporto para ir ao nosso hotel. Entretanto, descobrimos depois que teria sido bem tranquilo fazê-lo. Trocamos um pouco de dinheiro no aeroporto mesmo, em uma ATM de câmbio e 100 euros nos rendeu 11.500 dinara. (O dinar é a moeda da Sérvia). A corrida nos custou 1.800 dinara (aprox.75 reais).
Optamos pelo Mercure Belgrade Excelsior em função da localização (Avenida Kneza Milosa 5, próximo do centro), e também porque conseguimos uma barganha! Quatro noites nos sairiam 234,40 euros com taxas, mas tínhamos 8.000 pontos da Rede Accor, o que nos rendeu um desconto de 160 euros! O hotel é bacana, bem equipado, quartos redecorados, cama king size, bar e restaurante com café da manhã bem completo. Ele também conta com uma ATM de câmbio, o que nos ajudou bastante, pois nos poupou tempo.
Importante: na Sérvia é obrigatório que o hotel registre sua estada junto à polícia e lhe entregue um comprovante. Ao cruzar a fronteira para deixar o país podem cobrar esse documento e quem não o tiver poderá ter que pagar multa. Vale para qualquer estrangeiro que fique mais de 24 horas no país.
História recente
Com a morte do General Tito, o ditador que governou a antiga Iugoslávia durante o período comunista, vários países decidiram declarar-se independentes. A Sérvia era a sede do governo e, a fim de manter seu controle, atacou militarmente a Croácia, a Bósnia e o atual Kosovo e até mesmo as forças de paz da ONU, o que chamou a atenção do mundo ocidental e rendeu à Belgrado uma forte represália. Hoje reconstruída e moderna, já quase não se veem sinais dos bombardeios de 1999 e até mesmo os guias turísticos evitam falar do tema, numa espécie de negação velada.
Durante as revoltas do ano 2000, que resultaram na deposição do presidente Slobodan Milošević, mais de um milhão e meio de manifestantes tomaram a capital e o prédio da Assembleia foi um dos saqueados e depredados. Hoje ele está completamente restaurando e é realmente muito bonito.
Milošević foi presidente da Sérvia de 1989 a 1997 e da Iugoslávia de 1997 a 2000. Ele morreu de ataque cardíaco em sua cela no centro de detenção da ONU, em Haia, em 11 de março de 2006, enquanto estava sendo julgado no Tribunal Penal Internacional. As acusações contra ele incluíam perseguição por motivos de raça e religião, expulsão de 740 mil pessoas do Kosovo e massacres cometidos pelas tropas sérvias na guerra civil, onde morreram mais de 200 mil pessoas. Chamado de “O Carniceiro dos Bálcãs”, sua morte de causa natural foi um duro golpe para os que buscavam justiça. Entretanto, em novembro de 2017, Ratko Mladić, um de seus generais e chefe do exército sérvio, foi condenado à prisão perpétua. (Saiba mais em nosso post: Sarajevo e a Guerra Civil Iugoslava).
Free Downtown Walking Tour
Belgrado é grande, mas dá para percorrer boa parte da cidade a pé. Em 2h30 de free walking tour tivemos uma aula sobre o país. Fizemos o passeio sob um sol de quase 30 graus, mas valeu a pena! O tour acontece diariamente as 10:30 da manhã e o ponto de encontro é bem no meio da Praça da República, ao lado do Monumento, e os guias são facilmente identificados por suas sombrinhas amarelas. Quando fomos a Praça estava com obras, por isso nos encontramos em frente ao restaurante Boutique, ao lado.
Da Praça da República (com o Museu e Teatro Nacionais) o tour segue pelo bairro histórico de Skadarlija, passa pela única mesquita da cidade, pelo Parque e o Forte Kalamegdan, a famosa estátua de Victor, a junção dos rios Danúbio e Sava, além da movimentada rua de pedestres Knez Mihailova, terminando próximo da Catedral de Saborna.
A Myriana, nossa guia, era muito bacana e falava um inglês bom. Foi uma ótima experiência para nos localizar na cidade. Ela nos deu dicas legais de lugares para comer sem pagar os olhos da cara e ainda nos presenteou com shots de rakjia (aguardente de ameixa, típica dos bálcãs), enquanto visitávamos Skadarlija. Também nos presenteou com uma cópia da nota de 5 bilhões de dinara enquanto nos explicava sobre a hiperinflação que o país viveu após a dissolução da Iugoslávia. Depois, ao visitar o Museu Nacional, tivemos a oportunidade de ver a nota original. Adoramos o passeio e recomendamos!
Kalemegdan Park
A grande atração de Belgrado é sem dúvida o parque Kalemegdan. Com vista para o encontro dos rios Danúbio e Sava, o antigo Forte de Belgrado é na verdade uma cidadela completa. Os locais gostam de passear por ali e se misturam com os turistas. Barraquinhas vendendo souvenirs, crianças brincando e gente fazendo exercício mostram que a vida diurna da cidade é intensa.
Se tiver tempo, vale a pena passear com calma, pois o Kalemedgan tem muita coisa interessante como o Monumento da Vitória (a estátua de Victor), as Muralhas e as Torres Sahat e Nemanja, a antiga casa de banho turca Haman, as ruínas do castelo em si, além de portões, fontes, galerias e as igrejas Ruzica e Saint Petka.
Construído no ano de 1928, pelo escultor croata Ivan Meštrović, o Monumento da Vitória foi feito para comemorar a vitória da Sérvia nas Guerras dos Balcãs do início do século XX e na 1ª Guerra Mundial, sobre os Impérios Otomano e Austro-Húngaro. Ele tem 14 metros de altura e no topo da coluna está uma estátua em bronze de um homem com falcão na mão esquerda e na outra uma espada. A estátua fica de frente para o encontro dos Rios Sava e Danúbio. Ivan Meštrović (1883 – 1962) tem obras em várias cidades como Washington, Chicago, Paris (duas na Norte Dame), Bratislava e Zagreb (Estátua de Tesla e o Poço da Vida, no Teatro Nacional).
Devido à localização estratégica, sobre um morro de onde se pode ver o encontro dos rios, o local foi um ponto militar importante para a cidade. As primeiras construções do complexo datam do Império Romano, no final do século I. Eram muralhas e um forte para a proteção da cidade e para abrigar uma legião do exército com cerca de 6 mil homens. No século II, o Imperador Tito Flávio substituiu a madeira usada na construção por pedra e ao longo do tempo, ele foi sendo modificado e ampliado.
No parque Kalemedgan também costumam acontecer shows de música eletrônica ao ar livre. Quando fomos, um palco estava sendo montado, pois naquele fim de semana aconteceria o famoso festival Serbian Wonderland. Entretanto, mesmo quando não há shows o parque continua fervendo até tarde da noite, pois é gratuito e fica aberto 24 horas. Então, não tenha pressa!
Nós andamos bastante por lá pela manhã e ainda voltamos no fim do dia para ver o lindo pôr do sol e o famosos encontro das águas.
Knez Mihailova
A Knez Mihailova (Príncipe Miguel) é uma extensa rua, exclusiva para pedestres, e caminhar por ela é um programa obrigatório em Belgrado. Está sempre muito movimentada e há muitas lojas de roupas, calçados, acessórios e souvenirs.
Dica: a água de Belgrado é muito boa! (pudera… banhada pelos rios Danúbio e Sava!). Assim, a gente nem precisava comprar água mineral, pois as fontes da cidade nos presenteavam com água fresquinha! Na Knez Mikhailova tem uma!
Para quem gosta de arte, a rua é uma ótima escolha. Há galerias de arte, quadros sendo vendidos na rua em várias esquinas e músicos tocando diversos instrumentos. A Knez Mihailova tem um quilômetro e termina no Parque Kalegmendan. É tudo muito perto, dá para ir a pé.
Há sorveterias para todo lado e num dia de verão, como os que pegamos, elas são a melhor pedida! Também é muito bom passear pelas ruas transversais, cheias de bares e restaurantes, como a linda Kralja Petra com suas mesas ao ar livre cobertas por sombrinhas vermelhas.
Saborna Crkva
A Catedral de São Miguel Arcanjo (Saborna, em Sérvio) é a catedral ortodoxa de Belgrado e um dos lugares de culto religioso mais importantes do país, pois é a sede do patriarcado da igreja ortodoxa sérvia. Construída entre 1837 e 1840 ela fica no cruzamento das ruas Kralja Petra e Kneza Sime Markovića. Nesse mesmo lugar onde ela está hoje havia outra igreja muito mais antiga também dedicada a São Miguel. Ela aparece pela primeira vez, oficialmente, no relato de um padre peregrino entre 1573–1578.
Kafana”?”
Terminado o free walking tour já passava das 13:00 e estávamos com fome, mas o calor estava de matar. Assim, aceitamos a sugestão da Myriana, nossa guia, e fomos ao “?” na Kralja Petra 6. A “?” é a taberna mais antiga ainda em operação em Belgrado e fica num edifício de quase 200 anos. O restaurante é uma verdadeira kafana sérvia com mesas ao ar livre de frente para a rua e também um pátio interno. Conta-se que como ela foi aberta em frente à Catedral de Saborna os donos queriam chamá-la de Kafana Catedral, o que não agradou muito ao bispo, afinal, kafana significa taberna. Assim, para zombar do clero, resolveram deixá-la sem nome – por isso o ponto de interrogação. O lugar tem uma ótima comida típica e pedimos pimentões assados frios (uma delícia!), pão pita e saladas de tomate com queijo de cabra e de repolho. Para beber, um chop da casa bem geladinho. Comemos até a última migalha e pagamos 1.489 dinara (67 reais). Adoramos!
Teatroteka Club & Restaurant
Fomos procurar o Teatroteka para jantar em nosso primeiro dia em Belgrado por indicação da Myriana, nossa guia, que nos apontou o restaurante quando passamos por ele durante o free walking tour. Ela tinha comentado que o local era bacana, frequentado mais por locais, estudantes e artistas. Meio escondidinho no centro da cidade, na Gospodar Jevremova 19, o Teatroteka tem um lindo jardim e uma atmosfera muito agradável. Chegamos cedo… só tinha outra mesa ocupada. O garçom não falava inglês e isso atrapalhou um pouco nosso pedido, então acabamos aceitando a sugestão dele. No final a comida era bem gostosa. Comemos o kajmak (creme de queijo) com pão pita, karađorđeva šnicla (schnitzel enroladinho) que veio com batatas fritas e a sopska salata (a salada sérvia, com tomate, pepino, pimentão vermelho e muito queijo de cabra). Tomamos ainda uma cerveja e dois refrigerantes. Tudo saiu por 2300 dinara (pouco mais de 110 reais). Gostamos muito do lugar!
A língua
O sérvo-croata, assim como as demais línguas eslavas, é muito diferente para nós, brasileiros. Diferente da Croácia onde se adotou o alfabeto latino, na Sérvia usa-se o cirílico, o que complica as coisas. Muitos nomes de ruas estão em cirílico, embora os principais pontos turísticos tragam a tradução em inglês (graças a Deus!). O inglês é bastante difundido e em Belgrado não tivemos dificuldades em nos comunicar.
Para ser um turista simpático você pode dizer Zdravo (Olá), ou ainda Dobro jutro (Bom dia – sendo que o”j” tem som de”i”). Para dizer “sim” você deve dizer Da (como em russo) e para dizer “não”, diga Ne. Não esqueça de agradecer com Hvala (Obrigado – o “h” é aspirado como em inglês) e despedir-se com Doviđenja (Adeus).
Templo São Sava
No dia seguinte rumamos para o outro lado da cidade, para a rua Krušedolska. Conhecida como A Catedral de São Sava, ela é o maior templo ortodoxo da Europa. Foi consagrada ao santo fundador da Igreja Ortodoxa Sérvia e o local onde foi construida é o mesmo onde foram cremados os restos mortais do santo, tornando-a um dos templos mais importantes do país.
A construção da catedral ficou a cargo de uma sociedade formada em 1895 que inicialmente ergueu ali uma pequena igreja. Em 1905 um concurso foi feito para escolher o projeto que seria realizado. Devido à guerra ele foi suspenso e só em 1926 é que finalmente escolheram um projeto, o do arquiteto Aleksandar Deroko. Entretanto, foi só em 1935 que a construção começou de verdade. Mas ela foi interrompida novamente em 1941 devido à invasão da Iugoslávia. Somente em 1984 é que construção foi retomada, um novo arquiteto foi contratado e todo o projeto foi refeito. A obra foi parcialmente concluída em 2009, após a instalação dos sinos, porém, o interior ainda não foi totalmente terminado.
Quando visitamos, além do exterior, conseguimos ver a parte do subsolo, que já está pronta e é simplesmente estonteante! Toda dourada e ricamente decorada. Os afrescos e ícones foram pintados por artistas vindos da Rússia e são realmente impressionantes.
Museu de Nikola Tesla
Aberto ao público desde dezembro de 1952, ainda no período da Iugoslávia, o Museu Nikola Tesla (rua Krunska, 51) possui uma exibição permanente desde 1955, mas hoje é bastante interativo e moderno. A entrada custa 500 dinara (aprox. 20 reais) e dá direito a um tour guiado pelas invenções de Tesla. Os experimentos são muito interessantes, como acender uma lâmpada fluorescente sem tocar em nada, através de sua famosa bobina de alta tensão, ou operar um barco por controle remoto. O Ede se divertiu!
Nikola Tesla nasceu em 1856 em Smiljan, hoje pertencente à Croácia, embora seja considerado sérvio. Ele ficou famoso pelas contribuições para o sistema de eletricidade de corrente alternada, mas hoje é reconhecido como um dos primeiros ambientalistas do mundo, pois defendia o desenvolvimento de combustíveis renováveis e pesquisou formas alternativas de energia que poderiam substituir o impacto do combustível fóssil. O sérvio também criou a primeira hidrelétrica, o controle remoto e fez a primeira imagem em raio X, entre outros inventos. Apesar disso, morreu pobre e esquecido em um quarto de hotel de Nova York.
O museu possui em seu acervo mais de 160.000 documentos originais, mais de 2.000 livros, 1.200 exposições técnicas, 1.500 objetos, fotos e mais de 1.000 projetos e desenhos de seus inventos. Ele foi construído em uma casa de 1927, em uma área residencial. Como Tesla passou parte de sua vida nos Estados Unidos, o material para exposição teve que ser enviado de Nova Iorque para Belgrado, e isso só foi possível com a ajuda de seu sobrinho, Sava Kosanović. Tesla é homenageado também na Croácia e há uma linda estátua dele que visitamos em Donji Grad em Zagreb. Ele ainda estampa a nota de 100 dinara.
Um pouco da história de Tesla aparece no filme A Batalha das Correntes (The Current War) que mostra a disputa entre Thomas Edison e George Westinghouse, no final so século XIX, sobre como distribuir a recém inventada eletricidade pelos Estados Unidos.
Tesla chega ao país e inicialmente vai trabalhar com Edison, que não concorda com sua proposta de utilizar a corrente alternada para a distribuição de longa distância. Idealista e sem nenhum tino comercial, ao abandonar Edison, ele começa a trabalhar por conta própria e é enganado por oportunistas que o induzem a lhes vender suas patentes. Decepcionado e sem dinheiro, acaba por aliar-se ao maior concorrente de Edison, Westinghouse. O filme pode ser visto na Amazon Prime. Veja o trailer aqui.
Adventure Caffe
Almoçamos no Adventure em nosso segundo dia em Belgrado e foi uma ótima pedida. A lanchonete tem mesas ao ar livre bem na Praça da República e os lanches são enormes! O lugar nos chamou a atenção enquanto esperávamos a Myriana para o Free Walking Tour no dia anterior e fizemos questão de voltar! O Adventure Burger é tal qual mostra a foto – com muuuito recheio e ainda acompanhado de batata frita e molho especial. Eu optei por uma salada, pois estava bem calor. Tomei um suco de laranja e o Ede uma coca-cola. Comemos calmamente apreciando o movimento e ainda pedimos um café. Tudo saiu por 2215 dinara (99 reais). Recomendado para viajantes cansados e famintos!
Skadarlija
Skadarljia é uma rua histórica da Stari Grad, o centro velho de Belgrado. Muito antiga, a rua de paralelepípedos e seus arredores formam o bairro boêmio e uma das áreas mais visitadas da cidade, pois concentra um grande número de bares e restaurantes e uma vida noturna bem agitada. Ela lembra muito o bairro de Montmartre em Paris, pois era onde se reuniram os artistas, poetas e intelectuais de Belgrado através dos tempos.
Os primeiros registros são de 1830, quando ciganos se instalaram em barracas ali. Em 1854, as barracas foram substituídas por casas de alvenaria e em 1872 a rua ganhou o nome atual e no início do século XX a intelligenzia começou frequentar as 15 kafanas que já existiam no local. Uma delas, a Tri šešira (“Três Chapéus”) é de 1864 e fomos lá conferir, afinal dizem que se você for a Belgrado e não for ao Tri šešira você não conheceu Belgrado.
Chegamos cedo (às 20:00) para jantar, pois o restaurante é o mais famoso da cidade, tem música ao vivo, etc. Logo ao chegar, na porta, já vimos o host dizendo em inglês (com uma cara de desaprovação) para uma família na nossa frente: “no reservation?” Quando chegou a nossa vez já fui falando de cara, com um sorriso, “no reservation but we’re only two” (não temos reserva, mas somos apenas dois). Ele ainda olhou pra minha cara e perguntou de novo: “no reservation?” E aí soltou um “only inside” (só lá dentro). E lá fomos nós pro labirinto de salões que se estendem porta adentro. Lugar bonito, rústico, bem aconchegante e tals. Garçom falava inglês bem (ponto positivo), pedimos os pratos e as bebidas… dali a pouco chegou outro casal e escolheu uma mesa que não estava posta. O garçom sem cerimônia alguma veio à nossa mesa e retirou os dois jogos de copos, pratos, talheres e guardanapos que sobravam e colocou na mesa deles. Nada contra compartilhar, já que não íamos usar, mas havia mesas já postas e vazias, sem clientes. Achei falta de tato, principalmente porque ele não disse sequer um “excuse me”.
Pedi um robalo grelhado com batatas (brancin) que veio muito bonito, mas sem tempero algum (1.290 dinara – 55 reais). Não estava ruim, mas tampouco estava saboroso. As batatas que acompanhavam tinham o gosto da água do cozimento e só. O Ede pediu um enroladinho de frango empanado recheado com queijo e presunto (manastirska piletina) que estava bem gostoso (960 dinara – 41 reais). O garçom ofereceu pão sírio (somun) e aceitamos um (70 dinara – 3 reais). Mas não era necessário – nem tocamos no pão. Tomei um chá mate (210 dinara – 9 reais) e o Ede pediu duas taças de vinho da casa (480 dinara – 20 reais). A música tradicional, chamada de “Tamburasi” era bem bacana, mas fica um pouco irritante depois de algum tempo. Enfim, pagamos 3.010 dinara ao todo (cerca de 130 reais) e a experiência não foi tão legal quanto esperávamos.
Museu Nacional Sérvio
A vantagem de se viajar para a Europa no verão é que os dias são bem longos e a gente aproveita muito! Depois de explorar todo o centro velho de Belgrado, ainda tivemos tempo de visitar Museu Nacional, que ficava aberto até as 20:00!
Ele foi inaugurado em 1844 e é o mais antigo do país. O edifício atual, de 1950, foi totalmente reformado entre 2003 e 2018 e hoje está novinho em folha! Por dentro é muito agradável, amplo, iluminado e muito bem organizado. São 3 andares com 400 mil peças dentre as quais várias obras de estrangeiros. Adoramos a coleção arqueológica e de arte clássica, com peças em estilo greco-romano como os bustos e máscaras.
Vimos também as incríveis obras do século 20 do famoso escultor croata Ivan Meštrović (1883 – 1962). Meštrović foi quem esculpiu a estátua de Victor no parque Kalemedgan, mas ele tem obras em várias cidades como Washington, Chicago, Paris (duas na Norte Dame), Bratislava e Zagreb (Estátua de Tesla e o Poço da Vida, no Teatro Nacional).
A coleção de pinturas clássicas é linda e há várias telas de pintores italianos famosos como Rafael, Ticiano, Tintoretto e Tiepolo. Há também obras dos franceses Cézanne, Renoir, Matisse e Monet, além de telas de Mondrian, El Greco e de Picasso.
Mas, estávamos na Sérvia, então, nada mais justo que dar atenção à arte iugoslava. A tela que mais gostei foi Arrumação da Noiva, de 1886 do pintor Pavle Paja Jovanović (1859-1957). O quadro mostra a preparação de uma noiva tradicional albanesa. O quadro foi pintado para a Galeria de Artes Francesa e ficou lá por muitos anos, sendo depois comprado por um colecionador inglês e levado a Londres, onde permaneceu até 1935, quando foi comprado pelo Ministro de Relações Exteriores da Sérvia e doado ao Museu.
Outro quadro que amei pelo colorido e pela representatividade cultural é Mulher sob a Macieira, do sérvio Đorđe Krstić (1851 – 1907). Ele faz par com outro chamado Mulher na Fonte ou ainda Mulher de Gruž (Gruž é um bairro de Dubrovnik, na Croácia).
Đorđe Krstić é um dos principais expoentes da pintura iugoslava e pintou mais de 1000 telas, inclusive 14 retratos do imperador da Áustria, Joseph I. Entretanto, ficou famoso mesmo pela tela Mulher Afogada, de 1879.
Vimos ainda os quadros de Uroš Predić, pintor realista sérvio mais conhecido por seus primeiros trabalhos que retratam pessoas comuns. O quadro Órfão no Túmulo da Mãe, de 1888 é quase uma fotografia de tão perfeito!
Outro quadro famoso dele é Refugiados do Levante de Herzegovina, de 1889.
Também vimos o famoso auto-retrato de Katarina Ivanović, de 1836.
A coleção de numismática também é bem interessante e lá encontramos um exemplar original da nota de 5 bilhões de dinara (cuja cópia ganhamos de souvenir no Free Walking Tour).
A entrada do museu custa apenas 300 dinara (menos de 15 reais) e tem wifi grátis. Ele abre de terça à domingo, sendo que aos domingos a entrada é gratuita. Valeu a pena visitar essa joia!
Simit Sarayi
Para um lanche rápido recomendamos as lanchonetes Simit Sarayi. Ela é uma rede turca que abriu em 2017 em Belgrado e os sanduíches são gostosos e baratos. Os atendentes falam inglês e o lugar é bastante frequentado por turistas. Fomos na da Bulevar Kralja Aleksandra, 80. Além de café, bagels, bureks, donuts, cookies etc. eles também tem ótimos sanduíches frios. No calor de agosto, foi uma ótima pedida! Dois sanduíches e dois sucos saíram por 1.040 dinara (46,50 reais).
St Mark’s Place
Seguindo a rua Kneza Milosa, fomos procurar um lugar para jantar e, próximo ao Parlamento, encontramos a Igreja de São Marcos. Ela fica em um parque e quase em frente, no Bulevar kralja Aleksandra 17, achamos o restaurante St Mark’s Place. Tocava R.E.M e a música nos chamou a atenção. Verão, calor, o local estava bem movimentado com jovens (a maioria locais) curtindo baladas dos anos 90 e bebendo e conversando animadamente. O restaurante é moderno e serve comida europeia.
Comemos parpadelli com salmão defumado (890 dinara) e o gnocchi com carne (mignon) por 990 dinara – muito bons. Sobremesa de crepe com nutella (350 dinara). Aperol 455 dinara (17 reais). Enfim, comemos bem pra caramba por 2.855 = 111 reais! Adoramos o lugar e voltamos na nossa última noite para mais uns drinks e aperitivos antes de irmos embora.
Zemun
Andar de busão e de metrô em países que usam alfabeto cirílico como a Sérvia é um rito de passagem para qualquer mochileiro. Terceiro dia na cidade, pegamos o ônibus 84 na estação de Zeleni Venac para ir ao bairro histórico de Zemun. Nos disseram que custava 150 dinara cada passagem e que pagava-se ao motorista, mas quando entramos no ônibus ele só disse “it’s ok”e nos deixou ir de graça! Na volta acabamos pegando o mesmo ônibus 84 e, acreditem, o mesmo motorista, e mais uma vez lhe oferecemos a grana e ele disse “that’s ok” e não aceitou o dinheiro! Não sei se ele ficou com pena dos mochileiros perdidos e prestes a enfrentar uma subida de lascar até a Torre Medieval de Gardoš, ou se nos Sábados o busão é grátis mesmo. Enfim, economizamos 600 dinara!
A entrada para a trilha de subida até a torre é bem escondidinha, e não muito bem sinalizada. Fica ao lado de uma loja de tapetes. O chão é muito irregular e algo difícil de ir caminhando pela pequena encosta.
Chegando lá ainda tivemos que esperar um pouco para subir na Torre, pois estavam fazendo filmagens no local. Então fomos ao cemitério que fica em frente, já que a igreja estava fechada! Estava calor e no cemitério havia bancos à sombra…
Um pouco mais de meia hora depois conseguimos finalmente subir… A Torre de Gardoš (pronuncia-se “gardoch”) é de 1896 e fica em cima de fortificações ainda mais antigas. Ela foi construída para celebrar os mil anos da colonização húngara, pois isso é conhecida como Torre do Milênio. A entrada custa 200 dinara por pessoa (aprox.9 reais).
A região é habitada há pelo menos 7000 anos! Lá em cima é tudo muito estreito e apertado, mas tem-se uma bela vista de Belgrado e os rios Sava e Danúbio. Ela tem apenas 36 metros, mas parece mais alta! Gostamos da aventura, apesar dos perrengues.
Descemos apreciando o casario… O legal foi aquele clima mais de bairro, parecia interior, mesmo estando na capital.
Esse foi nosso último passeio em Belgrado, pois no dia seguinte já seguiríamos viagem. O que ficou marcado para nós foi a tranquilidade da cidade e a incrível capacidade do povo sérvio de se reerguer e apagar, quase que completamente, seu passado de algoz em uma guerra recente e sangrenta e olhar para um futuro de paz e prosperidade.
Dica de Filme
Belgrado, Sérvia. Um ex-general, criminoso da guerra dos Balcãs, vive escondido e bem protegido por alguns partidários fiéis. Ele é procurado internacionalmente pelo genocídio étnico e deve ser julgado no Tribunal de Haia, mas seu país finge que não sabe onde ele está, embora seu rosto seja bem conhecido e ele sempre perambule pela cidade. Para evitar essas perigosas escapadas ele é realocado para um apartamento com uma empregada, Tanja, para que ela faças as compras e ele não tenha que sair. Na medida em que a estranha relação dos dois se aprofunda vamos descobrindo mais sobre os segredos de ambos. O papel do general, vivido por Ben Kingskey, foi baseado em Ratko Mladić, que foi sentenciado à prisão perpétua por crimes contra a humanidade na Guerra da Bósnia. O filme foi rodado em Belgrado e muitas das cenas no antigo bairro de Zemun.
Veja também:
Sarajevo – a Jerusalém da Europa
Sarajevo e a Guerra Civil Iugoslava