Auschwitz (Oświęcim)

Visitar Auschwitz é uma experiência transformadora e relatar o que se viu, aprendeu e sentiu é cada vez mais necessário, principalmente quando vemos o Secretário da Cultura do Governo Bolsonaro reproduzindo pública e oficialmente parte do discurso do Ministro da Propaganda de Hitler como se isso fosse perfeitamente normal.

Como chegar lá?

Auschwitz é a escrita alemã para Oświęcim, que é o nome da cidade próxima à Cracóvia (a pronúncia é parecida). Assim, quando for à Estação de Cracóvia (a Krákow Glówny Dworzec autobusowy), na ulica Bosacka nº 18, você deve comprar passagens para Oświęcim. O ônibus nos custou 20 zlotys ida e volta e ele sai do subterrâneo da Rodoviária – junto com a Estação de Trem de Kraków Główny. No site abaixo você pode ver os horários (escolha a opção inglês no canto superior direito): www.en.e-podroznik.pl/

Dica: a visita dura umas 3,5 horas só para Auschwitz e Birkenau – portanto planeje bem o tempo (o complexo conta com 3 campos!). Lembrando que a reserva tem que ser feita com antecedência pelo site visit.auschwitz.org

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O ônibus para praticamente ao lado do campo de Auschwitz, então é bem tranquilo. Quando chegar, não perca tempo e vá direito para a fila da bilheteria – mesmo quem tem visitas já agendadas tem que ficar em uma fila pois eles separam os grupos de pessoas que irá com cada guia. Ah… leve seus comprovantes impressos! Tem muita gente e comprovantes no celular podem dar problema e eles tiram você da fila para não atrapalhar os outros – então evite confusão, leve tudo já organizado e tenha seus bilhetes em mãos.

Importante: o Campo todo é um Museu e também um grande Cemitério! Portanto há regras para a visita – como manter silêncio e não poder comer no local. Respeite!

A dica é tomar um café bem reforçado, pois só vai poder comer bem mais tarde. Outro ponto – mesmo fora do Campo não há muitas opções de lanchonetes/restaurantes e o que tem é meio caro – assim, leve na mochila alguma coisa para comer na viagem da volta. Deixe para jantar bem em Cracóvia. Foi o que fizemos.

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Estude antes de ir!

IMG_5179Cada um tem uma reação à visita. Mesmo não tendo descendência judaica sentimos uma atmosfera de grande tristeza e desolação, ainda mais com a chuva logo cedo, embora não fosse inverno. É muito forte – e se torna ainda mais quando a gente estuda antes de ir e aprende o que significou tudo aquilo. Outra sugestão é visitar o bairro de Kazimierz (o antigo gueto judeu) e a Fábrica de Schindler em Zablocie, antes de ir a Auschwitz. Você vai entender melhor a sequência de eventos desde a invasão alemã à Polônia em 1939 até o final da guerra em 45. 

Os números da barbárie

Dos vários campos de concentração da Europa, Auschwitz ficou famoso por ser o maior de todos eles. Ninguém sabe exatamente quantas pessoas foram mandadas para lá, ou quantas morreram. Entretanto, historiadores estimam que entre 1940 e 1945, os nazistas enviaram pelo menos 1,3 milhão de pessoas para Auschwitz e cerca de 1,1 milhão tenham sido mortas, a maioria judeus de toda a Europa, mas também opositores políticos, prisioneiros de guerra, ciganos e homossexuais. É um absurdo muito grande saber que tudo isso aconteceu com a conivência de milhares e há pouco mais de 70 anos. O que, em termos históricos, significa que foi ontem! Mais de  um milhão de pessoas foram mortas pelos nazistas em Auschwitz entre 1940 e 1945. Como?

“Para que o mal prevaleça basta que os bons não façam nada”

Até o silêncio das pessoas diz muito sobre elas e é aterrorizante ver o ultraconservadorismo, a intolerância, a alienação da realidade, a ignorância e o nacionalismo radical, voltando ao poder em vários países, não só na Europa, mesmo depois de tanto sofrimento. Infelizmente, a nossa sociedade ainda está repleta desse mesmo ódio que permitiu que o holocausto acontecesse – preconceito racial, social, homofobia, raiva de tudo o que é diferente. Por isso visitar Auschwitz é tão importante.

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Enfim, o tour começa quando passamos pelo famoso portão com a frase “O trabalho liberta” – o que dava aos prisioneiros a errônea ideia que estavam em um Campo de Trabalhos Forçados (e não de Extermínio).

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Quando eram deportadas, como vimos na evacuação do Gueto de Pódgorze, as pessoas carregavam malas com seus pertences (os oficiais da SS lhes diziam que podiam levar apenas 15 kilos). Assim, logo que chegavam em Auschwitz mandavam que escrevessem seus nomes nas malas, o que elas faziam – achando que depois recuperariam suas coisas. Logo no início do tour vemos várias fotos do desembarque e também várias dessas malas. Mais tarde, em Birkenau, é possível ver também um dos vagões dos trens que transportavam os prisioneiros.

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Outra coisa que se vê logo no início do tour, no Museu, é uma sala inteira de objetos pessoais que os nazistas retiravam das pessoas. Isso foi o que acharam após a liberação do campo em janeiro de 1945. Além dos poucos prisioneiros encontrados vivos, as tropas do Exército Vermelho também se depararam com 348.820 ternos de homem e 836.255 vestidos de mulher, além de montanhas de óculos e calçados, muitos deles em tamanhos infantis.

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Foram encontradas também 7 toneladas de cabelo que eles cortavam dos prisioneiros e depois vendiam para fábricas de tecido na Alemanha. Uma sala inteira de cabelo humano! Há ainda uma urna com um pouco das cinzas humanas encontradas nos fornos de cremação de corpos que ficavam próximos das câmaras de gás de Bierkenau.

Centenas de latas do cianeto Zyklon-B, que era usado nas câmaras de gás, também foram encontradas (são essas pedrinhas brancas da foto que já tínhamos visto na visita à Fábrica de Schindler em Kazimierz).

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O triste é constatar que o que a gente viu nos filmes é verdade! Dá muita vontade de chorar, mas ao mesmo tempo é muito importante visitar, pois tem muita gente que não acredita que tudo isso aconteceu mesmo. É preciso que os jovens conheçam a história para serem mais tolerantes com o próximo, não importa a nacionalidade, se é imigrante, preto, pobre… 

Stanislawa KordasiewiczÉ bem chocante ver as fotos dos prisioneiros mortos – alguns com rostos que até nos lembram parentes – eu achei uma bem parecida com minha baba. Chorei ao ver. Mais chocante ainda são as fotos de como os prisioneiros ainda vivos foram encontrados pelos soldados na liberação do Campo em janeiro de 1945. Quando as tropas do Exército Vermelho chegaram, boa parte das instalações já estava destruída. Os soldados encontraram milhares de pessoas reduzidas a pele e osso, corpos incendiados, cadáveres espalhados por todo o lado. Dos cerca de 7.500 prisioneiros, a maioria estava tão doente e abatida que mal tinha forças para celebrar o fim de tamanho martírio. Os soldados abriram mão de suas rações para alimentar imediatamente as vítimas, mas a desnutrição era tão séria que, desacostumados a se alimentar, muitos morreram ao voltar a comer.

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O monstro de Auschwitz

Depois de visitar o interior do prédio principal, visita-se outros alojamentos e inclusive o prédio onde o médico nazista Joseph Mengele, conhecido como o “monstro de Auschwitz” fazia suas experiências de esterilização em mulheres e de transplantes de órgãos com os prisioneiros. Ele era um dos médicos responsáveis pela seleção dos que seriam mandados para a câmara de gás. Uma de suas pesquisas consistia em obrigar as mulheres com bebês pequenos a atarem os seios com faixas para “estudar” quanto tempo levaria para que os bebês morressem de fome. Ele também tinha fixação por gêmeos e os mantinha vivos para conduzir experiências monstruosas. Seu objetivo com esses “estudos” era provar a supremacia ariana.

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Joseph Mengele conseguiu fugir para a América do Sul, primeiro para a Argentina e depois para o Brasil, trocou de nome e morreu aqui, afogado na praia de Bertioga, em 1979. Eva Kor, uma das vítimas sobreviventes de Mengele, testemunhou em 2015 no julgamento e condenação de Oskar Gröning, conhecido como “O Contador de Auschwitz”. (Falamos sobre o documentário desses eventos em nosso post Polônia no Cinema).

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Outro ponto em que a guia faz uma parada para explicar é um muro que está sempre adornado com flores no chão – ali era o Paredão de Fuzilamento onde os prisioneiros não aptos para o trabalho eram imediatamente mortos e também onde os nazistas fuzilavam os desobedientes.

Câmara de Gás

Depois se caminha até a única Câmara de Gás que sobreviveu (quando viram que iam perder a guerra os nazistas destruíram as câmaras e fornos de incineração antes de abandonar o Campo e tentar fugir, mas na pressa um deles ficou em pé). Eles obrigavam os próprios judeus a trabalhar nos fornos e incinerar os corpos e a cada 3 meses esses trabalhadores também eram mortos e substituídos por outros, para que as informações sobre as mortes não vazassem. E era assim que a cada dia uma seleção de pessoas era mandada para um “banho de desinfecção” e entrava nas câmaras de gás, pacificamente, como gado indo para o abatedouro. Sabemos que os fatos aconteceram assim por meio de relatos de sobreviventes e confissões dos próprios nazistas.

O filme O Menino do Pijama Listrado (2008), em sua última cena, mostra exatamente como era. O campo tinha cinco câmaras de gás e fornos crematórios, cada um deles com capacidade para 2.500 prisioneiros. Isso mostra como os nazistas realmente sistematizaram a morte.

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Vimos ainda o edifício sede dos oficiais nazistas e onde o primeiro Comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, foi enforcado em abril de 1947. Dois anos após o término da Guerra ele foi julgado pela Suprema Corte da Polônia e sentenciado à morte, ironicamente, exatamente onde mandou matar tanta gente.

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Auschwitz-Birkenau

Depois toma-se um ônibus que leva os visitantes até Auschwitz-Birkenau – o segundo Campo (dos 3 de Auschwitz). A guia não acompanha em Birkenau e a gente visita por conta. 

Lá ficavam outros fornos de incineração e também os alojamentos femininos – dos quais nem todos os prédios sobreviveram. Os que eram mais recentes foram construídos em madeira e foram queimados pelos nazistas quando evacuaram o campo. Nos barracões femininos os nazistas separavam as mulheres de acordo com a saúde. As crianças também ficavam ali. As mulheres mais velhas, grávidas ou com bebês pequenos eram as primeiras a serem levadas para a câmara de gás – mas não antes de serem deixadas sem água e comida por dias. Era lá também que o Dr. Joseph Mengele fazia a seleção de suas vítimas. Os alojamentos femininos e como funcionavam podem ser vistos no filme Amarga Sinfonia de Auschwitz , de 1980, com Vanessa Redgrave. 

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Um dos vagões dos trens que transportavam os prisioneiros também foi mantido ali, ao lado da estrada de ferro e um painel mostra uma foto do desembarque em Birkenau. 

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A Marcha da Morte 

Dias antes da chegada dos soviéticos, Heinrich Himmler, um dos principais responsáveis diretos pelo Holocausto, ordenou a evacuação de todos os campos de concentração para que os prisioneiros não pudessem ser encontrados pelos oponentes. Foi uma verdadeira marcha da morte… Dos quase 60 mil prisioneiros, apenas 20 mil conseguiram chegar ao campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha, onde seriam libertados depois, por tropas britânicas, em abril de 1945.

Atenção: Lembre-se de que precisará de tempo para pegar o transporte (ônibus interno) de volta para o Campo de Auschwitz para de lá poder pegar o ônibus de volta para Cracóvia! 

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Em tempo: é de muito mal gosto, e até falta de respeito, ficar fazendo selfies em um lugar tão triste. Quer registrar sua visita? Aprenda sobre o lugar e relate sua experiência! Ou, no máximo, tire uma foto no final do passeio, já na parte de fora do campo.

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E para dar adeus à Auschwitz e convidá-los a refletir sobre o holocausto, alguns versos do poema O fim e o início da incrível poeta polonesa Wislawa Szymborska, que nasceu em 1923, passou praticamente a vida toda em Cracóvia, e conheceu o horror da guerra.

Wislawa

Aqueles que sabiam
o que foi tudo isso,
têm que ceder lugar àqueles que sabem pouco.
E menos que pouco.
E finalmente aos que não sabem nada.
Alguém tem que deitar ali na grama que cobriu as causas e consequências,
com um matinho entre os dentes e o olhar perdido nas nuvens. 

Veja também:

Polônia

Polônia no cinema

Stare Miasto – A Velha Cracóvia I

Stare Miasto – A Velha Cracóvia II

Castelo de Wawel e Arredores

Kazimierz

Publicado por Adelijasluk

Adeli é formada em Letras e pós graduada em Recursos Humanos, fala quatro línguas e adora conhecer outras culturas. Curiosa e teimosa, nas horas vagas planeja itinerários próprios para as viagens anuais com o marido. Edevaldo é funcionário público e cursou geografia e informática. Paciente, nas horas vagas estuda maneiras sensatas de viabilizar os itinerários da esposa. Viajam por conta própria e juntos já conheceram 208 cidades em 33 países.

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