Confesso que não conhecia muito o cinema da Polônia, exceto pela famosa Triologia das Cores dos anos 90, do diretor polonês Krzysztof Kieślowski. Foi em 2015 que me interessei pelo Festival de Cinema Polonês de Curitiba, ano que uma produção polonesa (Ida) ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Abaixo, alguns filmes e séries que valem a pena conferir, ou mesmo ver novamente, antes de visitar o país.
Podwójne życie Weroniki (1991) A dupla vida de Veronique inicia com a história de Veronika, uma jovem polonesa com um grande talento para a música erudita e uma voz incomparável. Após conseguir entrar em uma escola de música em Varsóvia, Veronika se apresenta pela primeira vez, mas sofre um ataque cardíaco fatal. Veronique é uma jovem francesa que também tem um grande talento musical. Sua vida segue bem até que ela sente uma profunda melancolia e solidão, sem razão aparente. É como se as duas estivessem inexplicavelmente ligadas, embora jamais tenham se encontrado. Após a morte de Veronika, Veronique perde o interesse pela música e se envolve com um manipulador de fantoches que a conduz por uma espécie de fábula da vida real. A direção magnífica do polonês Krzysztof Kieślowski conta essa história através de imagens, sons, cores e gestos. A atriz francesa Irène Jacob dá vida a ambas as personagens. Ela também estreou, em 1994, outro filme de Kieslowski: A Fraternidade é Vermelha (Rouge), que faz parte da trilogia do diretor, juntamente com A Liberdade é Azul (Bleu) e A Igualdade é Branca (Blanc). A trilha sonora, do também polonês Zbigniew Preisner, é uma obra prima! Veja o trailer.
Miasto 44 (2014) O filme retrata a Revolta de Varsóvia em 1944, durante a ocupação nazista da Polônia. No verão de 44 o Exército Vermelho avança pelo leste em direção à Varsóvia. As forças armadas clandestinas polonesas (Armia Krajowa – AK) lançam uma revolta contra a ocupação. O jovem Stefan, membro da resistência, junta-se à revolta. Entre o amor pela enfermeira Ala e os sentimentos pela guerrilheira Kama, Stefan perde sua inocência no terror da guerra e luta pela própria sobrevivência. Quando o levante é dizimado, deixando centenas de mortes e a maior parte da cidade destruída e em chamas, ele foge para uma ilha no rio Vístula, onde, tempos atrás, havia ensinado Ala a nadar. O filme foi lançado no 70º Aniversário do Levante. Uma fotografia incrível e um trabalho de computação gráfica de ponta dão ao filme ainda mais impacto. Veja o trailer aqui.
Bogowie (2014) Baseado em fatos reais. Bogowie (Deuses, em português) é baseado na vida e na carreira do cirurgião cardíaco polonês Zbigniew Religa, que realizou o primeiro transplante de coração bem-sucedido na Polônia em 1987. Normalmente eu não imaginaria que um filme polonês sobre cirurgia cardíaca fosse tão interessante. Uma espécie de “Plantão Médico” durante o regime Comunista, o filme mostra a obstinação de Zbigniew, que arrisca sua reputação e carreira para descobrir uma maneira de salvar seus pacientes. Ele também enfrenta os fracassos, o grande ceticismo, a pressão da comunidade médica local e a total falta de recursos do Estado Polonês na época. Veja o trailer (legendas em inglês).
Agnus Dei (2016) Baseado em fatos reais, Agnus Dei conta um episódio muito triste da sofrida história da Polônia, pois, diferentemente de outros países, não foram os aliados americanos ou as forças britânicas que liberaram o país dos alemães, e sim o Exército Vermelho (russo), que, em muitos casos, era tão violento quanto os nazistas. Em 1945, em Varsóvia, logo após o término da II Guerra, Mathilde, uma jovem médica francesa da Cruz Vermelha é chamada para atender uma emergência e descobre que todas as freiras moradoras de um convento foram estupradas por soldados russos e 7 delas engravidaram e estão prestes a dar a luz. Mathilde, escalada somente para cuidar dos soldados franceses, secretamente, começa a ajudar as freiras polacas. Entretanto, além de desobedecer seus superiores, ela ainda precisa enfrentar os traumas e julgamentos das religiosas, que se sentem culpadas por terem violado o voto de castidade e se recusam a serem tocadas por quem quer que seja. O roteiro é primoroso em descrever não só as consequências físicas, mas psicológicas do estupro e como as vítimas veem a si próprias. Veja o trailer.
Pokot (2017) Em Rastros (título em português), Janina Duszejko (Agnieszka Mandat ), uma engenheira civil aposentada, vive sozinha em uma isolada aldeia no vale de Klodzko, próximo à fronteira entre a Polônia e República Tcheca. Um dia, um de seus cães desaparece. Pouco tempo depois, ela encontra o cadáver de seu vizinho ao lado de pegadas de cervos. As mortes na região continuam, todas de forma igualmente misteriosa e com vítimas com perfis similares: todos eram pilares da comunidade da aldeia e caçadores inveterados. Afinal, eles foram mortos por animais selvagens ou são vítimas de uma vingança sangrenta? O filme, dirigido e escrito por Agnieszka Holland e Olga Tokarczuk, concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2018 e ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Cinema Polonês de 2017 e também do Urso de Prata no Festival de Berlim. Veja o trailer (legendas em inglês).
Arte de Amar (2017) conta a história real da médica ginecologista e pesquisadora polonesa Michalina Wislockiej (representada pela excelente Magdalena Boczarska) e sua luta para publicar um livro que trata da sexualidade da mulher em pleno regime comunista. Apesar de ouvir não durante décadas, ela não desiste e finalmente, nos anos 70, a circulação de seu material gera interesse na população e inicia uma revolução sexual no país. Um filme necessário numa época em que tememos a perda de direitos sociais alcançados a duras penas, em vista da crescente onda religiosa e ultraconservadora na política que incentiva a repressão sobre as mulheres, na Polônia e também no Brasil. Veja o trailer (legendas em inglês).
Hejter (The Hater) conta como age um hater profissional nas redes sociais e como esse ódio extrapola o meio digital. Tomek é um jovem inteligente, ambicioso, invejoso e sem nenhum caráter, que veio do interior para estudar Direto na cidade grande, patrocinado por uma família rica. Após ser expulso da faculdade por plágio na dissertação, começa a manipular e se aproveitar de seus contatos para aumentar sua rede de relacionamentos e tirar proveito dela. O filme mostra como funciona o mercado das redes e como gente rica e políticos contratam empresas que compram seguidores falsos no exterior e também pagam hackers para destruir desafetos. Os trechos narrados da “Arte da Guerra” são um arremate perfeito. Muito bom e muito atual, especialmente agora com o STF dando uma dura nos perfis espalhadores de mentiras e de ódio. Está na Netflix.
Séries
Znaki (2018/2019) Quando o assassinato de uma jovem tem muita similaridade com outro caso ocorrido há dez anos, um novo chefe de polícia é transferido de Cracóvia para a cidadezinha de Sowie Doly, nas montanhas Sowie (coruja). A série “Nas Montanhas da Coruja” (Signs, em inglês, Znaki, em polonês) retrata as vidas das pessoas que moram no vilarejo ao passo que vai desvendando os segredos de cada um. Um empreendimento imobiliário envolvendo a prefeitura e túneis da época da 2a Guerra, adolescentes desajustados, um padre morto, uma velha louca, um pastor esquisito, corrupção, traições, religião e muito mistério. São duas temporadas e a cada episódio a história fica melhor! Está na Netflix.
Ultravioleta (2017/2018) é uma série de suspense policial original da Netflix. Em Lódz, a motorista de aplicativo Ola Serafin (Marta Nieradkiewicz) presencia um assassinato e, ignorada pela polícia, que acredita tratar-se de suicídio, encontra um grupo de internautas que trabalha em todo o país para resolver casos como aquele. Além de Ola o grupo tem Piast, um esperto hacker de origem asiática; as gêmeas Dorota e Regina, celebridades da internet que fazem tutoriais de maquiagem e moda e Tomek, responsável pela segurança do aeroporto. Logo, o carrancudo e cético policial Michal (Sebastian Fabijanski) percebe que pode contar com a ajuda de Ola e dos ultravioletas e acaba se unindo ao grupo. A série desvenda um crime diferente a cada episódio. Muita tecnologia e temas super atuais como inteligência artificial, games, darknet, ultranacionalismo e imigração dão uma dinâmica bem legal à trama. São duas temporadas.
1983 (2018) Série de suspense dirigida por quatro cineastas polonesas, entre elas Agnieszka Holland (de Pokot), 1983 conta a história de um mundo distópico em que a Cortina de Ferro jamais caiu e a Polônia é o centro do mundo e define o futuro de todo o planeta. Vinte anos após um ataque terrorista que interrompeu a libertação do país e a queda da União Soviética, o idealista estudante de direito Kajetan (Maciej Musiał) e o investigador de polícia Anatol (Robert Więckiewicz) descobrem a conspiração que evitou o fim da Cortina de Ferro e manteve a Polônia sob um regime opressor. Agora, em 2003, após duas décadas de paz e prosperidade, os líderes do regime iniciam um plano secreto para transformar radicalmente a Polônia, afetando a vida do país e do mundo. O que esses dois homens descobrem poderá iniciar uma revolução, mas aqueles que estão no poder não medirão esforços para manter tudo em segredo. 1983 é a primeira série polonesa original da Netflix. Veja o teaser aqui.
Rojst (Pântano, 2018) – Polônia, década de 1980. Um assassinato duplo chama a atenção da imprensa: uma jovem prostituta e um ativista da Juventude Socialista local. Paralelamente, dois adolescentes cometem suicídio. O jornalista veterano Witold Wanycz (Andrzej Seweryn) é encarregado de cobrir as investigações para o jornal local e o recém chegado de Cracóvia, Piotr Zarzycki (Dawid Ogrodnik) – filho de um importante político – é designado como seu assistente. A rapidez com que a polícia prende um suspeito e o declara culpado levanta suspeitas e as pistas que vão aparecendo levam a crer que as autoridades estão abafando o caso para não revelar a verdade. A reconstrução da época do Regime é muito interessante, máquinas de escrever, listas telefônicas, TVs com caixa de madeira, grandes condomínios cinzentos e carrinhos Fiat 126P, Polonez Coupé e Ladas… além do cenário, o figurino também é bem caprichado e sem exageros. São 5 episódios.
Rojst 97 (2021) – A 2a temp. de Pântano começa numa cidadezinha próximo à Cracóvia, no final da 2a Guerra. Os poloneses viviam em um campo de concentração enquanto os nazistas ocupavam suas casas. O jovem Witold Wanycz se apaixona por Elsa Koepke, uma garota alemã, mas logo chegam as tropas russas e assumem o controle. 1997, o jornalista Piotr Zarzycki está de volta a sua cidade natal com a esposa (Zofia Wichłacz, de “Miasto 44”) e a filha, para assumir o jornal local. Um grande condomínio está sendo construído. O filho de um rico empresário foi sequestrado. A cidade está toda alagada devido às enchentes que assolam a região e ao rompimento de um dique. Na floresta de Gronty, além dos cadáveres do antigo cemitério nazista, o corpo de um menino de 12 anos é encontrado nos escombros. Anna Jass (Magdalena Różczka), uma policial é enviada de Varsóvia para investigar o caso. Várias histórias se misturam e se completam num quebra-cabeça interessante. Novamente uma boa reconstituição de época (desta vez os anos 90), com cenário e figurinos caprichados (carros, a CPUs antigas, muito papel, celulares tijolão, penteados cheios de spray….), tudo regado a muita vodka a qualquer hora do dia! Ótima abordagem da liberação do campo pelo exército russo e também dos abusos cometidos, agora contra os alemães. Ambas temporadas estão na Netflix.
W głębi lasu (Silêncio na Floresta) 2020 – A série é outro livro de Harlan Coben adaptado pela Netflix (que também lançou “Não Fale como Estranhos”). Polônia, agosto de 1994, acampamento de verão. Quatro adolescentes desaparecem na floresta, dentre eles Kamilla, irmã de Paweł Kopiński, monitor do acampamento. Apenas dois dos corpos são encontrados e o de Kamilla e seu amigo nunca aparecem. 25 anos depois, Pawel, hoje promotor de justiça, é questionado pela polícia sobre um corpo recém-descoberto e sua determinação em descobrir a verdade e encontrar sua irmã é renovada. Será possível que depois de tantos anos Kamilla ainda esteja viva? Ótima trama! Não é fácil deduzir o que realmente acontece. Está na Netflix.
Zbrodnia (The Crime) – Uma série de crimes abala os residentes da pacata cidadezinha costeira de Hel, na Polônia. Tomek (Wojciech Cyplik) é um policial que sofre de privação de sono e passa por um período difícil ao se divorciar da esposa. Agnieszka (Magdalena Boczarska) descobre o corpo de um homem flutuando na água quando vai passar o dia com os filhos pequenos na praia. Tomek e Agnieszka tem um passado em comum e essa descoberta os reúne quando ele volta a Hel, com sua parceira Monika (Julia Kulig), para investigar o caso. Longe de ser um policial exemplar, Tomek irá contar com seu instinto e a ajuda de Agnieszka, cujo casamento tampouco vai bem. Não é tão legal como Znaki ou Rojst, mas é uma boa série e foge da paisagem urbana de Cracóvia, Łódź e Varsóvia. (São 2 temp.de 3 episódios). Está na Netflix.
Otwórz oczy (Open your eyes / A saída) 2021 – Quando Julia (Maria Wawreniuk) acorda com amnésia em um centro de tratamento, após o terrível acidente que matou sua família, ela tenta lembrar quem é e cria laços com outros jovens pacientes com traumas estranhamente similares. As sessões com a Dra Zofia Morulska (Marta Nieradkiewicz), só a deixam mais confusa. Logo ela conhece Adam, um garoto misterioso pelo qual se sente atraída, e começa ter sonhos estranhos e visões muito reais que a fazem questionar se aquele lugar é mesmo o que dizem ser. Julia então luta para escapar da instituição e descobrir a verdade. Também está na Netflix.
Sobre o Holocausto
Amarga Sinfonia de Auschwitz (1980) Inspirado no livro de memórias de Fania Fénelon, o filme conta a história de Fania (Vanessa Redgrave) e de outras prisioneiras do campo de concentração de Auschwitz. Fania era uma cantora talentosa e famosa em Paris. Judia, com a ascensão do nazismo, foi capturada e enviada para Auschwitz. Lá tem a oportunidade de entrar para uma banda de música, obtendo assim, alguns “privilégios”, dentro do campo. Esses privilégios se resumiam a poder ter uma escova de dentes, tomar banho e eventualmente usar roupas mais quentes. A banda era responsável por entreter os nazistas e, principalmente, por tocar enquanto os prisioneiros eram encaminhados para o extermínio nas câmaras de gás. Você vai lembrar do filme ao visitar Auschwitz, principalmente o campo de Birkenau onde ficavam os alojamentos femininos.
A Lista de Schindler (1993) Baseado em fatos reais. O filme conta a história do empresário alemão que salvou a vida de mais de mil judeus durante o Holocausto ao empregá-los em sua fábrica em Cracóvia. A história começa em 1939 com os alemães realocando os judeus poloneses para o Gueto de Cracóvia. Oskar Schindler chega à cidade com a esperança de fazer uma fortuna, lucrando com a guerra. Membro do Partido Nazista, patrocinado pelos militares e tomando dinheiro emprestado de empresários judeus, ele adquire uma fábrica para produzir panelas para o exército. Schindler contrata judeus poloneses ao invés de poloneses católicos por serem mais baratos (na verdade não recebem nada; os salários são pagos à polícia nazista, a SS). Os trabalhadores da fábrica recebem permissão para sair do Gueto, e um contador judeu falsifica documentos para garantir que cada vez mais pessoas sejam consideradas “essenciais” na fábrica, o que as salva de serem transportadas para campos de extermínio e mortas. O filme, dirigido por Steven Spielberg traz Liam Neeson como Schindler, Ben Kingsley como o contador Itzhak Stern e Ralph Fiennes como o oficial da SS, Amon Göth. O filme termina mostrando uma procissão dos judeus que trabalharam na fábrica de Schindler, cada um colocando uma pedra em uma lápide. Os atores que interpretaram os personagens principais caminham de mãos dadas com o sobrevivente interpretado.
A Lista de Schindler ganhou 7 oscars e é considerado pela crítica especializada como um dos melhores filmes já feitos. Em 2019 completou 25 anos.
Você vai lembrar do filme ao visitar Kazimierz, o antigo gueto judeu e o Museu da Fábrica de Schindler em Zabłocie, além do campo de concentração de Auschwitz. Veja o trailer aqui.
O Pianista (2002) Baseado em fatos reais. O pianista polonês Wladyslaw Szpilman (Adrien Brody) interpretava peças clássicas em uma rádio de Varsóvia quando as primeiras bombas alemãs caíram sobre a cidade, no verão de 1939. Com a invasão nazista e o início da 2ª Guerra, começam também as restrições aos judeus poloneses, como a proibição de andarem nos bondes e pelas calçadas, a obrigação de usar a estrela de Davi nas roupas, a falta de comida e a violência. Inspirado nas memórias do pianista, o filme mostra o surgimento do Gueto de Varsóvia e acompanha a perseguição que levou à captura e envio da família de Szpilman para os campos de concentração. Wladyslaw é o único que consegue fugir e é obrigado a viver escondendo-se dos nazistas em prédios abandonados, praticamente sem água e comida, no rigor do inverno, até que o pesadelo acabe. O filme foi dirigido pelo polonês Roman Polanski.
Polanski viveu no gueto de Cracóvia quando criança e é um dos sobreviventes do holocausto. Seu pai foi mandado ao campo de trabalhos forçados de Mauthausen e também sobreviveu, já sua mãe foi mandada a Auschwitz e foi morta assim que chegou.
Você vai lembrar do filme ao visitar antigo Kazimierz, o antigo gueto judeu em Cracóvia e o Museu da Fábrica de Schindler em Zabłocie. Veja o trailer aqui.
O menino do pijama listrado (2008) Durante a 2ª Guerra Mundial, Bruno, um garoto de oito anos, e sua família saem de Berlim para ir morar ao lado de um campo de concentração, onde seu pai acaba de ser nomeado comandante. Infeliz e solitário, ele sai escondido e vagueia pelos arredores da casa. Certo dia encontra Shmuel, um menino judeu de sua idade. Embora a cerca de arame farpado do campo os separem, os meninos começam uma amizade. Bruno, totalmente alheio à realidade, não entende o que acontece no campo e nem porque Shmuel é tão triste e faminto. Shmuel, por sua vez, acredita que a mãe e a irmã foram apenas enviadas a um hospital para se tratar de uma doença, quando na verdade só o pai segue vivo ali. Um dia seu pai também desaparece e ele então pede ajuda a Bruno para encontrá-lo. Para entrar no campo e passar despercebido, Bruno cava um buraco sob a cerca e Shmuel lhe dá um dos uniformes dos judeus – o “pijama”, que ele então veste. Logo, ambos são conduzidos junto com outros prisioneiros às câmaras de gás, enquanto o comandante do campo procura desesperadamente por seu filho.
Vai lembrar do filme ao visitar Auschwitz e constatar que, realmente, logo ao lado dos pavilhões dos prisioneiros, estavam as casas dos oficiais nazistas. Também verá dentro do Museu fotos das crianças judias junto à cerca de arame farpado do campo. Veja o trailer aqui.
O Zoológico de Varsóvia (2017) Baseado em fatos reais. Jan Zabinski (Johan Heldenbergh) é o responsável pelo zoológico de Varsóvia junto com Antonina (Jessica Chastain), sua esposa. No verão de 1939 a Polônia é invadida e os nazistas ocupam a cidade. O casal se vê forçado a se submeter às ordens do zoologista de Hitler, Lutz Heck (Daniel Brühl), e só conseguem ficar no local porque começam a criar porcos para alimentar as tropas. Enquanto isso, os judeus são confinados no Gueto. Jan e Antonina começam a ajudar a resistência e conseguem esconder e salvar centenas de pessoas. Assim como Oskar Schindler e o farmacêutico Tadeusz Pankiewicz, os Zabinskis receberam a medalha de “Os Justos entre as Nações”. Veja o trailer.
Negação (2017) é um filme baseado em fatos reais. Em 1994 a historiadora e professora universitária Deborah Lipstadt (Rachel Weiss) é processada por difamação por David Irving, um britânico racista e negacionista, e é obrigada a provar no Tribunal de Londres que o holocausto realmente aconteceu. Por mais surreal que possa parecer, isso ocorreu e foi contado por Deborah no livro: History on Trial: My Day in Court with a Holocaust Denier. Algumas cenas foram filmadas em Auschwitz e você vai lembrar do filme quando visitar. Vale a pena ver, principalmente hoje em dia quando o negacionismo e o revisionismo histórico estão se espalhando como erva daninha. Veja o trailer.
O Contador de Auschwitz (2018) O documentário conta a história do julgamento do ex-contador do campo de extermínio de Auschwitz e sargento da polícia nazista, Oskar Gröning. Em 2015, Gröning foi condenado a quatro anos de prisão por cumplicidade no assassinato de 300 mil judeus. Importância: Foi a primeira vez que houve uma sentença determinada sob a lógica de que simplesmente ter servido em um campo de extermínio e ajudado o sistema a funcionar era fato suficiente para condenar alguém pelas mortes ali cometidas. Eva Kor, uma das vítimas de Auschwitz e do Dr Joseph Mengele quando criança, e testemunha no julgamento, faleceu agora em julho de 2019, com 85 anos. Você vai lembrar do filme ao visitar Auschwitz. Veja o trailer aqui.
O Anjo de Auschwitz (2019) Durante a Segunda Guerra Mundial, uma parteira arriscou sua vida para salvar mulheres grávidas e seus bebês recém-nascidos no campo de concentração de Auschwitz. O filme é baseado na história real de Stanislawa Leszczynska, uma polonesa que foi recrutada para trabalhar como para Josef Mengele, um dos nazistas mais terríveis da história, também conhecido como “O Anjo da Morte”. Após a liberação do campo em 1945, Mengele conseguiu fugir do cerco primeiro para a Argentina e depois para o Brasil, onde morreu apenas em 1979, afogado na praia de Bertioga. Ele tinha predileção por gêmeos e estima-se que tenha feito experimentos com cerca de 3 mil gêmeos, dos quais somente 200 sobreviveram. Em meio aos cruéis experimentos do sádico médico, Stanislawa Leszczynska tentou ao máximo salvar bebês e mães e hoje é uma das candidatas a canonização pelo Vaticano. O filme está na Amazon Prime. Veja o trailer aqui
Ver e divulgar esses filmes é mais que necessário, principalmente num momento em que um homem vai a um restaurante em Minas Gerais usando uma suástica no braço, como se isso fosse perfeitamente normal, e o próprio Secretário da Cultura do governo Bolsonaro copia e divulga, em pronunciamento oficial, parte do discurso nazista de Goebbels (Ministro da Propaganda de Hitler).
Nota: no Brasil, fazer apologia do nazismo ou o uso da suástica para fins nazistas é crime, de acordo com a lei n.º 7.716/89 (com alterações da lei n.º 9.459/95), em seu artigo 20: § 1.º – Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
Veja também:
Stare Miasto – A Velha Cracóvia I