Há alguns anos fomos à Grécia e nos apaixonamos pelo país. E como não fazê-lo? Mitologia, arte, arqueologia, ilhas, praias, mosteiros, comida deliciosa…
As ilhas gregas variam muito de tamanho e ao longo dos séculos o mar trouxe consigo invasores e colonizadores, por isso cada uma se desenvolveu com características próprias. Como fomos à Albânia e o sul do país fica pertinho de Corfu, resolvemos não deixar passar a oportunidade de ir dar um “Kalimera” a uma das ilhas mais ecléticas e a mais visitada do arquipélago jônico.









As lendas
Diz a lenda que Posseidon (deus do mar) se apaixonou pela ninfa Kerkyra, filha de Asopos (deus dos rios) e da ninfa Métope. Como os pais eram contra a união, Posseidon a raptou e a levou para uma ilha. Em prova de seu amor, chamou a ilha de Kerkyra (nome grego de Corfu). Já na Odisseia, de Homero, Ulisses naufraga na viagem de volta para casa e vai parar em Corfu, onde é encontrado pela bela Nausica, que o guia até sua casa. A família dela então o ajuda a conseguir um barco para levá-lo de volta à sua a terra natal, a ilha de Ítaca. Diz-se também que o Imperador Alexandre, o Grande, viveu em Corfu na juventude.

Como chegar
A Corfu de hoje é uma cidade multicultural e um grande número de turistas chega todos os dias, muitos de barco, para um bate e volta, como nós. Já havíamos feito um passeio assim pelas Ilhas Argo-Sarônicas (Hydra, Poros e Aegyna) no mar Egeu e dessa vez saímos cedo do porto de Sarandë, na Albânia.








Tomamos café super cedo, compramos o passeio na Finikas Lines (ao lado do terminal) no dia mesmo. De lá partem diariamente os barcos que navegam o Mar Jônico e vão até Corfu levando turistas. Pagamos 19 euros por pessoa por trecho. Dica: chegue com antecedência de pelo menos 30 min. Como a gente estava saindo da Albânia e entrando na Grécia, tivemos que passar pela alfândega no porto e os barcos saem pontualmente no horário marcado. A viagem leva uma hora e meia. Se for no verão (junho/julho/agosto) use roupas leves, um boné ou chapéu, protetor solar e óculos de sol. Fomos em maio e já fazia bastante calor.
Importante: para planejar bem o tempo não esqueça que embora fique pertinho há uma hora de diferença de fuso horário entre Sarandë e Corfu. Na ida adianta-se uma hora, na volta, atrasa-se uma hora.

Na chegada, como tínhamos apenas 8 horas, resolvemos contratar um passeio com um taxi no Porto mesmo, para não perder tempo. Foi uma boa decisão porque a ilha é grande e assim conseguimos ir até o alto da vila de Pelekas e também à linda praia de Paleokastritsa, além de percorrer a Cidade Velha a pé.
A Cidade Velha
Construída no século XIII antes de Cristo e colônia do Império Romano na antiguidade, do séc. XV ao XIX ficou sob o governo veneziano, passando depois para a França, a Grã-Bretanha e finalmente voltando à administração grega em 21 de maio de 1884.



O estereótipo da ilha com casinhas brancas de teto azul é quebrado em Corfu. O fato de nunca ter sido ocupada pelos turcos otomanos, diferente do resto da Grécia, se reflete em sua arquitetura, seus palácios, casarões, igrejas, calçadões, ruelas e becos com cara de Itália. Em suas ruas antigas viveram famosos artistas, cantores, compositores, princesas, poetas gregos, italianos e franceses. Hoje Corfu tem cerca de 40 mil habitantes, sem contar o grande número de estudantes que frequentam a Universidade Jônica e que são moradores temporários.









Patrimônio Mundial pela UNESCO, o centro velho tem muitas galerias com lojinhas de souvenirs e roupas e, no verão, inúmeras sorveterias. Ele guarda uma certa semelhança com o Plaka, o centro de Atenas, pois reúne inúmeras ruazinhas de comércio para comprar de tudo um pouco ou comer nas tabernas típicas. Locais e turistas circulam por lá o tempo. É onde você vai apreciar a cidade realmente viva!

Ágios Spyrídion
Entramos na Cidade Velha pelo Liston, um boulevard de pedestres em estilo francês que imita a rue de Rivoli, construído em 1814. Próximo do Liston, está a Catedral Ortodoxa de Ágios Spyrídion (São Espiridião), o padroeiro de Corfu. Dentro está o corpo mumificado do santo que morreu em 349 depois de Cristo e a quem muitos milagres foram atribuídos, inclusive o de ter salvo a cidade de epidemias, da fome e da invasão turca em 1716.

Nikifórous Theotóki
Nas ruas estreitas da Cidade Velha, as chamadas kantounia, você vai notar que os moradores penduram suas roupas nos varais que atravessam o céu e embaixo, vendedores e artesãos se escondem no labirinto de casas. Essa região pitoresca fica em volta da rua Nikifórous Theotóki, a principal delas.

Corfu é o único local da Grécia que, como na Itália, os moradores têm hábito de estender roupas lavadas do lado de fora da janela ou espalhar varais de uma varanda para outra.


Plateia Iroon Kipriakou Agona
Ágora era o nome que se dava às praças públicas na Grécia Antiga. Nestas praças ocorriam reuniões onde os gregos, principalmente os atenienses, discutiam assuntos ligados à vida da cidade (pólis). As assembleias aconteciam na Ágora e os cidadãos podiam decidir sobre temas ligados a justiça, obras públicas, leis, cultura, etc., através do voto direto. Também era um espaço público de debates e possuía finalidades religiosas (eventos, cerimônias) e econômicas (negociações, acordos econômicos, comércio de mercadorias, etc).

Remanescente das antigas ágoras, a Plateia Iroon Kipriakou Agona é uma praça com edifícios imponentes e bem preservados, como a Prefeitura e o Museu do Banco Jônico. Paramos ali em busca de uma sombra para tomar nosso sorvete.


A Comida
Em Corfu a comida é boa, mas bem carinha. Para entender bem o que vai comer e checar os preços a dica é dizer: “Katálago Anglika Parakalos” – Menu em inglês por favor!


Há opções para todos os gostos, desde os souvlakis (espetinhos) ou o spanakopita (empadão de massa folhada com espinafre e queijo feta) à salada grega . Os pratos típicos da ilha tem influência italiana, como era de se esperar: sofrito (carne temperada com alho, cozida em molho branco e servida com macarrão ou batata-frita) e a pastitsada (carne ao molho de tomate com macarrão). Além disso, por ser um ilha, tem muito peixe! Outro destaque são as azeitonas, produzidas na ilha.




O sorvete em Corfu é um capítulo à parte. Os sabores são deliciosos e a apresentação é incrível! Dá vontade de lamber as vitrines! É certo que não são muito barato, mas valem cada centavo.




Paleopolis
Fomos com nosso taxista, o Niko, até o Palácio Mon Repos, antiga residência da família real grega. Foi ali que o Príncipe Phillip, marido da Rainha Elizabeth II, nasceu, em 1921. (Quem assistiu a série The Crown vai lembrar). Historiadores dizem que a antiga cidade de Corfu ficava nesse local. Ela é chamada de Paleopolis (cidade velha em grego) e ainda há ruínas arqueológicas que se pode visitar. O palácio foi transformado em museu e tem um acervo de objetos do século XIX e uma exposição da história de Corfu. Não tivemos tempo de fazer a visita, mas valeu a parada.



Pelekas
Pelekas é uma aldeia rodeada de oliveiras, construída sobre uma rocha com 270 metros de altura, na costa ocidental de Corfu. Dizem que era o lugar preferido do Imperador Guilherme II para as suas caminhadas e para admirar a vista. Lá em cima fica o chamado “trono do kaiser“, o famoso lugar onde o Imperador adorava ir meditar. Fomos até lá com o Niko, que fez uma paradinha numa loja local para experimentarmos o azeite e as azeitonas da região e também comprar algumas lembrancinhas.




A noção de luxo é muito subjetiva e depende dos valores de cada um. Se no mundo capitalista de hoje muita gente associa luxo à joias, roupas de marca e casas com mais cômodos do que realmente necessitamos, para nós, luxo é poder admirar livremente belezas como essa!
Paleokastritsa
Mais ao norte da ilha fica a linda baía de Paleokastritsa. Lá visitamos o mosteiro de Theotokos Paleokastritsa, que é de 1228. Ele é pequeno e bem preservado. A manutenção é feita há séculos pelos fiéis da irmandade das aldeias de Lakones, Krini, Makrades e Liapades. Ele fica no alto do penhasco e tem-se uma linda vista das rochas caindo sobre o mar.





Descendo de volta à costa, ficam seis pequenas praias (muito lindas, mas a maior parte com pedrinhas em vez de areia). Segundo o Niko, é um dos lugares mais procurados pelos veranistas, mesmo na primavera quando o mar de Corfu é considerado frio, com temperaturas entre 15°e 20°.




Panagia Vlacherna
O mosteiro de Panagia Vlacherna ao sul da Cidade Velha é um ícone de Corfu. É pequeno, mas fica em plena baía e o lugar é muito bonito. A ilha também tem um aeroporto e uma das atrações é ir até lá para ver os aviões passarem literalmente, por cima das nossas cabeças. Fizemos isso com o nosso guia e aproveitamos para tomar mais um sorvete no The Royal depois de ver o mosteiro.







Spilia
A região da costa entre o Forte e o Porto é agradável para passear também, chama-se Spilia. Fomos caminhando por ela até o nosso barco no retorno. São 3 km. Parecia menos e confesso que foi um pouco cansativo, mas depois que já tínhamos andado meio caminho, nos pareceu besteira pegar um taxi.



Muita gente nos diz: nossa como é que vocês ficaram sabendo disso? É muito fácil, estudamos muito antes de viajar! Viajamos pra gostar dos lugares e não para nos decepcionar com eles. Viajamos para aprender, para entender e criar laços com o lugar, com a cultura, com a língua, com a música, com a comida… e trazer na bagagem memórias vivas.
E assim terminou nosso dia em Corfu. Foi rápido, mas valeu para matar a saudade e sentir de novo o gostinho da Grécia!
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