No Centro Velho do Porto é que estão os principais monumentos históricos, igrejas e museus e foi por lá que nos embrenhamos num passado distante e grandioso. Prepare-se para essa viagem!
O tempo, como o mundo, tem dois hemisférios: um superior e visível, que é o passado. Outro inferior e invisível, que é o futuro. No meio de um e outro hemisfério ficam os horizontes do tempo, que são estes instantes do presente que imos vivendo, onde o passado termina e o futuro começa” (Padre Antônio Vieira – História do Futuro, 1664)
Igreja do Carmo
Na Freguesia de Vitória, entre a Praça de Carlos Alberto e a Rua do Carmo, perto da Torre dos Clérigos, fica a famosa Igreja do Carmo. Essa foi nossa primeira parada, tão logo nos instalamos! Seu nome completo é Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo e é um dos principais pontos turísticos da cidade, adivinhem por quê? Quem respondeu “azulejos” acertou em cheio! Assim como a Estação de São Bento por dentro, ela é decorada por magníficos painéis de azulejos – só que por fora! A fachada é em estilo barroco, toda em pedra e muito imponente, mas o que chama mesmo a atenção é o paredão lateral.
Curiosidade: A Igreja do Carmo não é toda aquela construção. Na verdade há ali duas igrejas geminadas. A que tem a torre do sino é a Igreja dos Carmelitas Descalças, do século 17 – a mais velha delas. Mas por que duas igrejas? Uma era para o culto das freiras e a outra para os monges – que não podiam se misturar! Se você olhar de perto vai notar uma junção de pouco mais de um metro de largura. Esse corredor separava as duas igrejas e mais tarde, coberto, tornou-se a casa do zelador do complexo.
Passeio de Bonde (Porto Tram)
O bonde existe no Porto desde 1895 e era um meio de transporte bem característico da cidade, muito utilizado no passado pela população, circulava por grande parte do Porto e de Vila Nova de Gaia. Um passeio no tempo! Uma volta dura aproximadamente 50 minutos e vai de um lado ao outro do centro histórico. O nº 22 (Linha Baixa – entre o Carmo e Batalha) para quase em frente à Igreja do Carmo as 09:15 (primeiro horário). Ele passa por vários dos principais pontos turísticos e dá uma boa ideia das distâncias de um para o outro. Sugerimos fazer o passeio no primeiro dia para situar-se logo de cara. A passagem nos custou 2,50 euros por pessoa. (Saiba mais sobre os passeios de bonde aqui.)
Curiosidade: quando chega ao final da rota, o condutor retira seu assento e volante e vai para a outra extremidade do bonde – e todo mundo vira seus assentos para o outro lado para continuar o passeio!
Universidade do Porto
A Universidade do Porto é pública e foi fundada em 22 de março de 1911. É a segunda maior universidade portuguesa por número de estudantes, ficando atrás somente da de Lisboa. Ela fica em frente à Praça de Gomes Teixeira (que tem esse nome justamente em homenagem a Francisco Gomes Teixeira, o primeiro reitor – 1911 a 1917). Ela também fica quase em frente à Igreja do Carmo. Estava fechada quando passamos por lá, mas pudemos admirar a fachada e ver o vestíbulo, onde uma placa em homenagem aos estudantes mortos durante a Ditadura de Salazar nos chamou a atenção.
Dica: Se quiser saber mais sobre a Ditadura Portuguesa recomendamos o filme Capitães de Abril, sobre o qual já falamos aqui no Blog no post Portugal no Cinema
Livraria Lello
Uma das mais famosas atrações do Porto, a Livraria Lello é também a mais penosa de todas! Mais que subir os 240 degraus da Torre dos Clérigos… mais que subir a pé toda a Avenida 31 de Janeiro de São Bento à Praça da Batalha… É preciso paciência de Jó e fôlego de Hércules! Logo no primeiro dia, assim que almoçamos, fomos dar uma volta e passamos frente a ela na Rua das Carmelitas – quer dizer – passamos frente às centenas de pessoas na fila para visitá-la. Assim, resolvemos que no dia seguinte iríamos ser os primeiros da bicha! Como a bilheteria abre às 09:00, as 8:45 estávamos lá – e já havia fila! Mas não era tanta gente para comprar a entrada… Entretanto, uma segunda fila, imensa, já estava se formando para entrar na Livraria propriamente dita. Então o Ede foi para a fila da entrada e eu fiquei na dos bilhetes. 30 minutos depois estávamos com o ingresso na mão – agora os dois na gigantesca fila da entrada. 50 minutos depois chega a nossa vez de entrar juntamente com uma manada de outros turistas de todos os tamanhos e cores.
Realmente, uma vez lá dentro ela é impressionante e não me admira ter servido de inspiração para Harry Potter – é um sonho! (Mas pode virar um pesadelo se você mal puder se mexer… Selfies? Sim, centenas. Boas? Sorte se uma se salvar no mar de corpos!) Enfim, é só para os fortes. O ingresso custa 5 euros e se você comprar um livro o valor é descontado da compra.
Curiosidade: a Livraria Lello foi a primeira editar um livro de Eça de Queiroz! Seu fundador, o francês radicado no Porto, Ernest Chandron, recebeu de José Maria Teixeira de Queiroz os manuscritos do filho, Eça, que viria a se tornar um dos maiores ícones da literatura portuguesa.
Torre dos Clérigos
A Torre dos Clérigos é um dos mais belos templos do estilo barroco, símbolo do Porto e monumento nacional de Portugal. Inaugurada em 1763, ela tornou-se o campanário mais alto do país, com mais de 75 metros e levou 10 anos para ser construída. A igreja contígua é ainda mais antiga, pois foi construída entre 1732 e 1749. As exposições permanentes permitem descobrir a história da Irmandade dos Clérigos, admirar peças do século XVIII ao XIX, coleções de pintura, mobiliário, joalheria e paramentos religiosos. A visita completa custa 5 euros e inclui a Torre e a Igreja.
Se não quiser pegar uma fila de meia hora ou mais, chegue cedo! Chegamos às 09:00 e havia apenas 4 pessoas na nossa frente. Assim a visitamos com tranquilidade. (Passando por lá na parte da tarde, entretanto, vimos filas enormes). Ah, não se assuste com os 240 degraus. Boa parte é no trajeto dentro da igreja até chegar na torre e há algumas paradas no caminho para descansar antes de chegar ao topo. A vista lá de cima é sensacional!
“A Torre é um dos maiores obeliscos que serve de balisa, ou marca, para dirigirem por ele todas as embarcações que entram na barra do Rio Douro” (Padre Agostinho Rebelo da Costa – 1788)
A Sandería do Porto
Em Portugal sanduíche é uma palavra feminina (diz-se “a sanduíche”) e é comumente chamado apenas de “sandes”. Depois de visitar a Torre dos Clérigos e arredores, descobrimos a Sandería do Porto, da qual já havíamos ouvido falar, na rua dos Caldeireiros nº85 – apenas uma portinha em um dos antiquíssimos edifícios ali. Como estava cheia, esperamos do lado de fora a nossa vez de entrar e não nos arrependemos! Sanduíches gourmet, grandes, com ingredientes de primeira e feitos na hora, por apenas 4,90 euros cada um! Eu pedi o Clérigos (pasta de azeitona preta, queijo feta, tomate e manjericão fresco) e o Ede optou pelo Douro (frango, queijo de cabra e maçã). Tomamos ainda uma limonada e um copo de vinho tudo saiu por 15 euros!
Miradouro da Vitória
Para outra bela vista do Porto, saindo dos Clérigos, na esquina do lindo edifício do Centro Português de Fotografia fica a rua de São Bento da Vitória. Seguindo por ela chega-se ao Miradouro da Vitória, de onde se tem uma boa vista da Sé do Porto, do Palácio Episcopal e da Ribeira. A ruazinha também é preciosa – antiquíssima! Adoramos passear por ela.
Largo de São Domingos
Descendo as escadarias do Miradouro da Vitória em direção à cidade baixa, passamos pelo Largo de São Domingos, onde restaurantes, hotéis e lojas mais recentes convivem com negócios centenários que são autênticos museus, como a Farmácia Moreno que funciona ali desde 1804. A zona recebeu uma injeção de vitalidade há alguns anos com a renovação de vários edifícios. Se tiver tempo para visitar, no largo também fica o Palácio das Artes que recebe exposições internacionais importantes, como obras inéditas de Picasso. Foi muito gostoso perambular por lá!
Praça Almeida Garret e Igreja dos Congregados
Na Praça de Almeida Garrett, bem ao lado da estação de São Bento fica a bonita Igreja dos Congregados. Ela foi construída em 1703 onde anteriormente já existia uma capela dedicada a Santo Antônio, datada de 1662. A fachada, azulejada e com grandes janelões, chama a atenção. Não entramos por falta de tempo, mas a admiramos muito por fora.
Estação de São Bento
Sabíamos que a arte em azulejos é marca registrada de Portugal, mas, mesmo tendo visitado outras 13 cidades no país, nunca havíamos visto nada como a Estação de São Bento. A história do norte de Portugal é contada nos painéis e o conjunto todo é realmente de cair o queixo! São 551 metros quadrados de azulejos decorados!
Admiramos cada um deles demoradamente para conhecer sua história, como a apresentação de Egas Moniz com os filhos ao Rei Afonso VII de Leão e Castela no século XII, a entrada de D. João I e de D. Filipa de Lencastre no Porto em 1387, a conquista de Ceuta pelo Infante Dom Henrique em 1415, além das cenas bucólicas da vida no campo. Um friso colorido no átrio dedica-se à história dos transportes em Portugal, concluindo com a inauguração das estradas de ferro. Chegamos à tarde e voltamos no dia seguinte pela manhã, pois a vista é melhor com o sol batendo nos vitrais.
Além das cenas representadas nos painéis, uma outra, mais atual e viva, nos chamou a atenção: dois garotos de cerca de 9-11 anos, admirando os azulejos, tão boquiabertos como nós. Isso nos encheu ainda mais de alegria – poder ver essa magnífica obra também encantando as novas gerações.
Mesmo que você não vá pegar um trem, passe por lá somente para ver algo diferente e lindo. E, se estiver vindo de outra cidade e desembarcando lá, não tenha pressa de sair da Estação – um dos melhores passeios é exatamente esse!
Igreja de São Francisco
A Igreja de São Francisco é uma igreja gótica que começou a ser construída no século XIV na freguesia de São Nicolau, no centro histórico – pertinho do Palácio da Bolsa. Ela era parte de um convento franciscano e é famosa pelo seu interior barroco todo dourado – de cima a baixo! Há também inúmeras obras de arte, que fazem dela um monumento nacional.
Além do maravilhoso retábulo, o que mais nos chamou a atenção foi a gigante Árvore de Jessé (a árvore genealógica de Jesus) – que não se vê tão frequentemente nas igrejas, por ser do velho testamento. É realmente um incrível trabalho de arte em madeira. Jessé aparece reclinado, com uma árvore crescendo do seu corpo, onde os antepassados de Jesus, os 12 reis de Judá, formam parte dos galhos. Pena que não permitem fotos lá dentro, pois o lugar é de tirar o fôlego. (A foto acima, retratando a árvore, é uma foto oficial da Ordem de São Francisco.)
Após ver a Igreja do Carmo e a de São Francisco, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que a primeira é a mais incrível por fora, enquanto a segunda é a mais estonteante por dentro.
Palácio da Bolsa
O Palácio da Bolsa, ou Palácio da Associação Comercial do Porto, é um edifício de estilo neoclássico que começou a ser construído em 1842, na Rua Ferreira Borges, e é uma atração realmente imperdível. Já na entrada a gente fica pasmo com a beleza do Pátio das Nações e só o Salão Árabe (de 1880, luxuosamente decorado com base no Castelo de Allambra, na Espanha) já justifica a visita, pois é mesmo estonteante!
Sabíamos que era preciso ir cedo para garantir a entrada para o mesmo dia, assim, fomos logo pela manhã e agendamos nossa visita para as 18:00 (em espanhol mesmo – que era o que havia disponível). É importante lembrar que não é possível entrar sem fazer parte do grupo de visita guiada. Há visitas em várias línguas em horários diferentes – assim, organize-se! Uma boa opção é comprar pela internet e só trocar o voucher pelo ingresso na hora – vai ter que ficar na fila até o guichê, mas o lugar estará garantido para o dia e horário que escolheu. A entrada custa 10 euros. Confira os horários aqui.
Sé do Porto
Um dos principais cartões postais do Porto, a Catedral da Sé, ou Igreja de Nossa Senhora da Assunção, é mais que uma igreja, é todo um complexo. Parada obrigatória para qualquer turista no Porto, é preciso ir com tempo, pois a visita exige pelo menos umas 2 horas e, se como nós, você ficar hospedado em Vitória, vai precisar enfrentar uma boa subida até ela.
Logo na chegada uma rampa leva até a entrada, onde está a estátua de Vímara Peres, um guerreiro cristão nascido em Astúrias, na segunda metade do século IX, que, à mando de Afonso III, reconquistou todo o vale do Douro, que havia sido invadido pelos mouros (muçulmanos). Em seguida chega-se à Catedral. A visita é gratuita e somente para acessar o enorme claustro é que cobra-se 3 euros por pessoa – mas vale a pena! É muito bonito, todo decorado com painéis de azulejos e muito bem preservado.
Erguida como igreja-fortaleza nos séculos XII e XIII, a Catedral foi modificada várias vezes. A linda rosácea na fachada é do séc. XIII e a pequena capela à esquerda do coro tem um retábulo de prata trabalhado, salvo das tropas francesas durante a invasão de Napoleão por uma parede erguida às pressas.
Depois da visita, ainda há o chamado terreiro da Sé, onde fica uma bela coluna em estilo manuelino e de onde se tem uma vista incrível da cidade, pois ao final do calçadão a mureta funciona como um miradouro.
Ainda no terreiro da Sé, logo ao lado da Catedral, fica o Palácio Episcopal, a antiga residência dos bispos, hoje aberta à visitação. Aproveitamos para ver também e realmente, sabiam viver os tais bispos! Muito luxuoso por dentro. A entrada custou 3 euros.
Igreja de São Ildefonso
Saindo da Estação de São Bento e subindo a Avenida 31 de Janeiro até o topo, paramos para admirar a linda Igreja de São Ildefonso, na Praça da Batalha. Construída em 1730, ela é toda decorada de azulejos por fora, como a Igreja do Carmo, mas é pequenina e singela. São cerca de 11.000 peças que decoram a fachada e as torres com cenas da vida de Santo Ildefonso de Toledo. São de autoria de Jorge Colaço (o mesmo dos azulejos da Estação de São Bento). Essa tornou-se a minha preferida!
Café Santiago
Depois de um dia longo e já morrendo de fome fomos atrás da mais famosa “francesinha” da cidade, um sanduíche com bife, salsicha, linguiça e presunto, coberto por queijo derretido, ovo frito, um molho delicioso e picante que leva cerveja e vinho do porto, acompanhado de batata frita.
O Café Santiago, fundado em 1959, é um lugar simples mas muito concorrido, sendo frequentado tanto por turistas como por locais. As francesinhas lá são bem gostosas e grandes, por isso, vale a pena pedir uma para dividir se não estiver realmente faminto! Outra alternativa é, como nós fizemos, pedir uma francesinha e um cachorro Santiago especial, que é o cachorro quente coberto com queijo e molho.
Quando fomos havia ao nosso lado uma família de franceses (um casal e três crianças – duas meninas de aprox. 5 e 7 anos e um bebê de colo). Eles estavam quase pedindo 4 francesinhas quando (mesmo com o Ede me chutando as canelas por debaixo da mesa) eu os avisei que talvez fosse muita comida, pois os lanches são mesmo enormes e o molho é apimentado – certamente as garotinhas não os comeriam inteiros. O casal agradeceu muito e alterou o pedido, mas a garçonete me olhou como se quisesse me matar! Conclusão: nada de gorjeta.
De qualquer forma o lanche vale a pena, pois é bem gostoso, gigante e custa 9,75 euros (o cachorro especial custa 6,50). O restaurante ainda serve o “Prego” – o tradicional pão com bife. O Santiago fica na rua Passos Manuel, 226, próximo da Praça da Batalha.
E no próximo post nós descemos para a beira do rio Douro, atravessamos a Ponte Dom Luís I e exploramos o lado de lá! Confira Cais da Ribeira e Vila Nova de Gaia!
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