
O Velho e o Mar traz muitas referências de sua vida em Cuba (o escritor viveu na ilha até 1960). Ao ler o livro novamente, com isso em mente, percebe-se claramente a influência do país em sua escrita.
O livro conta a história de Santiago, um velho pescador cubano. Após 84 dias sem conseguir uma presa, mas motivado por um jovem companheiro a continuar tentando, o velho pesca um descomunal peixe Marlim de quase 700 quilos. Depois de horas de luta, Santiago consegue atracar a presa a seu barco e parte para a costa. Ao chegar em terra, constata que o peixe fora devorado no trajeto, sobrando apenas sua carcaça. As relações autobiográficas são várias. Diz-se inclusive que o velho Santiago foi inspirado em Gregorio Fuentes, amigo do autor e capitão do seu barco de pesca, Pilar. Como o personagem, o companheiro de pescaria do escritor era experiente, magro, tinha olhos azuis e nasceu nas Ilhas Canárias.
O livro foi sua última grande obra de ficção publicada ainda em vida. Quando Hemingway enviou os originais ao seu editor, anexou um bilhete em que dizia: “Eu sei que isso é o melhor que posso escrever na minha vida toda”. E não estava enganado. Publicado no dia 1º de setembro de 1952, ele garantiu o Pulitzer ao autor em 1953 e, no ano seguinte, o Prêmio Nobel de Literatura.
Hemingway amava Cuba e assim como Santiago foi derrotado pelo destino no livro, também o escritor sentiu-se assim em seus últimos anos de vida. Em entrevista ao The New York Times em 1999, seu filho, Patrick Hemingway, disse que deixá-la foi um dos motivos da depressão do pai, que culminou em seu suicídio em 1961.
Ele costumava dizer que “Todos os bons livros se parecem: são mais reais do que se tivessem acontecido de verdade” e pode-se sentir isso visitando a sua ilha, vendo-a sob seu ponto de vista.
O lugar é muito bonito e bem preservado. A casa térrea (com cerca de 300 m2) e a torre estão completas, com os cômodos decorados com seus livros, objetos, seus troféus de caça, sua máquina de escrever…
Lá também está o “Pilar”, seu barco feito todo em madeira, e os túmulos de seus cães, Nerón, Negrita, Black e Linda. Os funcionários são atenciosos e conhecem muito da história pessoal do escritor. Faça perguntas! Os cubanos adoram poder contar as histórias dele e sua terceira esposa, Martha Gellhorn.
A influência de Cuba em Hemingway não foi menor que a do escritor na ilha. Seus livros são vendidos em lojas oficiais do governo, seu nome batiza drinks e a chácara se tornou um dos museus mais visitados do país. Vale lembrar que a atração fica fora de Havana (Carretera Central Km 12.5, a 20 min de carro do centro da cidade). Fomos de táxi saindo de Habana Vieja e pagamos 30 CUC. Foi um excelente passeio!Dica de filmes:
Papa, Hemingway em Cuba (2015)
Primeiro filme de Hollywood rodado em Cuba desde a revolução de 1959, a obra retrata o período em que o escritor norte-americano viveu na ilha entre 1939 e 1960. O filme conta a história verídica de um jovem repórter, amigo de Mary e Ernest Hemingway, que convive com o escritor, tornando-se quase um filho nos últimos dois anos em que Hemingway viveu em Cuba. Através do olhar desse jovem, podemos ver um lado privado e pessoal do escritor que ele não deixava que o público conhecesse, além de sua muito provável relação com a Revolução.
Hemingway & Gellhorn (2012)
A jornalista e correspondente de guerra Martha Gellhorn foi a 3a mulher de Hemingway. Logo após se conhecerem, ele ainda casado, ambos partem para a Espanha. Ela para cobrir a guerra civil e ele para produzir um filme pró-republicano. Ali iniciam um romance e na volta vão morar na Finca Vigía. Casados, Martha segue sua carreira cobrindo a guerra russo-finlandesa, a guerra entre o Japão e a China e a liberação de Dachau e de Auschwitz na 2a Guerra. O relacionamento de 5 anos deteriora e, quando retorna da Europa, ela pede o divórcio. Anos mais tarde Hemingway comete suicídio. O foco não é literário, embora algumas obras do escritor sejam citadas, como Adeus às Armas e Por Quem os Sinos Dobram.
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Callejando por la Habana Vieja I